Feira Livre da Agricultura Familiar
Um lugar de comprar alimentos de qualidade, de encontros e de convivência social em Venda Nova. A Feira vai completar 15 anos de existência em outubro
Desde o dia 2 de outubro de 2009 a Feira Livre da Agricultura Familiar de Venda Nova do Imigrante passou a ser o ponto de encontro entre os moradores locais e também de visitantes da cidade. Promovida na rua no período da Pandemia, depois que foi para o Centro de Eventos Padre Cleto Caliman, a Feira evoluiu, aumentou em conforto e em atrativos, se firmando com um lugar de comprar alimentos de qualidade e também de convivência.
É assim que pensa a mineira Loruama Geovanna Guedes Vardiero, 25 anos, que morava em Alegre, no Sul do Estado, e veio para Venda Nova há dois anos. Ela, que é especialista socioambiental, diz que sempre que está na cidade faz questão de ir à Feira. “Também sempre levo minhas visitas para conhecer a Feira, onde vou para fazer as compras da semana, comer um bom pastel e aproveitar o happy hour com cerveja artesanal e música ao vivo”.
O que ela mais ama é que é um lugar que se tornou um ponto de encontro. “É o meu momento na semana para encontrar amigos, comer um pastelzinho e tomar cerveja artesanal. Sem falar que a Feira tem uma diversidade ampla de alimentos, e quase consigo fazer toda compra da semana por lá”.
Ao ouvir o depoimento de Loruama pode-se concluir que foi alcançado, pelo menos em parte, o objetivo do projeto de revitalização implantado depois de vencido o edital 2020. Tiago Monteiro, engenheiro florestal, que atua no Incaper como extensionista, conta que ele e Rita Zanúncio, economista doméstica da mesma instituição, inscreveram em parceria o projeto no edital do Estado.
Ele explica que foi proposto uma remodelagem, conforme é o modelo que funciona atualmente: um espaço familiar de convivência para que aumentasse o período de permanência das pessoas na Feira.
Quando o projeto foi selecionado, foi disponibilizado o aporte de R$ 114 mil do Estado e começou-se a trabalhar para implantação do espaço kids, da oferta de cervejas artesanais do município e o da disposição das mesas e cadeiras, que teve a importante participação do Sicoob Sul-Serrano. A partir de 2021 todas estas inovações já estavam implantadas.
“Eu considero que está sendo um sucesso. Esta já é a terceira diretoria à frente da gestão da Feira desde que este o novo formato começou. As diretorias abraçaram a ideia e os parceiros começaram a se interessar em fazer parte. E o Sicoob é um grande parceiro, com recursos estruturantes”, reconhece Tiago.
Mais visitantes
Como estão dentro da região do agroturismo e do turismo rural, para Tiago a inserção da Feira no roteiro de visitas é um processo. “Já recebemos turistas, mas a participação desta clientela está em evolução, enquanto os feirantes vão se preparando para atendê-la”.
Tiago, que quase todas as semanas está lá, percebeu que o vendanovense se interessou mais pela Feira. “É perceptível o aumento desse público, de famílias, que estão entendendo que ir lá é um real momento de lazer em Venda Nova. Antes, as pessoas iam de forma muito rápida, só para fazer as suas compras mesmo”.
E a Feira, que continua sendo um lugar de buscar produtos de qualidade, hoje é espaço de encontros e de convivência, tem capacidade de agregar, pratica valores acessíveis e oferta produtos de qualidade. E este modelo está dando tão certo, que o Incaper, a organização da Feira e a Prefeitura estão sendo procuradas por diversos municípios interessados em saber como funciona.
O tiket feira dos funcionários públicos municipais (Prefeitura e Câmara) continua sendo um estímulo e a ideia é que outras empresas públicas e privadas também agraciem seus funcionários. Quanto mais consumidores maior é o entusiasmo e a adesão dos produtores. Atualmente são 40 feirantes, mas o projeto implantado em 2021 previa chegar a 50.
Famílias rurais ganharam qualidade de vida
É notório o aumento de renda das famílias que cultivam ou produzem e ali vendem os seus produtos. Muitas ganharam qualidade de vida e outras passaram por lá, ganharam destaque e continuaram crescendo em seus novos projetos.
“A Feira já era destaque em termos de qualidade, os produtores fazem tudo muito bem feito, e o projeto agregou e potencializou”. Tiago ainda ressalta o quanto foi importante a gestão das mídias sociais. “A contratação deste trabalho veio com a materialização do projeto. A Feira contratou Patrícia Altoé e passou a ter identidade visual e, principalmente, interação nas mídias sociais. Antes o Instagram e o Facebook eram alimentados de forma voluntária pela filha de um feirante e esta colaboração foi muito importante, mas com a profissionalização o público passou a ser melhor informado”.
