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FAMÍLIA SOSSAI - Olga e a saga dos Sossai para o Norte do Espírito Santo

FAMÍLIA SOSSAI - Olga e a saga dos Sossai para o Norte do Espírito Santo

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Com 90 anos completos em 21 de agosto de 2024, Olga Sossai goza de uma memória invejável. A filha de Carlo Eugênio Sossai com Catarina Caliman nasceu em Castelo, mais especificamente na comunidade de São Manoel. Carlo Eugênio era um autêntico italiano, chegou a morar em Venda Nova e mudou-se para Castelo quando se casou. Lá, eles tiveram os quatro filhos, sendo que Júlia, a irmã logo acima de Olga, nasceu quando o segundo filho homem já tinha 14 anos. Um ano depois veio ela, completando o quarteto.

Ela e sua irmã Júlia cresceram trabalhando na lavoura, principalmente a partir do casamento dos irmãos mais velhos. A família cultivava café, milho e feijão. Ainda pequena, Olga carregava ela mesma a sua enxada para a lavoura, com facão cortou cana em várias oportunidades e ajudava a família na produção de açúcar para o próprio consumo.

Aos oito anos de idade, Olga Sossai já derriçava café. Acordava bem cedo: às seis horas ela, assim como toda família, já estava de pé fazendo o desjejum com polenta e leite, servidos bem quentinhos num prato de esmalte. Essa combinação de alimentos era muito comum na época e, à medida que o dia transcorria, as demais refeições traziam a polenta com outros acompanhamentos. 

Olga se recorda da rotina de subir e descer o morro para transportar os sacos cheios de café no lombo do burro ou nas próprias costas. Também varria em torno dos pés de cafés. “Primeiro ruava o café, depois derriçava, varria a barra, colocava os grãos nos sacos de lona que a gente mesmo fazia e levava tudo para o terreiro. Fazíamos também os embornais para levar o nossos alimentos para a lavoura”.

A família também produzia arroz nas várzeas, mas era só para o próprio consumo. Olga se lembra que o terreno estava muito alagado e que ela tinha entre 13 e 14 anos de idade, época em que a água batia em suas canela. A família pegava mudas nos viveiros e replantava nas várzeas. 

A abundância de água também pode ser retratada pela grande quantidade de nascentes na propriedade. O pai de Olga desenvolveu um sistema com um pau oco que possibilitava colher a água sempre limpa mesmo em tempos chuvosos e transportá-la de forma íntegra para o consumo. “Pegávamos com balde para a serventia da casa. E tinha um córrego, que passava embaixo, onde a gente tomava banho e lavava as roupas”.

Enquanto o arroz produzido era exclusivo para o consumo doméstico, o cultivo de milho visava engordar os porcos e a criação de galinhas, além de preparar o fubá e a canjica, que formavam a base alimentar da família. Já o excedente do feijão era vendido. 

Além dessa produção de subsistência, para enriquecer a alimentação, a família mantinha uma horta, onde eram cultivadas hortaliças como couve, almeirão e alface. “Era uma alimentação muito rica. Tínhamos uma terra forte que foi vendida para Vicente Perim”.

 

No Norte do Estado

E foi com o dinheiro dessa venda que os pais de Olga compraram uma propriedade no Norte do Estado, quando ela tinha em torno de 19 anos de idade. O irmão Miguel, que já morava em Jaguaré desde 1948, soube da existência de um sítio à venda localizado próximo ao rio Cricaré, em São Mateus, que o pai resolveu conhecer de perto. Ele se encantou com a fazenda de 50 alqueires e com 80 cabeças de gado a comprou com porteira fechada.

A ida deles para o Norte é um capítulo à parte na história familiar. O patriarca Carlo Eugênio, além de levar sua família (a mulher e as filhas ainda solteiras), foi acompanhado de outros parentes. A mudança foi feita em dois veículos: na frente foi o caminhão de Vicente Perim levando os móveis feitos pelo próprio Carlo Eugênio e atrás, um tal de Stelzer, com os utensílios e outros itens menores.

A família partiu no dia 3 de agosto de 1952 e pernoitou em Jaguaré, na casa de seu irmão. A cunhada de Olga preparou um almoço para todos e depois eles (irmão, cunhada, sobrinhos) se juntaram ao comboio para ajudar na mudança e também movidos pela cu-riosidade de conhecer o novo lugar.

Quando os dois caminhões pararam na beira do rio e o patriarca mostrou a casa do outro lado da margem em que a família iria morar a partir de então, Olga começou a chorar. Vicente Perim parou do lado dela e disse: “Menina, eu não sou culpado por ter comprado a terra de seu pai”. Ela estranhou o lugar, mas ficou morando pouco tempo lá, pois estava noiva de Américo Mascarelo, com quem se casou e retornou para Castelo.

Toda mudança foi levada para o outro lado do rio, que era largo e cheio de peixes, de canoa. E da margem, um animal emprestado auxiliou no transporte até a casa e boa parte dos itens foram levados pelos membros da família e pelos auxiliares. Quando a maratona chegou ao fim, Olga foi a encarregada de preparar o almoço para todo aquele pessoal. “Eram umas 30 pessoas para serem alimentadas. A gente não achava nada, pois tudo estava fora do lugar. Alguém achou uma pedra de sal de dar para o gado e outra pessoa do grupo falou ‘trala via’, joga fora. Eu raspei a pedra de sal e ela me salvou, pois temperei toda a comida”.

Depois de muito tempo, o pai de Olga morreu. Nesta ocasião, ela já estava casada e morava em Castelo. “Dois anos e seis meses depois de eu ter me casado meu pai enfartou”. Antes de o pai morrer, o casal comprou quatro alqueires de terra ao lado da propriedade do pai, onde tocava gado e vendia o leite para o laticínio de Nova Venécia.

A família de Olga morou de 1952 a 1973 em São Mateus, voltando para Monte Alverne, em Castelo. Ela teve nove filhos, sendo que o sétimo é o conhecido padre Caio, e passou a morar em Venda Nova em 2012.

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