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Giulia Sossai: ‘’eu aprendi a me olhar com amor’’

Giulia Sossai: ‘’eu aprendi a me olhar com amor’’

Com duas graduações em São Paulo, ela retornou para Venda Nova onde coloca tudo em prática ao atuar como maquiadora e lança um projeto novo relacionado a moda

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“Independente de minhas medidas, o que mais diz sobre mim é minha autoestima, meu estilo...” Difícil é escolher qual fala é a mais impactante entre todas as cheias de personalidade e de amor ditas pela maquiadora e designer de moda, Giulia Juvanhol Sossai, 25 anos.  A dona de um dos sorrisos mais lindos já vistos é uma menina/mulher que tem muito a ensinar aos jovens, às mulheres em especial, pela luta constante para se manterem dentro de um padrão estético.

Com duas graduações em São Paulo, Giulia retornou para Venda Nova, sua cidade natal, e anda tão cheia de compromissos de trabalho que nem parece ter deixado para trás a agitada e maior cidade do Brasil. Ela é maquiadora (e das boas), cuida do marketing digital das lojas da família e agora acaba de lançar (junto com sua mãe Marinei Juvanhol) o projeto Maria Amorim Atelier, que desenha e produz por encomenda vestidos de noiva.

Para entender um pouco mais sobre essa talentosa e multifacetada profissional, vamos retroagir um pouco em sua história. Sempre alvo dos fotógrafos quando na infância se vestia de roupa típica na Festa da Polenta, Giulia diz que sempre foi fofinha, biótipo que a acompanhou até a adolescência. “Posso dizer que o meu corpo sempre foi um pouco diferente e sempre ouvi cobranças sobre meu peso, principalmente porque existem casos de doenças na família”.

No entanto, tudo que se escuta na adolescência tem um peso diferente, pois faz parte da fase dar uma importância maior às coisas do dia a dia e às mensagens recebidas. “Até os 18 anos eu não era padrão, mas não era gorda. Quando fui para São Paulo estudar eu me desliguei dessas obrigações estéticas, pois queria viver minhas experiências sem as velhas cobranças. Eu engordei 15 quilos, pois nesse processo de vida agitada, ansiedade, novas responsabilidades e sozinha eu não comia bem. Foi a junção de tudo isso”.

Para Giulia, apesar da situação difícil, essa libertação da dieta aconteceu num ambiente perfeito: São Paulo é um lugar onde as pessoas não olham e não julgam. “Isso ajudou a me enxergar de uma forma mais honesta, saber o que estava acontecendo comigo. Ao invés de me cobrar, eu comecei a me olhar com um olhar de admiração, de amor”.

“Foi importante viver essa experiência em São Paulo, porque lá eu tive liberdade para entender que o mais importante é a minha relação com o meu corpo e não o olhar do outro. Quando a gente entende isso, tudo flui melhor, pois paramos de nos preocupar com que o outro pensa. Meu corpo é a minha morada e eu o amo, por isso vou buscar o melhor: independente de como ele está naquele momento, cuidar da gente não é um problema desde que a saúde seja o foco. Emagrecer ou não seria a consequência. Nem sempre ser gorda está associada à doença e esse é meu biótipo”.

Esse divisor de águas em relação à sua imagem fez com que Giulia passasse a se preocupar com sua saúde. Giulia se integrou ao time de rugby e colocou o esporte em sua vida, alcançando medidas que a deixaram satisfeita com sua imagem. A rotina, no entanto, era puxada: faculdade pela manhã, trabalho à tarde e à noite e treino depois das 22 horas. Ela chegava em casa tarde e saia muito cedo. Na época que fazia as duas faculdades, o peso da rotina dobrou.

Ao lesionar o joelho, Giulia precisou abandonar o esporte, o que a fez ganhar mais 15 quilos. “Foi muito difícil, pois eu passei a ter um peso que nunca tive antes. Eu nunca tive uma ruptura com minha imagem como dessa vez”. E ao passar o choque, veio a consciência que tudo fazia parte do processo do momento de extremo estresse que vivia.

“Compreender meu momento, quando não conseguia manter uma rotina desejada, fez com que meu peso não impedisse de me ver como uma pessoa bonita e merecedora: eu mereço me amar, me vestir bem...”, disse sobre aquela fase. Com esse novo olhar sobre ela mesma, Giulia deixou de querer manter no armário roupas que não lhe cabiam mais. “Primeiro me perguntei sobre o que eu mais gostava e passei a comprar as roupas para viver aquela fase de minha vida”.

