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RuralturES 2024 - OBSERVAÇÃO DE AVES: Sítio Altoé da Montanha está na rota ecológica

RuralturES 2024 - OBSERVAÇÃO DE AVES: Sítio Altoé da Montanha está na rota ecológica

Propriedade está recebendo assessoria do Sebrae/ES e é a primeira de Venda Nova a incluir o atrativo entre suas ofertas

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Ao plantar mais árvores frutíferas para incrementar a sua oferta de produtos na feira livre de Jardim da Penha, em Vitória, Lúcio Altoé observou a presença de mais pássaros na propriedade, principalmente no entorno de sua casa onde se concentra os pés de pitanga, de amora, de goiaba e de outras. O bater de asas coloridas e o canto passaram a encantá-lo e chamar a atenção de sua família e dos hóspedes da pousada que montou ao longo de sua trajetória de envolvimento com o turismo rural.

E o desejo de criar algum atrativo- que evidenciasse a presença das diferentes espécies de aves e os ganhos naturais no sítio com o seu trabalho de preservação veio ao encontro de um projeto de incentivo ao turismo de observação de aves da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Venda Nova e da política do Sebrae em incentivar o turismo de experiência. De acordo com Sabrina Zandonade, secretária Municipal de Meio Ambiente, o programa veio como estratégia de preservação e oportunidade de geração de renda.

 

 

 

 

Mais de 200 espécies

Em março, a municipalidade promoveu o Festival Águas e Florestas, a Bio Capri, em seguida contratou uma empresa, que designou a bióloga Cláudia Pimenta para fazer um levantamento preliminar de aves no município. “Esse trabalho gerou uma lista de 234 espécies, que é apenas inicial, pois significa um ponto de partida”. Sabrina explica que o levantamento foi feito em áreas prioritárias de Venda Nova para conservação, contemplando também o Sítio Altoé da Montanha, que tem a lista de espécies que ocorrem lá.  A lista está disponível no site da Prefeitura e nas plataformas que os observadores de aves acompanham para saber onde existem as aves que eles querem observar, como a Wikiaves e a eBird.

Lúcio Altoé prevê que esse número de espécies catalogadas dobre na primavera, considerando que o trabalho de reconhecimento foi feito entre o outono e o inverno. Dentre as espécies reconhecidas, 13 são endêmicas da mata atlântica e sete ameaçadas de extinção.

A coruja murucututu-de-barriga-amarela está entre elas. A ave mede em torno de 37 a 51,4 centímetros (macho) e de 39 a 54,4 cm (fêmea) e pesa de 405 a 562 gramas (macho) e de 331 a 670 (fêmea). Dentre as características estão o dorso castanho-escuro e cauda com faixas transversais brancas, um colar largo da mesma cor e, o que chama mais a atenção é o ventre de cor amarelada (dando origem a seu nome comum). As penas brancas do loro e da estria malar se unem ao supercílio formando um “X” na face, tem os olhos castanho-escuros e os tarsos emplumados. Macho e fêmea não possuem diferenças na plumagem.

A presença dessa coruja na propriedade já havia sido percebida por Lúcio, mas somente pelo seu canto. Com o trabalho desenvolvido pela técnica, foi colocado o som amplificado de seu canto, ela se aproximou e passou a ser vista na propriedade. “Todo esse trabalho precisa ser feito com a técnica correta para não interferir na rotina da espécie, que é territorialista. Para se ter ideia, o casal vive junto no mesmo lugar até morrer e, quando tem um filhote, o expulsa do lugar logo ao nascer. Já veio gente da Alemanha observar esta e outras espécies. Eles se hospedaram e tiveram a experiência de observar e fotografar”, conta sobre uma das experiências já vividas em sua propriedade.

 

Natureza preservada

Entusiasmado com a nova modalidade de turismo que está incluindo no seu rol de serviços, Lúcio disse que o turismo de observação de aves vem para premiar um conceito de preservação que permeou seu trabalho no sítio desde que assumiu aquele território como moradia. “Não uso produtos químicos, diversifiquei o cultivo de frutas, cuido das nascentes e todo meu trabalho é feito com respeito ao meio ambiente. A presença dessa quantidade e variedade de aves na propriedade não é fruto do acaso, mas de um trabalho de profundo respeito à natureza”.

Um ramo ascendente do ecoturismo, essa modalidade de turismo tem como objetivo observar e registrar o maior número de espécies de aves. “Por ser uma atividade de baixo impacto ambiental, acredito que a observação de aves é uma ferramenta que vai incentivar outros produtores a promoverem a conservação da biodiversidade, tendo em vista que incentiva o subsídio de recursos para a preservação local. Além disso, também tem potencial para movimentar a economia local com a venda de materiais e a promoção de eventos”, acredita Sabrina.

Desde criança Lúcio se interessa em apreciar o canto dos pássaros, embora ainda não reconheça todos que ouve ao longo do dia. “Estou aperfeiçoando minha audição e aos poucos vou identificando. Passo a passo estou descobrindo a rotina das espécies: onde dormem, quais frutas preferem... É um processo”.

Outros animais, como tatu, raposa, quati, veado e arara foram catalogados. Essas espécies também foram atraídas e se sentiram seguras em se alimentar de frutas que nunca foram pulverizadas. “Eu escolhi produzir menos em quantidade e agregar valor a um produto livre de agrotóxicos. Faço as contas e vejo que meu ganho foi maior, pois, além de economizar com a compra de produtos, ofereci qualidade reconhecida em minha produção. E o prêmio maior está sendo reconhecido hoje: essa diversidade e quantidade de aves e outros animais na propriedade. Já estou recebendo pessoas de diferentes partes do mundo para se hospedar na pousada”.

 

Condutores treinados

Os turistas que chegam à propriedade em busca do resultado dessa preservação já encontram um Lúcio mais preparado para recebê-los.  A pousada promove 'corujadas' e 'passarinhadas'. “São momentos que nos concentramos em algum lugar do sítio para observar, sem interferir na sua rotina. Sempre tem alguém no grupo preparado para reconhecer as espécies, com seus respectivos nomes científicos”.

Lúcio faz parte de um grupo de 23 condutores, que participaram de um curso oferecido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em parceria com o Sebrae/ES, com a mesma bióloga que fez o levantamento. Nesse curso, os produtores aprenderam a usar as plataformas e aplicativos para identificar as aves por meio dos sons, e até mesmo usar a técnica do playback para atrair corujas.

 Com as informações compartilhadas, os condutores sabem quais espécies são encontradas em determinadas localidades da região e podem atender às demandas dos observadores. “Muitas vezes, os observadores se hospedam ou visitam propriedades diferentes em busca das espécies que desejam observar. Em Venda Nova tem a nossa propriedade e do Guaçu-Virá, em São José do Alto Viçosa. Lá, além de hospedagem alternativa, há também um auditório para pequenos eventos”.

Em busca de aperfeiçoamento, de 17 a 19 de maio último, Lúcio e a esposa Dulce participaram de uma missão (organizada pela Prefeitura em parceria com o Sebrae/ES) na 17º Avistar Brasil 2024, em São Paulo, para divulgar o trabalho promovido em Venda Nova.  A Avistar é o maior congresso de observação de aves da América Latina. O casal também se hospedou no Cantinho dos Três Pontões, em Afonso Cláudio, para conhecer o trabalho de observação de aves já desenvolvido pelo proprietário Itamar Tesch.

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