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10 anos de Coffee Design: A evolução do manejo e a qualidade de vida no campo

10 anos de Coffee Design: A evolução do manejo e a qualidade de vida no campo

Em Pontões, Afonso Cláudio, a família de Luciano Delpupo se abre para adoção de novas práticas no manejo e melhores remunerações permitem novos investimentos na propriedade

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Luciano Dazílio Delpupo é um produtor que mira o futuro. Casado e pai de duas filhas ele torce pela continuidade e pelo fortalecimento do trabalho feito pelo Coffee Design, no Ifes, pois imagina que elas possam um dia estudar na instituição federal, em Venda Nova. “Já tem uma condução que sai da Sede da Vila de Pontões e vai para Venda Nova diariamente”, diz sobre um fator que vai facilitar os estudos das meninas.

Pioneiro em sua comunidade em fazer doações de mostras de café para o Lapc, Luciano convenceu muitos vizinhos do Sítio Braga, a também colaborarem com o projeto de café de qualidade desenvolvido no Ifes. “Meu café ganhou destaque quando eu o inscrevi num concurso de qualidade. Eu conheci o Lucas Louzada e ele me convidou para participar das pesquisas. Eu ajudava e me beneficiava com as informações e orientações”.

Entusiasmado com a parcerias, Luciano passou a convencer os seus vizinhos cafeicultores a participarem também. “A maioria se mostrou reticente, preocupados com o retorno imediato. Além de fazer muitas amizades, eu enxerguei a possibilidade de minhas filhas estudarem lá, pois o projeto reúne muitas pessoas batalhadoras e comprometidas”, disse durante nossa visita.

Ana Letícia, 8 anos, e Alice, de 12, assim como sua esposa Josane, fazem parte do bate papo e também compartilham informações. Elas, que passaram a vivenciar uma nova realidade depois que o café da família ficou conhecido e que passou a ser vendido diretamente para as torrefadoras.

“Na época da pandemia recebemos um comprador. Ele estava com a esposa e como o casal não conseguiu hospedagem na região, nós o acolhemos com toda nossa simplicidade”, conta sobre Stefano, coreano dono de uma empresa brasileira. Ela ainda ressalta que suas filhas tiveram a oportunidade de participar de uma prova na mesa sensorial improvisada na varanda de sua casa.

Luciano também conheceu um representante de uma empresa coreana de café que atua em São Paulo. Essa relação exemplifica a aproximação do produtor com os importadores, categoria que representa a outra ponta da cadeia.  O café da família foi parar na Noruega em 2019 e no Japão no ano passado. “Meu café vai personalizado para outros países, com informações referentes à propriedade e à forma de produção”.

A família continua levando as provas de café para prova no Coffee Design, onde também faz a torra do grão para consumo próprio. “Dá gosto ver a garotada trabalhando, principalmente as mulheres, que são maioria”, diz sobre os alunos bolsistas.

 

Inovações

Para chegar ao Sítio Braga é preciso enfrentar uma estrada sinuosa e cheia de subidas e descidas consideráveis. Mas a cada curva a natureza se revela generosa devido à beleza do lugar e, à medida que se aproxima da casa, os pés de cafés- com folhagens densas e de verde marcante- parecem que vão saltar diante do veículo, de tão próximos à margem da estrada.

Dentro daquela casinha- cercada de plantios de café, pontuadas com árvores floríferas, e mata atlântica- mora uma família que viu sua vida mudar à medida que foi introduzindo novas práticas no pós-colheita, adquirindo conhecimentos e estabelecendo novas relações de trabalho e de amizade. O sítio de 11 hectares tem nove ocupado por plantio de café consorciado com abacate. O resto é de mata preservada.

Uma das primeiras inovações foi fazer tanques para implantar um novo sistema de fermentação. Ao invés de colocar os grãos colhidos no desmucilador mecânico, Luciano passou a colocar nas caixas de degoma para fazer o processo de fermentação e desmucilação manualmente.

Dentro destas melhorias, ele passou a fazer o armazenamento correto dos grãos. “Aldemar me orientou a fazer o isolamento térmico das paredes de bloco, forrando todas com lonas na parte de dentro. A umidade ideal é de 11 a 12 e, que sem o isolamento, variava de 13 a 15. O ambiente passou a ser mais controlado, além de menos úmido, ficou mais escuro e próprio para preservar as características do café”

O isolamento fez também com que o café deixasse de receber interferências externas. Luciano não tinha percebido este problema até que Aldemar o alertou sobre a possibilidade de seu café ter algum cheiro ou gosto diferente devido a abertura existente e ao lado serem mantidos estacionados os carros e maquinários movidos à gasolina e a óleo diesel. “Levei meu café para análise e a provadora do Ifes me disse que parte apresentava cheiro de combustível. Depois disso fiz o isolamento total, pois descobri que o café é muito sensível, principalmente depois de pilado”.

Outro projeto, desta vez implantado pelo senso de responsabilidade ambiental, é o das caixas de água residual. “Antes eu só tinha uma caixa para tratar a água residual, onde boiava a parte mais densa e a água era jogada em outro buraco para filtrar, e eu adaptei para proporcionar três etapas. A água sai bem mais limpa e ainda vai para o buraco para a última filtragem”.

O mais recente investimento da propriedade é a ampliação da unidade de processamento, que vai triplicar a capacidade de manejo. Com as melhores remunerações do café da família, Luciano conseguiu melhorar a propriedade comprar mais um pedaço de terra para agregar à parte que foi herdada por sua esposa. 

Josane conta que desde menina sonhou morar naquela parte da propriedade da família, que está com a quarta geração vivendo ali. Em 2006, Luciano começou a construir a casa e, em 2007, os dois se casaram e se estabeleceram no local. E o casal aproveita o bom momento para construir uma nova e mais ampla casa, pois suas filhas estão crescendo e ele quer mais conforto para sua família. E, diante do entusiasmo das crianças com a atividade cafeeira, o casal tem expectativa de continuidade, pois acredita que com conhecimento é possível viver com qualidade no campo. 

 

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