Os dez anos do Coffee Design sob a ótica do professor Lucas Louzada
“Se eu fosse resumir os 10 anos do Coffee Design em poucas palavras eu usaria duas: pesquisa e desenvolvimento”
Nestes 10 anos de muita dedicação à prática de pesquisa aplicada e também à pesquisa básica, talvez o principal entrega do Coffee Design, na avaliação do professor Lucas Louzada, seja justamente a produção científica de qualidade. “Em uma década a gente conseguiu produzir muito, publicar muito e, principalmente, colocar o Instituto Federal no mapa de referência da produção científica referente a cafés especiais”, disse o professor depois de relatar que também foram dez anos de muito investimento na ciência e na forma como poderia olhar diferente para o café. “Olhamos para o café visando agregação de valores, melhoria da qualidade do produto e valorização das pessoas que estão na terra. Pensamos no reaproveitamento de resíduos e nas várias formas de contribuir com a geração de oportunidade e riqueza para quem está no campo”.
Legado
Em termos de legado, Lucas entende que a produção científica e a formação de capital intelectual de alto nível sejam as principais entregas do Coffee Design do ponto de vista acadêmico. “Já do ponto de vista empreendedor, temos os exemplos dos ex-alunos que saíram do Instituto e hoje têm construído empresas, estão prosperando, trabalhando e crescendo. Cito a Farmes Coffee, empresa fundada por ex-alunos, e também têm outros egressos que já estão trabalhando em multinacionais, como no caso da doutora Bárbara Zane. Ela terminou o doutorado no mês passado e, antes mesmo de se formar, foi contratada por uma grande multinacional. Temos ainda outros alunos em fase de estudo, concluindo o doutorado e fazendo pós-doutorado nesse momento”.
Ao longo desses anos foram praticamente 120 alunos envolvidos no projeto. De acordo com Louzada, atualmente há uma participação muito significativa do aluno, chegando a quase 80 estudantes vinculados ao Coffee Design, sendo esses divididos entre Instituto, UFV e Ufes, as principais instituições que recebem estudantes, que atuam como bolsistas dos projetos vinculados ao Coffee Design.
Para exemplificar a diversidade dos envolvidos, Lucas ressalta que estão vinculados alunos de todos os níveis: o ensino médio, técnico, pós-graduação e até o pós-doutorado. “Todos eles estão agraciados com bolsa, com valores acima do mercado. A ini-ciativa privada entende que é justo a solicitação e a tentamos remunerar melhor para que o aluno tenha condição digna de trabalho e de produção de conhecimento também”.
Produção científica e publicações
Em termos de publicação, participação e dados das pesquisas, o Coffee Design chega hoje a 80 artigos publicados no período de dez anos. “São publicações do calibre da Nature e na base principal da Elcevisce, que são periódicos muito disputados no âmbito acadêmico. Todo ano a gente consegue publicar bons artigos, que geram muita citação e também impacto significativo na comunidade científica, do ponto de vista de inovação. Eu diria que essa produção científica só foi possível porque tem um grupo grande que abraçou a causa e se dedica muito’’.
Novos desafios
Ao falar de conquistas, Lucas ressalta que o Coffee Design, saiu de um laboratório para operar em 16 laboratórios dentro do campus e fez esta trajetória focando em investimento nos equipamentos modernos e nas práticas modernas de pesquisas e de desenvolvimento.
E ao olhar para o futuro, ele diz entender que na próxima década o maior desafio talvez seja a educação e explica o que vislumbra como necessidade. “Nós passamos 10 anos pesquisando e transferindo tecnologia e hoje há uma necessidade de pensar a educação como prioridade: a formação cidadã, a formação profissional e também a transferência de tanta tecnologia desenvolvida nesses 10 anos. Tem coisas hoje que a gente já sabe, domina e controla e que ainda não chegaram no campo”.
“Então o grande desafio é saber como criar uma metodologia que tenha aderência junto à comunidade que está no campo e, às vezes, muito distanciada do meio urbano. É preciso fazer com que esse conhecimento, às vezes muito complexo do ponto de vista acadêmico, se torne uma resposta prática para o produtor que precisa de uma solução imediata”.
Lucas ressalta que, como o Coffee Design se tornou um projeto de abrangência nacional, o conhecimento produzido ficou muito pulverizado. “Têm muitas ações isoladas ou externas e eu entendo que, nessa próxima década, o grande desafio da instituição é trazer todo esse conhecimento gerado, e que o mundo está usando, mais para dentro da comunidade, mais para perto dos vizinhos, quem está aqui ao redor, no dia a dia”.
Questionado sobre se isto já não estaria acontecendo, Lucas fez as contas e disse o atendimento em média alcança está entre 850 e 1.000 famílias por ano. “O Espírito Santo tem 104.000 famílias produzindo café. Quando a gente fala que a gente precisa ter mais aderência no território é porque existe uma massa de um Estado, que é minúsculo perante a Federação, e que demanda muito conhecimento e muita informação aplicada”.
Ele reforça que o desafio é fazer com que o Coffee Design e o Ifes sejam mais presentes no cotidiano das pessoas que estão fora da fronteira do Campus. “Porque no entorno, nas comunidades circunvizinhas, as coisas vão muito bem e aí, quando temos, as vezes cidades mais distantes ou outras microrregiões, não conseguimos ter essa capilaridade por não estar presente em todo território. A gente tem uma base em Venda Nova, obviamente quem está no entorno e frequenta acaba se beneficiando desse conhecimento gratuito compartilhado no dia a dia”.
Ao completar 10 anos, o Coffe Design fecha um ciclo de trabalho com muitas entregas. Em maio próximo, o Coffee Design vai entregar mais 14 Q Grades, que são provadores de café com licença para atuar em concursos internacionais. Dez foram via parceria com o Sicoob e quatro pela Fundação de Amparo à Pesquisa- Fapes. Somando todo o período de atuação do Coffee Design, são 24 Q Grades até o momento. O professor Lucas, que está saindo de licença do Ifes para atuar em outros projetos, fala que se trata de alunos de alto desempenho que passaram pelo laboratório e que saem do Ifes com um certificado internacional. Vale destacar que as mulheres são maioria e estes certificados, na avaliação do professor, estão entre as principais conquistas do Coffee Design.