Parkinson e exercício físico
Pense nas seguintes atividades corriqueiras que fazemos diariamente: amarrar cadarços, esfregar xampu no cabelo, escovar os dentes, usar um garfo para se alimentar, virar-se na cama durante a noite. São gestos motores simples não é? Não para aproximadamente 1% das pessoas acima de 50 anos de idade. Isso mesmo, no mundo a cada 100 pessoas, uma apresenta a doença de Parkinson.
Para essas pessoas o simples deslocamento de um cômodo para outro dentro de sua casa pode ser uma tarefa hercúlea!
Agora pense, se não conseguisse executar as tarefas descritas você conseguiria ter um convívio social sadio ou iria preferir a reclusão a sua casa?
Isso faz com que a situação apenas piore, fazendo surgir outras patologias como depressão e todas aquelas decorrentes do sedentarismo.
Os sintomas do Parkinson podem se resumir à sigla “TRAP”: temor; rigidez articular; acinesia/bradicinesia e postura instável.
Fisiologicamente, em uma pessoa com Parkinson, segundo NAKINUMA et al, (1992) e GLENDINNING & ENOKA (1994), ocorre um desequilíbrio neural na ativação de músculos de uma articulação e uma deficiência na estimulação dos grandes músculos do corpo tornando difícil toda a movimentação corporal.
Em termos simplificados, a região cerebral responsável pelo controle motor envia sinais involuntários para um músculo, ou grupo muscular, fazendo com que ele se contraia e relaxe repetidamente sem que a pessoa o estimule. E isso causa os tremores e a lentidão de movimentos.
Por vezes essas contrações são seletivas atingindo, na maioria dos casos, apenas um lado do corpo, e isso traz outra questão à tona: a perda de equilíbrio.
Fisiologicamente utilizamos três vias para mantermo-nos em pé: visual + labirinto (no ouvido) + propriocepção e se algum deles é prejudicado nossa capacidade de nos equilibrar é diminuída.
E como o exercício físico pode ajudar?? Aumentar a força corporal é o desejado.
Músculos mais fortes são mais capazes de resistir às contrações involuntárias e também ajudam a evitar quedas decorrentes da falta de equilíbrio (situação comum em parksonianos).
Já há na literatura diversos grupos (TO'OLE et al, 2000; SCANDALIZ et al 2001; SCHILLING et al 2010, HASS et al 2012; DIBBIE et al 2009; PAUL et al 2014; SCHULMMAN et al 2013; MORHERG et al 2014, KELLY et al 2015) que pesquisaram e comprovaram ganhos de força em parksonianos, indicando os exercícios resistidos (musculação) como ferramenta fundamental no tratamento do Parkinson.
BARBALHO et al. (2019), por exemplo, mostrou que um treinamento típico de musculação de oito semanas observou que ela sozinha é capaz de melhorar o condicionamento físico e funcional, a massa magra e a força de pessoas com doença de Parkinson. Isso implica na melhora da qualidade de vida desses sujeitos, pois poderão executar melhor as suas tarefas do dia a dia.
E como planejar os treinos? Pensando em treinos curtos e intensos estimulando principalmente a potência muscular (movimentos excêntricos lentos e concêntricos rápidos). Outra coisa importante é que treinos em superfícies instáveis não são a melhor escolha, pois nestes a porcentagem de estímulos proprioceptivos (principal via atingida pelo Parkinson) é comprovadamente pequena.
Dudu Altoé
Personal Trainer
CREF.: 002126-G/ES
Especialista em treinamento físico para grupos especiais