10 anos de Coffee Design: a primeira prova de café foi da mostra doada por Valdeir Tomazini
A família Tomazini, que já trilhava um caminho na produção de café de qualidade, acreditou nas inovações propostas pelo Coffee Design, aprimorou o pós-colheita e conquistou o merecido reconhecimento do mercado
Valdeir Dalcin Tomazini é figura conhecida entre os provadores/bolsistas e entre os professores envolvidos no Coffee Design. Ele, que foi o primeiro cafeicultor a doar mostras para serem provadas pelo laboratório do Ifes, continua frequentando o espaço ao levar o seu café para fazer a contraprova, pois, a primeira prova já é feita em uma sala de sua casa.
Primeiro se faz importante contar a sua história para conhecer um pouco de sua saga em busca de reconhecimento na produção de café de qualidade, numa trajetória que praticamente foi construída paralela à do Coffee Design. Desde 2002 ele já produzia especiais e a comercialização desses grãos se esbarrava na falta de reconhecimento dos compradores. “Não existia saída e eu tinha que vender para eles no mesmo preço do café tradicional”.
Em sua propriedade na Bateia, Castelo, os plantios de café podem ser apreciados no entorno da casa. Bem próximos mesmo. As tulhas antigas e com portas enumeradas ajudam a construir um cenário típico, que fica lindo ao ser emoldurado pelas matas e pelo céu e, em um dos pontos, pela beleza exuberante da Pedra do Forno Grande. Entre as tulhas e a casa, está o terreiro de cimento, que faz parte das boas vindas aos visitantes.
Foram necessários dez anos para que o café da família Tomazini ganhasse reconhecimento. E foi como campeão do 12º Prêmio de Qualidade Cafuso UCC para os Cafés das Montanhas do Espírito Santo que ele ganhou notoriedade e também um preço mais justo. A mostra atingiu 91,26 e rendeu a ele o prêmio de R$ 20 mil.
Tomazini já conhecia o provador e o professor Lucas Louzada quando dois anos depois, foi apresentado ao projeto do Coffee Design, que promovia estudos sobre café de qualidade no campus do Ifes Venda Nova. Ele foi então o primeiro produtor a doar grãos para os estudantes e professores fazerem provas no Laboratório de Análises e Pesquisa de Café- Lapc.
A medida que o Lapc fazia as provas, com as devidas análises sensoriais, e apresentava sugestões de práticas para aguçar os atributos dos grãos, a família de Tomazini ia aprimorando o manejo. A propriedade não contava ainda com terreiro suspenso e construiu um copiando o modelo proposto pelo Ifes.
Tanto Valdeir quanto o seu filho Abner, sua nora Fernanda e sua filha Aline, passaram a fazer os cursos promovidos pelo Ifes. Sua nora fez o curso de prova e passou a fazer as análises sensoriais ainda na propriedade, o que passou a dar em primeira mão a noção da qualidade de cada lote produzido. Abner se envolveu com a parte técnica e toda a família- que já dividia as tarefas na fase dos tratos culturais- se uniu ainda mais no modo mais aprimorado de lidar com os grãos depois de colhidos.
A propriedade, localizada numa altitude que varia entre 900 a 1.100 metros, é herdada do pai de Valdeir, que foi morar na Sede de Castelo. Seu bisavô, Tomaz Tomazini, foi o pioneiro naquelas terras frias e cheia de morros, com declives acentuados e que impossibilitam o uso de maquinários para amenizar e adiantar o trabalho, que sempre foi tão árduo. São 6,5 alqueires de terra, sendo que 1,5 é ocupada por café. O restante é pasto, plantio de abacate e muita área de preservação, o que garante água em abundância: são três nascentes.
A mais recente aquisição foi um torrador e a sala de prova funciona na base da improvisação, pois os equipamentos são montados para fazer a degustação e depois são guardados. Essas novidades tecnológicas, na avaliação de Tomazini têm contribuído para a permanência dos jovens nas propriedades.
Abner, por exemplo, fez o técnico agrícola na Escola Família de Castelo, onde conheceu sua esposa. Ambos têm 28 anos e estão cheios de planos para o futuro. Pelo desempenho da família, Abner e sua irmã ganharam uma viagem para a Itália com tudo pago pela Natercoop. É que uma mostra no nome deles ganhou o concurso de café natural. “A gente nem sabia ainda como fazer e fomos premiados com a mostra da primeira colheita”.
E o patriarca explica ainda que os conhecimentos foram adquiridos nos cursos promovidos pelos Ifes. “Não fazíamos antes, pois considerávamos muito trabalhoso. Todo trabalho é manual: catamos nos pés, selecionamos tudo a dedo, separando o verde do maduro, sem o uso de máquinas”, explica um pouco sobre o processo do café natural.
A família Tomazini, que já conquistou boas colocações em outros diferentes concursos (2002, 2013 e 2021), já aprendeu o caminho do preço justo. A maior parte ele vende para Isabela Raposeiras, do Coffee Lab, de São Paulo.