Feira livre da Agricultura Familiar
A importância da Feira e um pouco da história de sua criação
Para a economista doméstica, Rita Zanúncio Araújo, a Feira Livre da Agricultura Familiar de Venda Nova do Imigrante representa um marco para a agricultura familiar do município. Na avaliação dela, o vale feira para os funcionários da Prefeitura Municipal instituído pela lei municipal 835/2009, de 11 de agosto de 2009, representa uma moeda alternativa que contempla cada funcionário da Prefeitura e da Câmara.
“O município não possuía até então tradição de feiras livres e os agricultores tinham dificuldade de ofertar seus produtos no mercado local, pois nem sempre sua produção tem volume suficiente. Com a abertura deste canal direto de comercialização, o produtor se aproxima do consumidor final e oferece um alimento com mais segurança”, avalia Rita.
Ela explica que a implantação do vale feira sempre funcionou como uma moeda alternativa e representa um ganho para os funcionários beneficiados, para os agricultores e para o comércio local. “Enquanto os funcionários que recebem em seus salários o acréscimo do valor têm a oportunidade de melhorar o consumo de alimentos de suas famílias, por outro lado, os agricultores têm nesse incentivo a garantia de venda de parte dos produtos o que serve como grande estímulo. Sem contar que o que é comercializado na Feira normalmente era o que se perdia na propriedade, pois não havia estrutura logística que justificasse o escoamento da pequena produção”.
Rita ressalta que outra vantagem relacionada aos agricultores é que toda a família pode trabalhar junto com a finalidade de suprir a demanda criada pela Feira, pois podem fazer o planejamento da produção.
Histórico
A proposta para a criação da Feira Livre surgiu em 2006 no Sindicato de Trabalhadoras Rurais de Venda Nova através da Comissão Municipal de Mulheres. A ideia era contemplar o segmento da agricultura familiar e fomentar a comercialização justa da produção.
Em 2007, os profissionais dos Sindicato e do Incaper fizeram um vasto trabalho junto aos agricultores, que foram cadastrados para levantamento da capacidade de produção e oferta dos produtos. Em 2008/2009, o levantamento foi atualizado, com a também participação da Secretaria Municipal de Agricultura.
Com a ideia, este grupo buscou parceria com as secretarias municipais de Agricultura e de Saúde (Vigilância Sanitária) e o Incaper e, com as parcerias firmadas, o processo de estruturação começou em 2009. No dia 9 de junho daquele ano foi fundada então a Associação da Feira Livre da Agricultura Familiar de Venda Nova do Imigrante.
Em agosto, o projeto de lei para instituir o vale feira aos servidores públicos municipais foi aprovado pela Câmara e no dia 2 de outubro foi inaugurada a Feira. E o vale, que começou com o valor de R$ 60,00 mensais.
Com o fortalecimento da Associação, os produtores foram incentivados a se organizarem, planejarem suas ações, se reunirem e interagirem mais entre si e com outras instituições. “Ocorreu um aumento da diversificação agrícola, com implantação de novas variedades de hortaliças e frutas, resgate e troca de mudas e sementes de olerícolas e grãos não convencionais. Trata-se de plantas antigas da região que estavam quase desaparecidas. Eles também ficaram incentivados a adotar práticas sustentáveis e de apoio a transição agroecológica”.
Para que as famílias produtoras pudessem aproveitar ao máximo a oportunidade de comercialização, vários cursos foram ministrados, tanto para controle biológico das pragas e doenças, aprendendo a produzir os fungicidas naturais, assim como técnicas de cultivo orgânico como medida de prevenção. “A ideia foi ofertar alimentos seguros e livre ao máximo de agroquímicos e também ampliar o leque de ofertas de alimentos caseiros, como massas, geleias, bolos e outros, a partir do aproveitamento máximo da matéria- prima gerada no campo”, finaliza Rita.
Um espaço especialmente aberto ao setor cervejeiro
Em julho de 2021 a mestre cervejeira Larissa Grecco começou a levar suas cervejas artesanais para vender na Feira. Assim foi com outros cervejeiros, que naquele espaço ampliaram a sua visibilidade.
Ela conta que no início, ela e os demais cervejeiros não tinham retorno, pois as vendas mal davam para cobrir os custos com o deslocamento e com a mão de obra. “Mas queríamos mais visibilidade e divulgar nossos produtos e mostrar a vasta variedade de estilos de chopes. Por isso insistimos e posso dizer que valeu a pena em todos os sentidos: visibilidade e sob o ponto de vista comercial”.
Na avaliação de Larissa, a Feira trouxe uma cultura de consumo significativa no município. “A participação na Feira promoveu um aguçamento nas pessoas em apreciar cervejas de qualidade, saindo do tradicional. Hoje, vemos que em nosso município existe espaço para todas as cervejarias, prova disso é a própria Feira”, disse sobre o movimento gerado em torno das unidades de beer truck.
Vale ressaltar que a rotina para participar na Feira requer uma organização especial. Larissa conta que os preparos começam logo pela manhã com limpeza e assepsia do beer truck, reposição de utensílios a serem usados, envase e carregamento de barris… “Nos bastidores temos que ralar bastante até o momento do chope ser servido nas taps. E este setor requer investimentos constantes, da participação em cursos de aprendizagem até a aquisição de equipamentos mais complexos e robustos”.
Feira amplia visibilidade
Maria Luzia Bermond, que produz variados pães e biscoitos há 32 anos, vê a Feira Livre como espaço de venda e também de divulgação de seus produtos. Ela, que participa desde o início, começou vendendo os biscoitos (cebolinha de queijo e pizza, maluco, tronquinho de nata e casadinho) e bolos (de aipim, caçarola), já incrementou seu portfólio de ofertas, incluindo entre as novidades os bolos de fubá e de laranja e os pães doces.
As datas festivas também a levam focar em algumas variedades. Na Páscoa, por exemplo, ela produz mais colomba (um tipo de pão típico da data religiosa), enquanto no Natal faz panetones e chocotones. Na verdade, as tendências também a levam a oferecer novos produtos, como a foccacia e os pães de fermentação natural e os integrais. Os pães de fermentação natural, tão em alta, são feitos por sua irmã Nair.
Durante estes quase 15 anos de Feira, Maria Luzia foi presenciando a evolução deste espaço de comercialização e de encontro. “ Desde o início o público mudou muito e aumentou expressivamente a procura pelos meus pães e bolos”, afirma.
Para Maria Luzia, a Feira Livre é uma ótima vitrine para os seus produtos. Além de fazer as vendas, as pessoas a procuram para produzir itens para eventos, como aniversários e casamentos. Os suspiros para as lembrancinhas de casamentos são um exemplo de produtos feito sob encomenda. “A minha produção aumentou muito nesse período e só tenho a agradecer”.
Além da Feira, os produtos Luzia e Nair são encontrados no Mercado Central e no Mercado São Pedro (bairro São Pedro), na Aagrope, no Ponto de Informação Turística e também em sua casa, em Bananeiras, onde vende, aceita encomendas e recebe turistas. “Para mim a Feira é tudo. Onde meus produtos têm mais visibilidade e, através do intercâmbio com os demais feirantes e outras pessoas, acabamos tendo a oportunidade e ir para outras feiras”.