Ela incluiu a polenta no cardápio das festas de casamento
Data de Publicação: 28 de junho de 2019 16:47:00 Nascida na comunidade de Lavrinhas, Angélica Falqueto Altoé começou a cozinhar na família e hoje prepara alimentos para centenas de pessoas. Uma comida saborosa, com jeito de antigamente, traz nos temperos e em outros detalhes os segredos que a tornam tão gostosa
Angélica e Alberto entre parte da equipe da cozinha: Águeda Lúcia Falqueto, Laci Olímpio, Usília Falqueto
Morosini, Iracilda do Carmo da Silva, Maria Vera Paraíso Ferrari e Penha Andreão Delpupo.
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A variedade de opção de comida é grande. São pratos simples, de extremo e apurado sabor, montados de acordo com a preferência dos clientes. Polenta, macarrão, molho bolonhesa, queijo, carne de boi, frango e porco, farofa e linguiça estão entre as ofertas do buffet comandando por Dona Angélica, 78 anos.
Dona Angélica traz na experiência a convivência com a mãe, Adelina Lorenção Falqueto, e com a irmã mais velha, Odila. “Comecei a cozinhar em casa. Era polenta todos os dias, além do arroz e do feijão. Como mantínhamos uma horta, sempre tínhamos muitas verduras no prato: alface, almeirão, couve, abobrinha, taioba, repolho, vagem, jiló...”
E era da horta que vinham os sabores especiais dos temperos. “Preparávamos um pesto com toucinho, cebola verde e alho- a gente usava muito alho- para temperar o feijão e verduras, como a vagem. Era tudo feito na hora”, relembra Dona Angélica.
E um dos segredos da deliciosa salada de verduras cozidas preparada por ela é justamente o tempero. Dona Angélica faz uma espécie de pesto, com vários tipos de ervas, para temperar a salada que mistura palmito, chuchu, batata, couve flor, brócolis e cenoura. “Praticamente todos que encomendam nossos serviços incluem a salada nos pedidos”, diz atestando o sucesso do prato.
A polenta, um dos carros chefes, também está entre os pratos de memória afetiva. No fogão da casa sempre tinha um panelão com água fervente. Logo cedo, o fubá ia sendo jogado aos poucos e mexido o tempo todo com uma colher de pau, até virar uma deliciosa polenta. O fubá era moído no moinho de pedra toda semana e armazenado na 'panara', um caixote de madeira, que ficava na despensa. “O fubá era peneirado dentro da bacia na hora de ir para a panela, ali mesmo na panara”, relembra Angélica.
Com Alberto, esposo e companheiro que sempre a apoiou em seus desafios no trabalho. |
Vários costumes, como colocar carne seca para cozinhar junto com o feijão, ou armazenar na lata de banha a carne (tanto de boi quanto a de porco) depois de preparada, fazem parte das experiências que apuraram as técnicas e percepção de sabor de Dona Angélica.
Aos domingos, tinha que ter o macarrão e galinha. O molho feito com cebola de cabeça, alho bem frito e linguiça desfiada dava sabor ao macarrão caseiro. “A massa era preparada no dia anterior, assim como a galinha sacrificada na véspera. Demorava cozinhar e todo trabalho precisava começar no domingo bem cedo. E, como era de preparo lento, a comida ficava muito saborosa. Era um banquete para nós que vínhamos da igreja”.
Em maio de 1962, ela se casou com Alberto Altoé. Mudou-se para casa dos sogros, Elvira Perim e Pedro Altoé, na Providência, na parte mais central da comunidade. A nova família tinha alguns hábitos alimentares diferentes, considerados sofisticados para a época. Eram ingredientes novos e mais dosados para pasteis, tortas, empadões e outros pratos orientados por livros de receitas que passaram a fazer parte da rotina de Angélica.