Ao definir seu estilo, Giulia começou a trabalhar melhor sua imagem. “O que mais diz sobre mim é a minha autoestima, meu estilo”, entendeu a estudante de moda e de maquiagem na época. “Muitas vezes as pessoas se veem fora do peso e elas deixam de se enxergar. Todos devemos nos aceitar, ver a forma melhor de nos cuidar... Acertar o corte ou a cor do cabelo, comprar uma roupa bonita... Se não existe uma roupa que eu gosto com o meu manequim, eu peço a costureira para fazer uma”, diz a moça que não abre mão do seu estilo.

E ela reforça que é a personalidade que valoriza a pessoa.“Nossa experiência, tudo que vivemos nos transforma.  E eu abraço as minhas dores e as uso para ser a minha força”, diz sobre olhar com sabedoria toda a sua trajetória e, com suas habilidades, transformar a sua realidade. ‘’Não é sobre romantizar a obesidade (muitos acham isso), é sobre tornar a forma como vemos a nossa imagem algo menos brutal  (a indústria da beleza pode ser brutal) e abraçar as diferenças como algo natural’’.

Sobre autoadmiração, Giulia acredita em sua descoberta de que 'a beleza está no nosso olhar e não no olhar que os outros têm sobre a gente, sobre o que somos. “Por mais que seja difícil, tento trabalhar de forma positiva a minha imagem para que através de mim, as pessoas possam se sentir bem também”.

 

Maquiagem, micropigmentação- Ela trabalha com beleza

Giulia toma atitudes de alguém que deseja ser inspiração. “Quero que pessoas de pele madura, acima ou abaixo do peso padrão, de rostos de diferentes proporcionalidades e com quaisquer diferentes características queiram evidenciar sua beleza pelas minhas mãos”.

Seus conhecimentos sobre maquiagem vêm da sua segunda graduação, mas sua experiência começou na adolescência, quando maquiava as amigas, familiares e as modelos que posavam ou desfilavam para as lojas da família. Sua visão de estética também a fazia arriscar em fazer os cabelos desse time de mulheres que acreditavam no talento daquela menina.

Quando concluiu o ensino médio, mesmo com o sonho de fazer moda no exterior, veio a dúvida sobre qual faculdade faria. Prestou vestibular em Vitória e em São Paulo e passou nas duas faculdades. Sua mãe, Marinei Juvanhol, a estimulou ir para a segunda capital e dedicar ao setor que tudo tem a ver com as atividades familiares e com o próprio perfil de Giulia.

Do meio para o final do curso, o mercado para os profissionais de moda estava muito concorrido e com uma remuneração muito baixa. Novamente, com o incentivo da mãe, Giulia começou a segunda graduação na única faculdade na área de estética e com ênfase na maquiagem do Brasil. A formação traz conhecimentos que envolve saúde estética e todos os tipos de maquiagem: artística, corporal (bodypainting), social, fotopassarela e efeitos especiais.

Giulia conciliou o primeiro período de maquiagem com o penúltimo de moda. Como estratégia, trancou esse segundo curso para finalizar o trabalho de conclusão de curso- TCC de moda. “Fiz trabalhos extras e também um pequeno empréstimo para investir no meu TCC sobre roupa de festa. Estavam incluídos dez looks, um editorial fotográfico e de vídeo e uma proposta comercial de modelo de negócio, além de um estande de apresentação (show room). Foi um gasto de mais ou menos uns R$ 15 mil, divididos entre os quatro membros do grupo de trabalho”.

Com o curso concluído com louvor, Giulia ficou mais dois anos e meio em São Paulo para fazer a faculdade de maquiagem. Neste período, ela trabalhou em um shopping, fez maquiagem social, fez editoriais de moda e também atuou com produtoras de eventos. Em uma dessas ocasiões teve a oportunidade de preparar o cantor Vitão para um show.

A crise sanitária gerada pela pandemia do novo coronavírus acelerou seu retorno para Venda Nova, para onde trouxe seu namorado. Além de se estabelecer como maquiadora no Salão Ilda Guimarães, cuidar do marketing das lojas da família (Santos Store e Hering) e colocar seus dotes de designer no projeto Maria Amorim Atelier , Giulia deu mais um passo na vida: montou um apartamento junto com sua cara metade... Essa menina/mulher promete não parar por aí, conquistando tudo que tem direito e muito mais!

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