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O voluntariado e o associativismo na raiz do desenvolvimento de Venda Nova

O voluntariado e o associativismo na raiz do desenvolvimento de Venda Nova

Data de Publicação: 26 de abril de 2019 16:13:00 Do trabalho braçal aos sofisticados sistemas de organizações, a doação das lideranças e liderados na construção dos benefícios coletivos

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Com formação em direito, foi um dos vereadores do primeiro mandato da Câmara de Venda
Nova, quando foi instituída a Câmara Constituinte. Empresário, é o atual presidente
do Hospital Padre Máximo e do Sicoob Sul-Serrano.

Recentemente estava em um ambiente onde citei os 60 anos do hospital Padre Máximo, quando duas pessoas que se encontravam presentes foram rápidos a dizer: “eu ajudei e fazer a praça para a construção no enxadão".

Num ambiente mais ampliado, certamente muitos diriam o mesmo. Ainda muitos dos desbravadores das entidades de Venda Nova estão vivos e acredito que a maioria também iria se lembrar dos "mutirões", sempre utilizando expressões parecidas, para descrever como foram edificadas as igrejas, as canônicas, as escolas, as estradas, o hospital... Enfim, na base do trabalho braçal, voluntário, sem interesse individual e com a certeza de estar, coletivamente, contribuindo para o seu próprio bem estar, sempre compareciam.

Por estarmos numa região de forte influência religiosa, dentre as primeiras denominações atribuídas às lideranças das comunidades que surgiam está a de "fabriceiros". Normalmente eram quatro pessoas eleitas pelas famílias que frequentavam tais ambientes. Com mandatos previamente estabelecidos, tinha a responsabilidade de coordenar e desenvolver as comunidades que os escolhiam.

Com os anos, foram se exigindo a formalização destes movimentos. Talvez o movimento formal mais antigo genuinamente local tenha sido a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Venda Nova.

Numa fala de fácil compreensão, foi dado personalidade jurídica aos movimentos que estavam no âmago de vários empreendedores que, como disse, queriam o bem estar seu e de suas famílias. Queriam o progresso. Queriam o serviço, queriam ter onde se proteger.

Como hoje, já na época tinha que ter pessoas que, eu ouso dizer, emprestam o nome, para se responsabilizar pelo negócio de alcance coletivo. Nas Cooperativas o modelo sempre foi parecido com o atual. A Assembleia Geral é o órgão máximo, que elege entre os associados o presidente, vice presidente, Conselho de Administração, Conselho Fiscal.

Alguém tem que assumir tais cargos. Muitos assumem, sem sequer saber o grau de responsabilidade que o posto lhe incumbe. Parece confuso o que cito, mas exemplifico: meu pai Euzaudino Venturim, que só sabia basicamente escrever o nome, era do Conselho Fiscal da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Venda Nova, quando, a mesma precisou ser incorporada pela Cooperativa de Iuna nos anos sessenta. Fica mais clara minha citação de que as pessoas emprestavam e emprestam o nome, hoje CPF?

Hoje tudo está regulado por leis que, no Brasil, não é permitido que, sequer analfabetos, as desconheçam. Mas, mesmo assim, pergunta que não se cala: O que seria da sociedade sem essas pessoas corajosas que, voluntariamente se colocam à disposição? Carregam consigo a esposa ou esposo, os filhos e filhas, em última análise os seus próprios bens.

Talvez hoje a entidade com maior visibilidade desse modelo de gestão voluntária seja o Hospital Padre Máximo. O Conselho de Administração formado por cinco membros e o Conselho Fiscal formado por três membros, todos voluntários, eleitos pela Associação Filantrópica Hospital Padre Máximo, são responsáveis por uma despesa mensal superior a um milhão de reais. Quase 90% de recursos públicos. Na entidade prestam serviços mais de 200 pessoas. Assinam contratos com mais de 20 prestadores de serviços de manutenção de equipamentos ou similares.

