FAMÍLIA SOSSAI - As lembranças da nonna Amália Elizabeta Sossai
Uma colher de vinho logo pela manhã para a italiana que cresceu no Brasil e teve dez filhos
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Amália Elizabeta Sossai, que se casou com Francisco de José Altoé no dia 20 de maio de 1903 no distrito de Jaciguá, Cachoeiro de Itapemirim, é a quinta filha de Pietro Noè Sossai com Elena Caliman. Ela foi uma das filhas do casal a nascer na Itália: no dia 4 de outubro de 1884, falecendo no dia 30 de maio de 1976, com 93 anos de idade, em Boa Esperança, Jaciguá.
Amália e Francisco tiveram dez filhos: Assunta Altoé ( + 1952), Clemente Altoé, Benjamim Altoé, padre Cleto Altoé, Brígida Altoé, Abel Altoé, Josephina Altoé, Irmã Lúcia (trabalhava no orfanato), Irmã Amália (Cristo Rei) e Catarina Altoé.
Seu neto Eloy Altoé, que é filho de Abel Altoé, traz um pouco da história de vida de Amália. “Ela contava que foram de carro de boi até o porto para embarcar no navio para da Itália vir para o Brasil. Quando aqui chegaram, todos foram morar em Matilde, Alfredo Chaves. A família passou muitas necessidades, pois não tinha o que comer e muitas vezes colhia os brotos e talos de samambaias para refogar e se alimentar”.
Posteriormente, já adulta e casada com Francisco José Altoé, se instalou em Boa Esperança, Jaciguá, passando a morar em um sítio distante da igreja. Aos domingos vinham a pé para a missa e a nonna Amália fazia o trajeto acomodada no silhão do cavalo, uma espécie de montaria antigamente destinada especificamente para as mulheres.
Seu neto conta que ela sempre ia passear na casa dos filhos, onde ficava por uns três ou quatro dias, e, quando uma de suas filhas estava para ter neném, prolongava sua estada com o objetivo de ajudar nos primeiros dias. “Eu sempre ia com ela visitar os parentes. Também fui com ela em Venda Nova, na casa de seus irmãos Jerônimo e João. Eu gostava muito de ir lá. Tinha uns pés de pera e de manhã cedo eu corria embaixo dos pés para catar as frutas maduras que caiam”.
Amália gostava de flores e de cuidar da horta. Seu neto conta que ela plantava 'radici' e outras verduras. “O 'radici' era muito bom. Nunca mais consegui a planta. Perdi a espécie que tem aquele amargo muito bom. Ela também cuidava das galinhas, patos, marrecos, galinholas…”, conta sobre as atividades da saudosa avó.
Uma certa vez a Brígida, tia de Eloy, lhe deu uma galinha suruca, presente que gerou uma situação triste e ao mesmo engraçada para a sua infância. “A nonna me disse que ia destinar a galinha para chocar. Quando sentava na pedra para dar comida para a criação, a nonna ficava espantando as outras para a suruca conseguir comer. Dava varadas para lá e para cá e, por infelicidade dela, numa dessas vezes acertou uma paulada na cabeça da suruca e a matou. E para me contar? Ela ficou toda sem jeito. Coitada... Foi sem querer”.
Apesar do pequeno desastre com a ‘suruca', nonna Amália era uma mulher muito jeitosa. Ela ia no cortiço e conseguia limpar todas as casinhas das abelhas sem levar uma picada. Eloy fala de suas habilidades, pois “tinha jeito em lidar com as bichinhas e cuidava bem delas. Já o nonno tinha que passar longe para não levar picada”.
Eloy se recorda que quando o nonno Francisco morreu, ela quis morar mais perto da igreja. Então ele resolveu fazer sua casa no loteamento do senhor Rafael Altoé e ela passou a morar com ele. “A gente rezava ajoelhado toda tarde. Ela era bem quieta, gostava de rezar. Tia Brígida, o Clemente e o papai eram muito parecidos com ela. Acreditam que herdaram o jeito dela”
Também faz parte das lembranças da família, o hábito da avó em tomar diariamente e em jejum uma colher de vinho.“Ela sempre tinha disponível uma garrafa de vinho 'Casal Velho'. Quando acabava, ela colocava a garrafa vazia na mesa para gente comprar outra. Ela era muito boazinha”, relata Luiza Cricco Altoé, esposa de Eloy. “Ela também mantinha no quarto uma garrafa de cachaça com arnica para medicar os netos quando reclamam de dor de barriga”, completa.
Amália morreu com todas as honras. “Era o dia da inauguração do campo de futebol de Boa Esperança. Eloy era presidente do clube e participava da recepção para as autoridades e apoiadores. Foram chamá-lo e o Ferraço, prefeito de Cachoeiro, perguntou: 'Por que ele saiu correndo?' 'Porque a avó dele está passando mal.'”. Sua esposa conta que ele largou tudo e foi lá. “Eu lembro como se fosse hoje. Ele estava agarrado na mão dela e rezou um Pai Nosso. Aí ela morreu”.
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