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Florestas plantada e nativa garantem cafés tardios em Rancho Dantas

Florestas plantada e nativa garantem cafés tardios em Rancho Dantas

Numa propriedade com plantios entre 1.050 a 1.200 metros de altitude, Florentino recebe compradores estrangeiros, que se encantam pela preservação e pelo capricho na produção

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Muitas flores na entrada da propriedade de Florentino Meneguetti já são uma pista do capricho e da dedicação com a qual ele e sua família cuidam do lugar onde trabalham e vivem. O colorido faz caminho para a casa e antecede a sala de torrefação e, do outro lado da estrada, margeia os poucos metros da via que leva aos terreiros e depósitos.

Dentro de um vale, a casa e as benfeitorias da propriedade são cercadas de matas e plantios de café. O pai de Florentino, que era colono em Santa Maria, Castelo, comprou o sítio de seu patrão e encontrou um lugar predominado pelos pastos, mas com um pouco de remanescente de mata atlântica. “De um ponto um pouco mais alto do outro lado do vale dá para perceber a floresta plantada e a nativa”, observa sua filha Maira, que trabalha ao lado do pai na gestão da propriedade.

Há cerca de 15 anos ele entrou num programa de reflorestamento e começou a fazer os plantios. O Reflorestar era uma iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo com o objetivo de promover a restauração do ciclo hidrológico por meio da conservação e recuperação da cobertura florestal. Florentino, que plantou palmitos, ipês, ingá e outras espécies, conta que foi remunerado pelo programa somente por quatro anos.

Mas ele só tem gratidão por ter escolhido reflorestar. Um rio de água limpa corre no meio de sua propriedade e ele conta com muitas áreas sombreadas e frescas, que têm influência direta na qualidade do café colhido.

 

A dinâmica da produção de especiais

Florentino conta que o café da ‘panha’ de dois dias é despolpado. “Deixamos no tanque por doze hora, onde é lavado e depois levado para o terreiro suspenso”. Maira prossegue explicando que esse café forma um lote e a sistemática prossegue de dois em dois dias, sempre separando por variedade. “Selecionamos os grãos mais perfeitos, fazemos a prova e formamos um bland”.

A família produz especiais há 23 anos e em 2004 esteve entre os três melhores no Prêmio UCC Café de Qualidade e foi o campeão no Concurso de Café de Qualidade de Brejetuba. “Não é simples fazer um bom café. Muitas vezes a gente faz tudo direitinho e não consegue um café que pontua”, diz Florentino que, apesar das incertezas, gosta do que o reconhecimento de sua produção com excelência tem gerado.

Ele recebe compradores de diversos países, como China, Espanha, Rússia, França e Chile. O mercado internacional quer ver de perto como é o sistema de produção, que tipo de mão de obra está envolvida e se o cultivo está integrado à preservação ambiental.  E, na propriedade de Florentino, eles encontram deferência aos recursos naturais e uma família que trabalha unida.

Como ele não só entrega seus grãos para os gringos, Florentino criou uma marca: o Café Meneguetti. “Eu torro, faço a moagem e vendo para os vizinhos”, diz mostrando seus equipamentos numa pequena sala anexa à garagem. Antes de ir para a sala de torra, o café é armazenado em contêineres.

 

Cafés tardios

A colheita na propriedade de Florentino começa em maio e vai até janeiro.  Esses cafés que a família colhe entre o final de dezembro e início de janeiro são os frutos das flores de março. A maturação se completa nesse período de virada do ano e esses grãos geralmente tem atributos diferenciados em relação aos outros especiais.

Com a mudança climática, essa florada tem se antecipado um pouco e ficado mais escassa em março. E o resultado é uma queda nessa produção tardia. “Antigamente a produção variava entre 50 a 100 sacas. Agora, não fazemos mais que cinco”.

Mesmo triste pela perda, Florentino diz que mesmo assim vale a pena se dedicar aos cafés de colheita tardia, pois eles são melhor remunerados. “A qualidade é reconhecida e há muita procura”.

Florentino avalia que dessa perda poderia ser ainda maior, com risco da extinção dessa produção, caso a propriedade não tivesse investido no reflorestamento e mantido os remanescentes das matas. Ele avalia que as florestas minimizam os efeitos do aquecimento global. “Ainda temos uma boa umidade, o que é percebido pela presença da cerração e da neblina em cima da propriedade. Essa é uma mata que faz milagres”.

O produtor também se orgulha de ser dono de uma propriedade que está entre as que tem maior área de mata nativa da região. “Temos que investir em tecnologia para produzir mais e melhor e não há necessidade de desmatar. Pelo contrário, manter e recuperar serão fundamentais para a sobrevivência do café e de outros cultivos também. Hoje temos linha de crédito, como as oferecidas pelo Sicoob, que nos dá acesso à equipamentos e nos possibilita melhorar nossa infraestrutura, e tudo isso mais os conhecimentos técnicos disponíveis tornam viáveis e rentáveis nosso trabalho no campo”.

A família, que até a crise sanitária gerada pelo coronavírus, mantinha uma agroindústria de biscoitos e pães, já está acostumada a receber visitantes. Eles fazem parte da Rota do Café, projeto turístico municipal em andamento, e trazem no histórico a recepção de estrangeiros de várias origens. Com um papo muito agradável, Florentino não se inibe e até conta com a filha, que é fluente em francês, língua do pais que ela morou durante dois anos.

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