Diariamente assinam documentos que, se por acaso, derem algum tipo de problema, podem ser responsabilizados, carregando, como já disse, a família junto. Mas o modelo é esse. Para ser de caráter filantrópico, porta aberta 24 horas, conveniado ao SUS, gozar das isenções previstas em Lei, os órgãos de administração têm que ser voluntários.

Podem contratar uma Associação, devidamente constituída pra fazer gestão hospitalar, e atribuir a ela a Gestão do Serviço Hospitalar. O exemplo mais conhecido é o Samu. Trata-se de um serviço público, muito bem avaliado pela população, porém é administrado pela Associação da Santa Casa de Vitória, a qual é gestora da própria Santa Casa. O hospital Jaime, o Hospital Central, o Hospital de Santa Tereza, são outros exemplos que são geridos por uma Associação.

Podem ser denominadas ONG, instituto, Osip, etc. Tem que ser este modelo para não perderem o Cebas (filantropia).

Um outro exemplo é o Sicoob. Uma instituição financeira cooperativa, cujo administração é feita por pessoas que se candidatam aos cargo estabelecidos no Estatuto Social. Esta entidade em alguns aspectos. Se diferencia, principalmente porque tem a regulação do Banco Central do Brasil. Também por fazer parte do Sistema Financeiro Nacional. A responsabilidade dos gestores, além das citadas neste texto, tem as alusivas à legislação que regula o funcionamento e a comprovação de conhecimento técnico para o exercício da função.

Mas, para efeito da matéria hora apresentada, guarda similaridades. O órgão máximo é a assembleia geral, que elege os conselhos de Administração e Fiscal. O Conselho de administração escolhe a Diretoria Executiva. Os candidatos aos Conselhos precisam pertencer ao quadro social e ter seus nomes aprovados pelo Banco Central do Brasil.

No Cooperativismo podemos citar os bons exemplos em outros ramos. No ramo educação a Coopeducar. No ramo laticínios, a Selita. No ramo Saúde, a Unimed. No ramo agropecuário, a Coopeave. No ramo transparente a Cooptac.  Poderíamos também descrever comentários sobre cada uma delas. Todas cooperativas são regidas pela Lei 5.764/64. Algumas com legislações de regulação mesmo.

Existem muitas outras entidades que participam ativamente do desenvolvimento dia sociedade civil. Se nos prendermos ao município de Venda Nova do Imigrante, poderíamos citar muitas outras. A Associação Festa da Polenta- Afepol, a Associação de São João de Viçosa, a Associação do Caxixe e muitas outras.

Entretanto, saindo do território acima citado, vamos encontrar um grande número delas. A título de exemplo vamos citar a Associação Festa do Morango – Afemor, que promove o evento na comunidade de Pedra Azul, a Ativas, que atua fortemente em Conceição do Castelo, a Associação do Carro de Boi de Afonso Cláudio. Etc.

Tem também entidades como Maçonaria, Rotary. São estruturadas com viés parecido. Porém são organizadas obedecendo orientação mundial.

Mas, buscando finalizar o artigo, quero afirmar alguns pontos que precisam ser considerados quando o assunto é construir um bem coletivo.

1- A sociedade civil é capaz de resolver suas necessidades. É preciso que as pessoas percebam isso é se espelhem nas boas práticas.

2 - Aos órgãos públicos, legalmente constituídos, deverá ser atribuído as funções de organização e regulação. Vivemos numa democracia. Vence a maioria, mas a convivência deve ser entre todos.

3 - Sempre haverá necessidade, tanto nas entidades da sociedade civil como nas repartições públicas de lideranças comprometidas, sérias e com vocação para lidar com pessoas. Que emprestem sim seus nomes, CPF, prestígio, influência, conhecimento para contribuírem para o bem estar coletivo.

4 - As pessoas precisam valorizar os corajosos líderes e ajuda-los na dura missão de liderar pessoas com desejos e vontades muito diversas.

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