Cafés especiais: Novos processos aplicados levam qualidade ao conilon no interior de Castelo
Filha de produtores rurais da comunidade de Jabuticabeira, interior de Castelo, Maria Imaculada Augusto enfrentou a resistência do pai, Domingos Augusto, ao sair de casa aos 18 anos para estudar. Como bolsista do Coffee Design, ela passou a levar as inovações para o pós-colheita do conilon na pro-priedade da família.
“Com os novos processos aplicados veio a qualidade e, em seguida, a valorização e a pesquisa abre e consolida este caminho. Alguns produtores perceberam e estão tentando melhorar. O conilon tem formas diferentes de manejo em relação ao arábica, mas também pode ser uma bebida de muita qualidade”, diz a bolsista.
Com a propriedade com altitude média de 400 metros, a opção pelo conilon se deu pela família considerar o seu manejo menos complexo e pelo volume de produção. Maria Imaculada cresceu auxiliando a família nos trabalhos da propriedade e percebeu que precisava estudar para buscar novas oportunidades.
Maria Imaculada foi para a sede de Castelo para fazer o ensino médio e conseguiu ser estagiária de um banco para se manter. Ela se graduou e conseguiu uma vaga no Ifes Venda Nova, época em que seu pai ainda tinha dificuldade em aceitar que ela havia saído de casa para estudar.
Ela escolheu o Ifes Venda Nova por se identificar com os projetos desenvolvidos no campus e pela qualidade da formação. Ao longo da graduação Maria Imaculada soube do trabalho desenvolvido ligado à cafeicultura, o que despertou seu interesse pela área e a motivou a conversar com o professor Lucas e falar de suas intenções em se inserir no mercado de cafés especiais. “Vim em busca de qualificação e encontrei oportunidade justamente em uma atividade que minha família já atuava”.
Paralelo à sua atuação no Coffee Design, Maria Imaculada passou a levar seus conhecimentos para aplicar na propriedade da família. Mais aberto às suas incursões acadêmicas, em 2021 seu pai lhe entregou uma amostra de café maduro para avaliação no laboratório e para um teste de processamento. “Ele queria saber se daria um resultado diferente do que já conseguia e percebeu que seu café tinha potencial”.
Diante do bom resultado, foram aplicadas novas práticas e uma análise mais ampla de um micro lote da safra de 2021 revelou um café que bebia muito bem. Maria Imaculada conta que a família conseguiu exportar para a Rússia com valor agregado e ainda ganhou um prêmio, como forma de incentivo do importador. “Na época, o valor médio da saca estava em R$ 450,00 e conseguimos vender a R$ 900,00, com um prêmio de U$400,00'’.
De acordo com a bolsista, o importador tem interesse que a família produza um volume maior, com a mesma qualidade, para comprar. “E a expectativa é fazer negócio com um lote maior. O café já foi colhido, finalizamos o processamento e fizemos uma prova prévia que constatou a qualidade esperada pelo importador”.
O pai de Maria Imaculada pretende investir mais na estrutura (terreiro suspenso) e aperfeiçoar a colheita, mirando um ponto de maturação mais perto do ideal. “No ano que vem queremos fazer um lote com um volume ainda mais expressivo”.
Na ocasião da sua formatura no Ifes, em maio último, Maria Imaculada contou também com a presença de seu pai, além do restante de sua família. Todos entusiasmados pelas conquistas dela e com o que ela, com seus estudos, pôde agregar na atividade econômica principal da família.
Atualmente ela apenas atua no laboratório, pois está integrada a um projeto em andamento e dá continuidade em alguns experimentos ainda em fase de execução. Maria Imaculada pretende fazer a certificação de provador profissional (Q-Grader e R-Grader) e atuar no mercado e, dependendo das demandas que surgirem, fazer mestrado ou alguma outra especialização.