Cafés especiais: na sala de classificação física são contados os defeitos dos grãos secos e pilados
Com apenas 15 anos Júlia Monte-Verde Mund já estava preocupada com o mercado de trabalho. Ao saber por uma colega sobre a possibilidade de obter uma bolsa para atuar no Coffee Design, ela procurou o professor Lucas, que a aprovou em uma entrevista.
Ela, que cursa o segundo ano do ensino médio, agora com 16 anos completos, enumera as suas conquistas. “Comecei em fevereiro deste ano e foi um choque para mim me deparar com esse mundo novo, mas os meus colegas foram muito receptivos e me explicaram tudo”.
A primeira atividade de Júlia foi fazer a cata de grãos. “Em 100 gramas de amostra eu conto os grãos defeituosos. A classificação do café inicia-se pela contagem dos defeitos e das impurezas em uma amostra de café beneficiado. A porcentagem é importante para definir o valor de um tipo de café no mercado.
Atualmente Júlia tem condições de trabalhar em todas as etapas, da secagem nas estufas, passando pela torra, granulometria e até nas provas de café. “O que eu menos faço é torra... Aqui tudo é muito acelerado: aprendemos e desenvolvemos muitas habilidades. Isso me fez enxergar várias possibilidades, pois são muitas vertentes e eu posso me especializar em uma delas”, disse citando entre elas as atividades de consultora e de provadora.
Além de ajuda-la na vida escolar- em especial nas disciplinas técnicas-, a atuação como bolsista melhorou sua desenvoltura pessoal. “Eu me comunico melhor, tenho melhor desenvoltura social e aqui é um lugar seguro e confortável para eu desenvolver tudo isso, pois se localiza dentro do campus”.
Júlia estuda pela manhã, na sequência almoça a refeição que traz de casa na área de convivência, para depois entrar no laboratório, de onde sai às 17 horas. “Eu faço reforço do conteúdo do dia à noite”, diz sobre sua rotina.
Embora seja ainda muito jovem, Júlia Roberta Fim, 17 anos, disse querer influenciar no modo de produzir café pela sua família. Filha de produtores de Monte Alverne, Castelo, ela cursa o segundo ano do técnico de agroindústria e completa um ano como bolsista do Coffee Design.
“Meus pais produzem commodities e trabalham dentro de uma cultura enraizada, mas estão aos poucos enxergando que é importante mudar. Sempre converso muito sobre isso e eles estão percebendo que novas formas de fazer o pós-colheita têm trazido bons resultados”, avalia.
Júlia relata que a sua experiência no centro de pesquisa tem lhe dado conhecimentos e força para argumentar com a família. Ela tem uma irmã com 14 anos e um irmão com dez e a posição de irmã mais velha lhe impõe, ao seu ver, uma responsabilidade de promover mudanças.
Mesmo participando de outras etapas dos processos do pós-colheita no Coffee Design, Júlia atua também ao trabalho de classificação dos grãos. Ela já conhece os conceitos básicos de análise sensorial, embora ainda não tenha feito provas.
Júlia explica que na sala de classificação física chegam os grãos secos e pilados diretamente das mãos dos produtores assim como os cafés de entidades que passam por tal processo no centro de pesquisa. Além de classificar, cabe a ela, a sua xará Júlia e a toda a equipe do Cooffe Design, separar as porções que irão para a torra e depois passarão pelas análises químicas e sensoriais. “Também costumo fazer planilhas referentes aos dados das análises propriamente ditas”.
Quando os grãos chegam da roça, antes passam pela estufa, secos, são pilados para depois ir para a classificação física. “Também ajudo nesta etapa, pois aqui todos participam de tudo, conforme as necessidades e disponibilidade”, explica a comunicativa filha de produtores. “Meus pais são tímidos e ninguém entende como eu sou tão 'desembolada'”.