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Cafés especiais - Do campus para o campo: experiência no arábica e o desafio no conilon

Cafés especiais - Do campus para o campo: experiência no arábica e o desafio no conilon

Raabe se inspira na mãe e vê o contato com as mulheres uma porta para promover mudanças na cultura do café

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Depois de formada em administração, Raabe de Oliveira Abreu recebeu outra proposta de bolsa. Desta vez o desafio do professor Aldemar Polonini Moreli é o de fazer transferência de tecnologia para melhoria da qualidade do café conilon capixaba.

Trata-se de uma experiência completamente diferente, pois até então Raabe atuou com maior proximidade dos processos do pós-colheita do arábica. “Os melhores contatos são com as mulheres que, além de serem mais receptivas a promoverem mudanças, elas geralmente cuidam da gerência e da casa, facilitando a abordagem”, observa.

Com essa nova função, Raabe viaja muito. “É duro, mas é importante, pois vejo o impacto social deste projeto. O Espírito Santo é o maior produtor de conilon do Brasil e não podemos ver o café apenas como commodities. É também um gerador de valor para o trabalhador rural e de qualidade de vida para as  famílias que dependem do campo”.

Raabe passou a atuar no Coffee Design em janeiro de 2020 e mesmo com a pandemia manteve seu trabalho no laboratório. “Foi desafiador”, diz a então estudante que se integrou ao grupo como bolsista do professor Lucas. “Era uma bolsa de iniciação científica que envolvia atuar em todas as funções e foi assim que eu fui descobrindo minhas habilidades e aptidões”.

Filha de produtores e natural de Iúna, atualmente Raabe acompanha o trabalho da mãe na produção de arábica na propriedade em Ibitirama, situada no Caparaó Capixaba. A propriedade tem pontos de altitude que variam entre 800 e 900 metros, conforme descreve.

Ela explica que através dos cuidados empregados ao pós-colheita e com a adoção de novas práticas na propriedade da mãe, tornou possível obter cafés de 85 pontos. “Minha mãe ouviu que não daria café especial em nossa região e o resultado mostrou o contrário”.

Raabe fala com orgulho da mãe Regina Aparecida de Oliveira, que aos 43 anos é a grande responsável pela condução da lavoura e de toda propriedade, que é uma herança de família. “Eu sou a quarta geração ligada à produção de café naquela propriedade”.

Apesar de dedicada e destemida, a sua mãe aconselhou sua filha estudar 'para sair da roça'. Ao entrar no laboratório do Coffee Design, Raabe percebeu o contrário: 'uma propriedade rural bem gerida e com planejamento é capaz de gerar valor”, conclui com otimis-mo.

Esse processo de mudança de pensamento aos poucos foi abrindo os olhos da matriarca. “Os testes com os cafés cultivados na propriedade foram mostrando nossa capacidade de produzir especiais. Ela se animou e plantamos mais quatro mil plantas”.

O desafio aceito de se tornar uma ponte entre a pesquisa e os produtores rurais se deve, conforme relata Raabe, à história de vida de sua mãe. “Ela é minha inspiração: encara tudo com coragem, até o trabalho braçal. Sei como é difícil aceitar promover mudanças. Os mais antigos têm dificuldades de aceitar implantar novas tecnologias”, disse fazendo ressalvas da juventude de sua mãe.

Para Raabe é fundamental simplificar a linguagem para facilitar o acesso aos conhecimentos produzidos de forma científica pelo meio acadêmico. “Tudo é publicado em inglês e, na maioria das vezes, nem a nova geração tem contato com a produção científica e essa distância entre tecnologia e prática alimenta o sonho de sair do meio rural em busca de novas oportunidades”.

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