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Coral Santa Cecília 80 anos: com as portas abertas para a juventude vendanovense

Coral Santa Cecília 80 anos: com as portas abertas para a juventude vendanovense

O coral mais antigo em atividade no Espírito Santo se movimenta para se renovar, ampliar sua atuação e atrair novos membros

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No próximo mês de dezembro, o Coral Santa Cecília estará completando 80 anos de atividade. O movimento musical e dramático, que nasceu com o propósito de cantar as missas dominicais de Venda Nova, trabalha para ampliar o seu repertório, se adequar juridicamente para pleitear recursos de leis de incentivo à cultura e, principalmente, para atrair jovens para compor o seu quadro.  

Dentro das comemorações dos 80 anos, o Coral fará um espetáculo na noite de 12 de dezembro, no Centro Cultural Máximo Zandonadi, com a promessa de envolver e interagir com o público, que fará parte do show. Conforme relata Alexandre Zambon Bergamim, atual presidente do Coral Santa Cecília, a forma como o espetáculo vai acontecer é um segredo e promete surpreender quem for prestigiar e ao mesmo tempo fazer uma imersão musical.

Quem está liderando essa missão inovadora do espetáculo e do novo momento do Coral é o maestro e produtor musical Inárley Carletti. “Vai ser uma grande surpresa. Ninguém imagina o que vai vivenciar ao comparecer ao espetáculo”. E, apesar de não poder revelar o que vai acontecer na noite de 12 de dezembro, Inárley adianta que o Coral vai apresentar um repertório completamente novo, que levará o público a viajar do clássico ao moderno. Queremos encantar de um modo geral e, principalmente, instigar o público jovem”

Inárley espera, a partir desse espetáculo, atrair jovens para se integrarem ao coral. E, é claro, várias personalidades que ajudaram ao Coral nessa caminhada de oito décadas serão homenageadas. “Temos que reverenciar os que estão nos pilares do Coral e, aos 80 anos, abrir as portas para a juventude vendanovense. É desse frescor que depende a continuidade do Coral. Temos projetos e vamos trabalhar ano que vem para fazer turnê pela Itália, pela Áustria e pela Eslováquia”.

Essa renovação tão necessária foi reconhecida pelo jovem coralista Alexandre. Quando Inárley foi contratado (via recursos do Sicoob Sul-Serrano) o  presidente pediu a ele para mostrar que o Coral era capaz de cantar outras canções para em um segundo momento atrair novos integrantes, que não queriam cantar somente um repertório religioso.

Dentro dos desafios propostos ao maestro, foi criar um repertório e um espetáculo para comemorar os 80 anos do Coral e também movimentar vocalmente os integrantes. “O Coral Santa Cecília nunca teve um trabalho vocal. Todo músculo precisa ser exercitado para que a pessoa possa colocar para fora toda a sua potência musical. Como a maioria das vozes é de pessoas bem maduras, o seu potencial está em declínio, o que exige um trabalho mais intenso”.

Inárley fala de uma resistência ao novo que está sendo vencida, pois os membros do Coral perceberam a necessidade de mudanças, tanto na rotina, quanto em ampliação de projetos e a adesão de novos membros para suprir as lacunas apresentadas. “Existe um hiato de 40 anos entre as gerações de integrantes. Dentre os pioneiros, os mais novos têm mais de 60 anos, enquanto o mais novo tinha pouco mais de 20. Neste período que estou fazendo este trabalho entrou alguns jovens, com menos de 18 anos”, disse sobre a renovação ainda tímida.

Também pensando no futuro, Inárley trabalha na formação de seis novos maestros entre os membros do Coral. Nesse grupo tem mulheres, sendo que o aluno mais novo tem 22 anos e o mais  velho já ultrapassou os 50. Esse curso de regência veio para que os novos projetos tenham como ser continuados depois que Inárley concluir o seu trabalho.

 

Readequações em busca de novas oportunidades

Para possibilitar que o Coral Santa Cecília tenha acesso aos editais culturais e também aos programas de captação de recursos dos governos do Estado e Federal, a atual diretoria promoveu modificações no estatuto e na razão social da entidade. Em razão de um coral do Sul do Brasil, que existe há mais de 100 anos, se chamar Santa Cecília, a Escola Musical e Dramática Santa Cecília está mudando seu nome e passará a ser reconhecido juridicamente como Compagnia Vocale Delle Montangne.

A Compagnia Vocale Delle Montangne, além de ter que contar com as novas possibilidades financeiras, vai abrigar o Coro Santa Cecília ou Cantoria Santa Cecília e os coros masculino e infantojuvenil, além de quartetos e orquestra clássica. “Vamos ampliar as possibilidades de apresentações, todas dentro desta vertente da Cia Vocale, ampliando o repertório com músicas não religiosas. Se faz necessário entender que o Estado é laico e é preciso apresentar propostas de apresentação de músicas que não sejam de igreja para conseguir aprovação de recursos. Também podemos caminhar pensando em tombar o coral como patrimônio histórico cultural do Estado do Espírito Santo”.

Inárley, em consonância com a diretoria, fala que o Coral, acostumado a contar com pequenas doações, vai poder pleitear recursos de dezenas de centenas de Reais. “Como está, não pode pleitear, pois entra em conflito com um coral com o mesmo nome. Também é fundamental mudar de nome para o Coral ter acesso aos incentivos que não abarcam os movimentos não laicos. O Santa Cecília não vai perder a identidade, mas resolverá o lado institucional em questões burocráticas. Já as novas vertentes funcionarão também como um chamariz, fazendo com que o Coral tenha sempre novos integrantes no seu rol de cantores”.

Com sua contratação patrocinada pelo Sicoob, Inárley está no oitavo mês em atividade. Envolvidos em diferentes projetos musicais que desenvolve no Estado, na Itália e na Argentina, Inárley confessa que faz uma verdadeira ginástica para estar em Venda Nova uma vez por semana. “Trabalhar em diferentes projetos de forma paralela gera muita correria, mas também, como produtor musical, vejo muita coisa e as trago para contribuir com o projeto de renovação do Santa Cecília. Vim para ficar um ano e vou ficar mais um”.

Ele, que frequenta Venda Nova há muitos anos, confessa que nunca imaginou que um dia regeria o Santa Cecília. “Encontrei um Coral formado por integrantes fieis e apaixonados, a maioria já na terceira idade. São verdadeiros guardiões do que podemos chamar de patrimônio cultural. Esse apego, que sempre foi muito importante para a sua manutenção, está se transformado em abertura para que os novos passem a ocupar os lugares e deem continuidade”.

Para Inárley, ao se colocar como uma pessoa neutra dentro do natural espaço de debates e de contraditórios, ele tem conseguido colaborar com a construção e a edificação de uma nova realidade, se valendo de sua visão profissional. “Mesmo os coralistas mais antigos estão aceitando e embarcando nessas inovações, nessa nova linguagem.... O Coral vivenciou vários conflitos, e isso é normal em um grupo tão heterogêneo”.

Reconhecido como o Coral mais antigo do Espírito Santo em atividade, o Santa Cecília se manteve ativo durante essas oito décadas. No entanto, como diferentes setores do país e do mundo, sofreu um baque durante o isolamento social exigido na crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus. Vários membros idosos se afastaram definitivamente e, quando Inárley chegou para atuar junto ao Coral, se deparou com um grupo que, na avaliação dele, não dava para sustentar o coral em termos de naipes vocais.

 

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