Você alonga antes de malhar?
“Mas professor, não vou alongar antes do treino??”
Essa é uma pergunta frequente nos alunos que estão iniciando sua vida ativa nas academias.
O hábito e o senso comum permearam durante muito tempo a ideia de que tal fato era necessário, e por vezes, até mesmo essencial. Remeto-me às academias, mas isso também se aplica a prática de qualquer modalidade esportiva, seja competitiva ou ocasional. Grosso modo, 'alongar antes de treinar' baseia-se em duas conclusões: a primeira de que uma boa flexibilidade é essencial para um ganho de força satisfatório; e a segunda que ajuda a prevenir lesões articulares.
Antes de aprofundar, é necessário compreender que nosso organismo sempre trabalha buscando adaptar-se e manter-se em homeostase (equilíbrio). Exemplificando no treinamento físico, isso se explica quando aplicamos num músculo estímulos um pouco além da sua capacidade. Este (o músculo) terá que se adaptar (hipertrofiar) para estar preparado se sofrer o mesmo estímulo num futuro. Ou ainda, se uma atividade física esgota reservas musculares de energia (glicose e/ou gordura), este aumentará as referidas reservas para o caso de repetição da atividade.
Mas o mais importante é que essas adaptações, sejam elas de ordem metabólica ou estrutural, necessitam de tempo para se consolidar (que pode demorar até cinco dias dependendo do estímulo), ficando o organismo fragilizado antes da total consolidação e podendo ser danoso sofrer outro estímulo neste período.
Assim, quando treinamos a flexibilidade – e existem métodos específicos para isso – com a intenção de aumentar sua amplitude articular, o organismo também trabalhará no sentido de melhorar a flexibilidade. E será necessário respeitar um tempo, sem estímulos, para que essa melhora esteja consolidada.
Daí podemos justificar os equívocos da seguinte forma: sobre o primeiro ponto “flexibilidade como otimizadora de resultados”. Sim, utilizar amplitude completa tanto da articulação como da musculatura é fundamental para que o estímulo seja potente e produza resultados, mas o equívoco está no momento em que este treinamento de alongamento é feito.
Sobre isso PAULO et al (2012), em um estudo de revisão destacou que exercício de flexibilidade antes da musculação prejudica o desempenho, diminuindo a força máxima produzida:
· Inabilidade de recrutar um maior número de unidades motoras contráteis devida à alta atividade inibitória que ocorre durante o alongamento (FOWLES, et al. 2000);
· Menor ativação das unidades motoras e também de músculos envolvidos durante o exercício alvo (BEHM et al. 2001).
Sobre o segundo ponto destacado, “flexibilidade como preventora de lesões articulares”, o mesmo estudo aponta que: flexionar além do limite articular pode provocar:
· Inibição dos órgãos tendinosos de Golgi diminuindo a sensação de dor, fato que possibilita utilizar amplitudes articulares maiores que o desejado tornando-a mais suscetível à lesões. (HERDA et al. 2008; ESPOSITO et al. 2009);
· Aumento a rigidez do conjunto “musculatura + ligamentos + cápsulas articulares + tendões” tornando menos eficiente a transmissão de força ao sistema ósseo. (TRICOLI e PAULO, 2002).
Outra coisa tem que ficar clara, não podemos comparar organismos de atletas treinados com de indivíduos comuns. Geralmente atletas cumprem rotinas de treinamento semanais que são pensadas e planejadas para aperfeiçoar determinada capacidade física.
O que pode e deve ficar claro é que a flexibilidade e força são capacidades físicas aprimoráveis, mas que devem ser planejadas e aperfeiçoadas em separado para que uma não interfira no rendimento da outra.
Dudu Altoé
Personal Trainer
CREF.: 002126-G/ES
Especialista em treinamento físico para grupos especiais