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Receitas de família no Restaurante Nossa Vida

Receitas de família no Restaurante Nossa Vida

Data de Publicação: 26 de julho de 2019 16:54:00 Cozinha tem produção própria de massas e linguiças e prepara pratos com ingredientes frescos da horta e do sítio da família

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Diante do casarão, ladeiam o patriarca Ambrósio Falquetto, os seis irmãos/sócios do Nossa Vida.

Que tal almoçar uma polenta feita no fogão de pedra, com carne conservada na lata e legumes grelhados na manteiga de ervas? Estas são apenas algumas das opções do Restaurante Nossa Vida, que há um ano funciona num casarão lindo, construído por seis irmãos em Venda Nova.

Três versões de polenta estão quentes no fogão: a polenta mole preparada no panelão de ferro, que começa a ser cozida às 9h30 e fica pronta às 11 horas; a polenta brustolada na chapa e a 'porca polenta', uma versão com linguiça oferecida em dias alternados. O milho especial colhido na região passa por uma seleção rigorosa dos grãos e depois se transforma em fubá no moinho de pedra da família Falchetto. “A medida que a polenta vai cozinhando o fubá vai soltando seu óleo que parece que colocou manteiga na receita”, observa Ione Falchetto Vargas, uma das sócias do empreendimento.

As linguiças, assim como os molhos e as massas caseiras, talharim e canelone, são feitas na cozinha do próprio restaurante sob o comando de Regina Falchetto, que é uma das colaboradoras da cozinha da Festa da Polenta. O talhariam pode ser apreciado com molho à bolonhesa ou com ragu de linguiça.  Já o canelone é servido na versão com puína e alho poró ou recheado com presunto e queijo. Os legumes são grelhados na manteiga de ervas da horta, que fica atrás da edificação e onde se colhe diariamente o alho poró, as ervas e outras verduras frescas.

Assim como a polenta e as massas caseiras, a carne na lata está entre os atrativos gastronômicos mais procurados pela clientela. Toda semana as carnes são preparadas e colocadas na banha e vão para a fila do sistema de conserva, saindo para o salão de acordo com a ordem de preparo.

Antes de irem para a panela, para o forno ou para serem grelhadas, todas as carnes (boi, porco ou frango) ficam marinando por 24 horas ou mais. Os molhos são feitos com cebola, alho, temperos verdes, cenoura e outros. A marinação padroniza os temperos, obtendo sabor igual, tanto no interior quanto na parte periférica da carne, tornando-as mais macias e suculentas, melhorando o resultado ao assamento em altas temperaturas, sem que desidratem excessivamente. Por possuírem sabor levemente ácido, as carnes marinadas combinam com pratos como purês, suflês, polenta, saladas, batatas, e, é claro, o arroz branco.

Quem explica um pouco das técnicas para conseguir os sabores é o chef Renato Santos, que foi contratado pela família com indicação do chef Ari Cardoso, que assessorou os sócios na concepção do restaurante.  Santos destaca também os escondidinhos, em especial o de banana com carne seca, dentre os pratos oferecidos na Casa. “A banana da terra, assim como a maioria dos ingredientes, é oriunda da região, da horta da casa ou do sítio da família. O prato traz o contraste do doce da banana com o sal da carne seca, o que agrada bastante os clientes”, destaca o chef.

A rotina semanal divide os dias entre as produções de massas (talharim, canelones, lasanhas e empadão), de carnes e de molhos. Os molhos também são produtos da casa com matéria-prima selecionada junto aos produtores e feirantes locais e os temperos da horta.

Para dar conta do preparo dos alimentos que vão compor o fogão e o buffet do self service, a rotina diária do restaurante começa às 7 horas.  O cardápio valoriza as verduras que estão mais bonitas e abundantes na horta, assim como a produção do sítio.

Saladas

Outro destaque fica por conta das saladas, a cargo de Lúcia (uma das irmãs) com variadas combinações e cortes, mesclando frutas, folhas e legumes. A pupunha, de produção própria, também agrega originalidade às ofertas e é a base de um delicioso carpaccio. Esta parte do buffet conta ainda com molhos preparados especialmente para os pratos frios. A salada tropical leva molho de maracujá, folhas e frutas, por exemplo, e faz muito sucesso entre os clientes.

Sobremesas

Sobremesas criativas e atuais se somam aos tradicionais doces caseiros.
Os ingredientes vêm do quintal e tudo é feito na cozinha do restaurante, com capricho, carinho e zelo.

Logo na entrada, um balcão frio expõe as tortas feitas na cozinha da Casa. São 'cheesecakes' nas versões de limão, morango e frutas vermelhas, que chamam a atenção pela beleza e pelas cores. Os mais apaixonados nem esperam pelo almoço para saborear uma fatia.

A receita da base da torta de frutas vermelhas é feita com puína, o que confere o diferencial de não ir ao forno e ter uma cremosidade e sabor específicos. Para a mesma receita, a cozinha também aproveita as frutas de época e, por isso, com produção sazonal, como é o caso as feitas com as nêsperas colhidas em um pé do quintal.

Os doces caseiros formam outra opção de sobremesa. São feitos com frutas do sítio e do quintal, como a dos dois pés de jacas do jardim em frente ao restaurante. Também ali estão 10 produtivos pés de jabuticabas, que rendem deliciosas geleias.

