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Camocim: a primeira fazenda de cafés no Brasil com certificado do mais alto padrão de agricultura orgânica no mundo

Camocim: a primeira fazenda de cafés no Brasil com certificado do mais alto padrão de agricultura orgânica no mundo

Regenative Organic Certified- ROC é a mais recente conquista da fazenda de Henrique Sloper, em Pedra Azul, que recebe turistas para uma experiência de produção de café na agroflorestal

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Com um projeto de produção orgânica e regenerativa, a Fazenda Camocim, em Pedra Azul, Domingos Martins, oferece um turismo de experiência inovador em torno da produção agroflorestal de cafés especiais. A fama conquistada com o Jacu Coffee é apenas uma particularidade se considerarmos a amplitude do sistema de produção dos grãos que prioriza a relação de respeito e conexão e preservação da natureza.

Todas os processos biodinâmicos abraçados ao longo da trajetória resultaram em importantes reconhecimentos e o mais recente é o Regenative Organic Certified- ROC. “Em 2023 começamos a trabalhar esse novo reconhecimento e estamos muito honrados em ser a primeira fazenda de café no Brasil com essa certificação revolucionária. A ROC representa o mais alto padrão para a agricultura orgânica no mundo, com requisitos rigorosos de bem-estar animal, saúde de solo e justiça social”.

Henrique Sloper, CEO da Fazenda Camocim, faz esta afirmação e ressalta que tudo começou em 1996, quando seu avô, Olivar Araújo comprou a fazenda e se tornou um colecionador de árvores. “Ele morreu com 101 anos e deixou um legado, não uma herança. Prosseguimos com as iniciativas comprometidas com o meio ambiente e resistindo às especulações imobiliárias”.

Com experiência biodinâmicas, a propriedade se tornou um corredor ecológico de mata atlântica tropical a mais de 1.200 metros de altitude, com um microclima ideal para produção de especiais. São mais de 450 mil pés de cafés plantados em sistema agroflorestal, uma prática que usa as potencialidades da floresta a favor da lavoura. Somente em 2023, mais de 1.500 mudas de árvores nativas foram inseridas na área de café, proporcionado sombra, enriquecimento do solo e controle natural de pragas.

Dentre as práticas, numa parceria com o Apiário Florin, desde 2010 a fazenda mantém 50 colmeias distribuídas no cafezal, uma integração que resultou no aumento de 25% da produção de café e uma tonelada de mel.  “As abelhas possuem um importante papel na manutenção da biodiversidade, na preservação dos recursos naturais e na produtividade agrícola”.

De acordo com Sloper, todas essas práticas reunidas fazem com que a fazenda tenha produtividade mais alta que a média nacional das lavouras de orgânicos. “A agrofloresta é um mitigador de risco, pois tem muita umidade e atua como regulador de temperatura. Por aqui sempre fica entre dois e três graus mais frio do que na parte urbanizada de Pedra Azul”, disse sobre o que considera um auxiliar no ajuste para o efeito do aumento das temperaturas no planeta.

 

Redes e parcerias

A Fazenda Camocim conta com uma rede conceituada de cafeterias, micro torrefações e torrefações em mais de 27 países, para os quais são exportados 85% do volume de café produzido. Essa mesma rede importa outros produtos, como os chás da casca e da flor de café. “Nesse tipo de cultura é permitido aproveitar a planta inteira. Aproveitamos tudo que é do café”.

Esses parceiros internacionais se somam ao seu movimento local de impacto socioambiental positivo, que é tocado pelos colaboradores. As contratações priorizam os profissionais do entorno e a equipe é formada com 25 pessoas, sendo cinco embaixadores estratégicos da marca no exterior e três alunos de mestrado e de pós-graduação do Ifes.

“O Coffee Design é um centro de inteligência, conhecimento e tecnologia em café muito importante”.  Sloper ressalta a elementar parceria com esse programa do Ifes, que conta com um forte aporte do Sicoob, Cooperativa de Crédito da qual a Fazenda também se vale para obter linhas de crédito. “É a nossa principal parceria financeira”.

Dentro dos projetos em andamento da Camocim está a pesquisa para gerar crédito de carbono. Num mecanismo que permite a compensação de emissões de gases de efeito estufa, trata-se de uma moeda que a fazenda irá gerar que pode ser comprada por empresas e países que não conseguem atingir as suas metas de redução de emissões.

 

Experiência pela agrofloresta

Rogério Lemke, da equipe Camocin, é o porta voz que conduz os visitantes para a incursão à agrofloresta no chamado turismo de experiência. Ao compartilhar com entusiasmo e sabedoria todo o processo, do plantio à xícara, ele se revela um profundo conhecedor do projeto agroambiental da Fazenda.

Famosa pelo Jacu Coffee, um produto que surgiu para resolver um problema na propriedade, a fazenda tem muito mais a mostrar. “O grande número de jacus, ave que come os melhores frutos do cafeeiro, aqueles sem defeitos e completamente maduros, era um problema e se tornou uma solução rentável. Esse café preparado com os grãos retirados das fezes do pássaro trouxe visibilidade para a Fazenda e também para a região e para o Espírito Santo”.

Desde 2021 está estruturado um programa de visitas guiadas e desde então passaram por lá mais de 5.000 pessoas. São estudantes e professores de vários níveis de ensino, pesquisadores, apreciadores e curiosos sobre os cafés orgânicos, biodinâmicos e cultivados na agrofloresta. A propriedade se prepara para ampliar essa iniciativa que funciona como propulsora da educação ambiental, disseminadora das práticas regenerativas e como divulgadora do trabalho no campo.

Rogério, que está há 17 anos na Camocim, se orgulha da conquista do ROC e de todo o caminho percorrido antes de receber esse certificado. “Nem todos que produzem orgânico são necessariamente socialmente justos, principalmente fora do Brasil. Nosso país é o que mais se preocupa com a natureza e o ser humano. E cuidar das pessoas está entre os fatores que atrai visitantes para conhecer nossa produção”.

“Quem chega à propriedade encontra todos os colaboradores cuidadosamente uniformizados, usando equipamentos de segurança e é fácil o preparo de cada um para a atividade que exercem. Fomos todos preparados pelo Sebrae para o turismo de experiência, por exemplo”, relata Lemk. Ele também afirma que todos os trabalhadores se beneficiam da produtividade, que varia ano a ano, e que há uma boa expectativa para a próxima safra.

 

A cafeteria no lago

Funcionando num prédio que inicialmente foi concebido para receber os compradores de outros países, a cafeteria com um balanço sobre o lago compõe com perfeição a beleza visual do lugar.

Toda emoldurada por vidros, a edificação permite a visualização completa dos lagos e das matas. No espaço são preparados os cafés. Ritual no qual a proporção do pó em relação à água, ponto de fervura e outros detalhes são rigorosamente observados.

Quando  foi comprada na década de 1960, a propriedade era uma fazenda de gado e os dois lados do vale eram formados por pastagens, com solo pisoteado e em degradação.

O reflorestamento recuperou as nascentes, que na época de chuva chegam ao número de sete. E as águas que brotam da terra ou as formadas pela chuva são filtradas pela vegetação e escorrem pelos dois lados do vale, enchendo naturalmente a represa e formando o lago que nunca abaixa o nível. Como não é necessário irrigar o café, o excedente da água beneficia os vizinhos.

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