Ativa na comunidade, sua ajuda era solicitada e com os cozinheiros da época (Alcino Falqueto, Rafael Zandonadi e outros) foi adquirindo mais conhecimentos. Passando a cozinhar nos encontros teológicos, de adolescentes, de jovens e de casais promovidos pela igreja em Venda Nova. Ela e sua irmã Odila, assim como outras pessoas da comunidade (Verônica Delpupo, Maria Caliman Falqueto e Penha Andreão Delpupo) se uniam para cozinhar voluntariamente para as festas de casamentos locais.
Como a comunidade foi crescendo e, junto, a demanda para as festas, há 32 anos, Dona Angélica passou a cobrar pelos serviços formando uma equipe com essas pessoas que já se reuniam para cozinhar. No casamento de Eliane Falqueto com José Lúcio Falqueto inaugurou-se a polenta no cardápio a ser servido na festa. Foi a pedido do pai da noiva, Ângelo Falqueto (o Angelim).
O casal Alberto e Angélica com os seis filhos: Adauto, André,
Adriano, Aroldo, Auxiliadora e Alessandra.
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“Muitos acharam um absurdo, mas a maioria aprovou e ficou comum a presença da polenta nos cardápios das festas”. Angélica lembra que Angelim fez o pedido porquefazia parte dos costumes de várias gerações comer polenta com carne de boi de panela. “Fizemos então a versão cremosa, que foi servida com carne espatifada com caldinho”.
No fogão a lenha
Angélica com a irmã Odila Falqueto Minete no trabalho da cozinha. |
No início toda comida era preparada nos fogões a lenha no Colégio Salesiano, na mesma cozinha onde eram feitas as comidas da Festa da Polenta. Quando passou a cozinhar profissionalmente, Dona Angélica e seu marido Alberto resolveram construir em casa, uma cozinha para este fim. Foram começando aos poucos e hoje conta com uma estrutura de mais de 100 metros quadrados, com quatro fogões a lenha, um forno industrial, depósitos da matéria-prima, de utensílios de cozinha e de louças.
Além dos temperos, o tempo de cocção está entre os segredos do sabor dos alimentos. Com uma agenda cheia de encomendas- ela cozinha para festas de casamentos, de aniversários e de comunidades- a equipe tem uma rotina puxada, pois são várias fases de um trabalho que só termina quando ela retorna do evento e guarda de volta todo seu material.
“O trabalho começa uns dez dias antes com a lista de compra, que é feita baseada na quantidade de convidados. O ritual de pré-preparo começa na véspera, com verduras e legumes sendo descascados e picados e carnes, temperadas. No dia do evento, se for um almoço, a equipe começa a trabalhar bem cedo. Quando é um jantar, pelo menos eles esperam o dia amanhecer.
Para conseguir trabalhar a contento, o casal investiu em muitos utensílios e equipamentos chegando a adaptar um batedor usando o motor de uma furadeira. “Apesar de um local simples, foi na nossa cozinha que fizeram o teste do lavador/escorredor de macarrão usado na Festa da Polenta. E também alguns outros testes de produtos para o evento’’, relembra.
Dona Angélica esteve entre as pioneiras da cozinha da Festa da Polenta. Ela conta que começou a trabalhar no segundo ano da Festa, ainda no pátio da Escola Fioravante Caliman (Colégio Salesiano). “Eu estava na Festa e percebi um grande tumulto na cozinha e fui ajudar lavando os pratos, que eram de louça na época. Continuei no ano seguinte e passei a ajudar a cozinhar também, fazendo parte da equipe do macarrão. Trabalhei por quase 30 festas. Ainda, quando precisam, faço polenta para a Afepol, quando vão participar de alguns eventos fora de Venda Nova”.
O sabor da comida preparada por Dona Angélica traz as experiências que teve na casa paterna, depois com os sogros e também com os trabalhos na comunidade, em especial na Festa da Polenta. Sempre que vai preparar os pratos de festas maiores, ela, seu marido e sua família contam com um grupo também muito experiente: Penha Andreão Delpupo, Vera Paraíso Ferrari, Águeda Lúcia Falqueto, Usília Morosini, Laci Olímpio, Iracilda e mais outras pessoas, de acordo com a necessidade. Uma ajuda especial também vem dos netos Jonas e Gabriel, que integram a equipe.