Paulete Almeida: arquiteta acredita na era colaborativa
Em um grupo de WhatsApp, arquitetos, designs e outros profissionais da área trocam ideia, indicam bons profissionais, divulgam novas técnicas e tiram dúvidas para elevar a qualidade das obras
Depois de 18 anos atuando profissionalmente na Região Serrana do Espírito Santo, a arquiteta Paulete Almeida resolveu que queria fazer mais. Comunicativa, ela transformou o seu hábito de trocar ideias com os colegas de profissão em um grupo de WhatsApp para compartilhar informações. A ideia, explica, é elevar o nível das obras, estimular boas práticas construtivas e indicar os prestadores de serviço bem avaliados, como gesseiros, vidraceiros, pintores, dentre outros fundamentais para o andamento das obras.
Atualmente 52 profissionais que atuam ao longo do eixo da BR-262, de Marechal Floriano a Brejetuba, e de Afonso Cláudio, fazem parte do grupo. “Sempre que um de nós se depara com desafios pode recorrer ao grupo. Alguém que passou por situação semelhante vai ter uma dica para compartilhar. Isso também acontece quando conhecemos ou desenvolvemos alguma técnica específica que vai auxiliar a prática profissional. Acreditamos que todos ganham com isso: os profissionais, os clientes e a cidade, pois entregaremos obras melhores, com mais qualidade”.
Paulete, assim como outros colegas, tem muitas ideias acerca do futuro da arquitetura, mas uma coisa é certa: ela deve evoluir juntamente com todas as tecnologias, visando, sobretudo, à eficiência. “Aqueles que só sabem atuar de forma individual vão ficar para trás. Não há espaço para vaidade - a nova era deverá ser colaborativa. O arquiteto precisa se adequar a essa nova realidade, pois os clientes estão, atualmente, mais exigentes e participativos nas decisões. Claro que seu instinto primordial será conceber e projetar sozinho, mas, se assim o fizer, estará limitando sua própria capacidade de crescimento”.
Através do coletivo é possível obter diferentes pontos de vista sobre um problema e, assim, as respostas mais rápidas e eficazes surgem. Ouvir outras pessoas não é garantia de sucesso, porém, com a colaboração de outros, os arquitetos podem descobrir melhor quais as reais necessidades de seus clientes e gerar trabalhos que se relacionem adequadamente com o meio.
Tudo mais funcional para uma população que está envelhecendo
Uma das observações de Paulete é acerca do envelhecimento da população brasileira. “Dentro dessa realidade, precisamos construir ambientes, edifícios e cidades, além de mais belos, funcionais, onde a arquitetura sustentável e a mobilidade urbana têm papel de destaque. Esse tipo de solução tem origem não apenas em ideias individualistas, mas pensadas de forma coletiva. Como exemplo, cito que temos que ter consciência do papel das calçadas, que devem ser uniformes e livres, para que o urbanismo cumpra o seu papel de facilitar a mobilidade urbana”.
Paulete ressalta que, muito além de trocar dicas para ajudar no andamento das administrações de obras ou de otimizar os projetos, se faz necessária a conscientização do papel dos arquitetos e dos profissionais da construção do quanto as obras impactam no dia a dia da população. “O urbanismo tem papel fundamental. Ambientes domésticos e profissionais melhores pensados vão permitir um dia a dia melhor para as pessoas que, ao porem os pés fora de casa, vão passar por calçadas confortáveis e por ruas e alamedas com verde e entre fachadas que tornem o ir e vir mais agradáveis”.
Para a arquiteta o poder das parcerias faz crescer o reconhecimento da importância dos profissionais, mas que isso é secundário. “Precisamos falar de nossas cidades, que cada vez têm menos casas, que quando são construídas têm muros muito altos. Será que não existem outras propostas que confiram proteção, mas que não transformem as obras em verdadeiros 'fortes'? Passamos pela rua e não enxergamos mais as casas. Muitas vezes, ser vista dá mais proteção do que estar escondida”.
A profissional ressalta que a valorização de algumas características construtivas no interior impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas e que, em Pedra Azul e Venda Nova, por exemplo, as relações continuam sendo de proximidade. “Vivemos no interior, onde as pessoas se conhecem. Além do sentimento de pertencimento, os relacionamentos significam proteção e aconchego. Não podemos perder isso de vista na hora de fazer projetos e orientar as construções”.
Venda Nova e Pedra Azul compõem uma região turística, de uma beleza natural inigualável e são formadas por uma população caprichosa. “Meu sonho é tornar esses dois lugares numa Gramado. Temos o agroturismo e muitos atrativos, características que associadas a um urbanismo de qualidade, tornaríamos a região imbatível”.
E, para a profissional, virar as costas para o moderno tecnologicamente está fora de cogitação. “Incluir jardins, gradis e outros elementos que conectem com a cultura dos imigrantes europeus não dispensa o uso das novas tecnologias na construção, tanto em materiais como em prática.
“Cabana Refúgio”, um exemplo de como podemos unir tradição e inovação
Sob curadoria de Paulete, foi concebido a “Cabana Refúgio”, um projeto modular de 36m², que foi um dos destaques da Feira Espírito Madeira – Design de Origem 2024, que aconteceu do dia 7 a 9 de novembro, no Centro de Eventos Padre Cleto Caliman, em Venda Nova. O projeto propõe uma construção prática, rápida e esteticamente agradável, ideal para pousadas, locações em plataformas como AirBnB ou mesmo moradias de fim de semana nas Montanhas Capixabas.
“A Cabana Refúgio é um exemplo de como podemos unir tradição e inovação. As construções em madeira têm uma longa história na nossa região, e este projeto resgata esse valor, ao mesmo tempo que apresenta uma solução moderna e eficiente para as demandas atuais”, ressalta Paulete.
Paulete explica que a proposta da “Cabana Refúgio” une funcionalidade e design. “Com um layout que inclui quarto/sala, banheiro e uma cozinha de apoio, o módulo foi inteiramente construído em madeira e utilizou tecnologias modernas. As escolhas eliminaram a necessidade de alvenaria, reboco e pintura, facilitou a montagem e reduziu os custos de mão de obra, um recurso cada vez mais escasso. Trata-se de uma solução para quem busca praticidade e rapidez, sem abrir mão da beleza e da integração com a natureza”.
Além da praticidade, o projeto destaca o uso de materiais sustentáveis e resistentes, como as amplas esquadrias de madeira e vidro que proporcionam a sensação de amplitude e integram o ambiente externo à cabana. “Essa ideia de trazer a natureza para dentro é uma tendência que vem ganhando força, especialmente nas regiões de montanha. As pessoas querem conforto termoacústico e uma conexão direta com o meio ambiente”, acrescenta a arquiteta.