Antigamente era muito comum as famílias produzirem compotas como modo de aproveitar a abundância das frutas da safra. Deste modo, produzia-se muito doce de figo, de mamão, de abóbora e de banana. Somando-se a estes, o restaurante oferece os doces de laranja kinkan.

“De vez em quando um de nossos irmãos passa aqui e deixa uma penca de banana, umas jacas, assim como uma caixa de chuchu, de abóbora ou de inhame”, diz Ione. A equipe da cozinha refaz seus planos de trabalho e logo entra em ação para aproveitar esses ingredientes de qualidade.

A filha mais nova de Ambrósio ressalta que, apesar de o investimento ser de seis dos 13 filhos, todos se envolveram e ainda se envolvem, contribuindo cada um à sua maneira para o sucesso do restaurante Nossa Vida.

E quando o assunto é união e continuidade, envolver as novas gerações (formada pelos netos de Ambrósio) é fundamental. Por isso a família incentiva os mais jovens em projetos e produtos a serem comercializados no restaurante, como e o caso do chocolate artesanal e da banana passa. Têm ainda as produções de cerveja artesanal, de cachaça, de queijos e de cafés especiais.  Além de experiência de gestão, essas iniciativas agregadas ao restaurante são formas de manter a família unida e evitar o êxodo dessa mão de obra especial do município.

O casarão

A edificação do Restaurante Nossa Vida por si só é um grande atrativo. Com sua arquitetura de extrema beleza, o casarão tem história e valoriza elementos da arquitetura do imigrante italiano.

Com paredes brancas, janelas azuis e guarda-corpo dos varandões no mesmo tom, o casarão é encantador. Toda madeira é do reaproveitamento do desmanche de outra casa, que foi comprada pelas irmãs.

Isabel Falqueto, encantada com o casarão de Eugênio Caliman, em Lavrinhas, sugeriu ao dono ajudar a reformar o imóvel. Mas ele quis vender e ela propôs a compra em sociedade com as irmãs. Elas se uniram também para a nova construção do terreno herdado e a ideia inicial era de fazer uma pousada.

No entanto, elas fizeram uma pesquisa e verificaram a inexistência de um restaurante com comida caseira típica com espaço para receber famílias inteiras. “Aqui as famílias trazem as crianças, que se divertem no jardim. Tem espaço para elas correrem e ainda podem colher jabuticabas e até trazerem seus pets, que têm lugar para ficar”, observa Isabel.

A madeira centenária está em quase 100% da obra, sendo que todo piso é de cedro e braúna. O uso de vidro deu um charme especial, assim como o ladrilho hidráulico nos detalhes e o piso do térreo de pietra grígia, substituindo o cimento queimado.

A edificação é uma verdadeira obra de arte que contou com as mãos caprichosas dos irmãos Leo e Lubs, primos dos sócios, e de Ademar Falqueto, um dos proprietários. Eles não mediram esforços para fazer com perfeição todos os encaixes de madeira, demonstrando refinado conhecimento em carpintaria. São mais de 700 metros quadrados de obra num terreno que ultrapassa 10 mil metros quadrados.

Nas paredes, as fotos antigas adornam e contam um pouco da história da família. Chama atenção o certificado de reservista do patriarca Ambrósio Falqueto, emitido pelo então Ministério da Guerra. Ele, que foi convocado para a Guerra em 1940, tem sua descrição física no curioso documento: rosto redondo, nariz grande e boca pequena.

E é claro, não poderia faltar imagens da matriarca, Lucina Zandonade Falqueto, que inspirou o nome do empreendimento. “Nossa Vida” era a expressão que ela usava com frequência e para comentar sobre todo e qualquer tipo de fato ou assunto depois que teve um AVC.

Os bordados feitos por Ione por ocasião do projeto “Nossa Vida Bordada” foram transformados em corações decorativos e ela se encarregou de fazer outras peças transformadas em quadrinhos graciosos. Foi mais um toque de delicadeza, que rememora as tradições familiares.

“Tornar realidade o projeto do Restaurante significa valorizar a terra adquirida com muito sacrifício pelos nossos antepassados. Foi muito trabalho no cabo da enxada e agora queremos deixar esse legado para as próximas gerações”, diz Ione, com o aval da irmã Isabel e de todos os outros que se empenharam para construir o Nossa Vida.

Com elementos que remetem ao passado e com a força viva dos seis irmãos envolvidos no projeto, o Nossa Vida oferece muito mais do que um comida deliciosa. Os clientes são recebidos com alegria pelos irmãos Ademar e Elda, numa indicação de que almoçar ali será uma experiência inesquecível: é um abraço carinhoso em quem gosta de se conectar com o simples e o belo da vida.

De volta, a família também recebe muitos abraços dos clientes, que se deixam encantar pelo projeto. E se encantam principalmente quando o patriarca Ambrósio fica sentado na cadeira de balanço logo na entrada do Restaurante. São muitas histórias e confidências de um homem que aprendeu a se comunicar sem rodeios. Muitos clientes não se esquecem e mandam de longe, por mensagem, um outro abraço para ele, que encontrou mais um sentido para a vida nas vésperas de completar 100 anos.

Por que Nossa Vida?

“Nossa Vida!” era a expressão que a matriarca Lucina utilizava para qualquer situação em seus últimos anos de vida. Com esse repertório, ela passava todos os seus sentimentos, diferenciados pelo tom da voz, se fazendo entender por aqueles que mais a amavam: filhos, filhas, netos e bisnetos!

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