De colono a proprietário
Cedmar Brunelli, 51 anos, casado e pai de dois filhos, participa da Feira desde o primeiro dia vendendo legumes, verduras, tubérculos, folhosas... Ele, que já produzia para consumo próprio e também mexia com café como colono em São Roque, aumentou a sua produção especialmente para vender na Feira.
Durante os primeiros anos, Cedmar trabalhava de colono nos cafezais e também com a Feira e, associando as duas fontes de renda, foi juntando dinheiro e conseguiu comprar um pedacinho de terra. Lá ele construiu a sua casa, ampliou sua área de plantio e há cinco anos passou a se dedicar somente a produzir para a Feira. “Eu devo tudo que eu construí à Feira, que veio para mudar a minha vida e a da minha família”.
Além de maior quantidade, a família ampliou as variedades. Seu sítio de um hectare fica na Vila de São Roque, pertinho da igreja. Dentre os produtos que mais vende estão o tomate, a batata, a cenoura e a cebola de cabeça. Mas o seu grande sucesso mesmo é o tomatinho cereja, que em seu processo de cultivo, teve 'influência do tomate italiano’.
Cedmar explica que plantou o tomate cereja muito perto do italiano e acredita que houve polinização. “Como eu tiro a semente do tomate que colho, eu fui vendo ele modificando. Ficou uma espécie de tomate cereja menos redondo e mais parecido com o italiano, só que menor”.
Conforme a contabilidade de Cedmar, o vale feira representa 90% da movimentação em sua barraca. Apenas 10% compra no dinheiro ou no cartão. “Creio que precisamos ampliar este público”.
Cedmar sempre vai para a Feira acompanhado dos dois filhos (Poliana e Gabriel) e na propriedade conta com a mão de obra da família toda. Ele, a esposa e os filhos fazem o plantio e também se organizam para preparar os alimentos para a venda na Feira.
Seu filho Gabriel chega às 13 horas da escola e, de dois anos para cá, sua esposa Alzenira arranjou um emprego fora e chega às 17 horas. E cada um contribui de forma a cumprir seus compromissos. “Meu filho e minha esposa amarram redinhas, faz molhos de cebola, pesam e colocam nas sacolas... É muito comum ficarmos acordados até tarde da noite, principalmente nas quintas, preparando as verduras e legumes”.
A colheita das folhosas, dos brócolis e dos temperos, por exemplo, é sempre na sexta-feira, pois precisam ir frescos para a Feira. A família retira as mandiocas na quinta de tarde, deixa na água e na sexta faz a limpeza e as coloca nas sacolinhas, pois também é um alimento que precisa ser comercializado mais fresco. No caso das batatas, costuma retirar na segunda ou quarta. “A batata é o tipo de produto que fica até três meses armazenado sem perder a qualidade. Já a cebola de cabeça, até seis”.
Além de ter melhorado a qualidade de vida da família pelos benefícios materiais alcançados, Cedmar aprecia as amizades feitas ao participar da Feira, pois naquele movimento contínuo de venda sempre sobra um tempinho para um bom bate papo.
Se há alguma experiência difícil a relatar, Cedmar lembra do período da pandemia do Coronavírus, que começou em 2020. “Perdemos muita verdura. Vivemos uma grande incerteza, pois não dava para saber se continuaríamos. Quando voltamos a fazer a Feira, tivemos que ter muitos cuidados e não vendíamos tudo, pois as pessoas não iam... Aos poucos fomos vencendo e hoje estamos aqui”.
Artesanato que marca presença desde o início
Os tapetes coloridos, alguns em forma de melancia e de flor, chamam a atenção de quem passa pela barraca de Lourdes Pimenta de Souza, uma das pioneiras da Feira. Ela, que é produtora de café, abacate e feijão, deixou a parte agrícola para os sobrinhos cuidarem e passou a se dedicar à produção artesanal de tapetes, jogos de banheiro, suplás e outras peças.
“Eu sempre participei da Feira e só me afastei durante o período que meu marido teve problemas de saúde”, conta a habilidosa artesã. Lourdes domina o ponto cruz, o crochê e as produções de tapetes em malha. Ela já se dedicava ao ofício antes de a Feira existir, concentrando suas vendas em sua casa, em Alto Lavrinhas. “As pessoas iam lá comprar ou ligavam fazendo encomendas”.
Quando a Feira passou a funcionar, Lourdes conta que um leque de oportunidades se abriu, pois, ela ficou mais conhecida. “Passa muita gente pela minha barraca. As pessoas se encantam e muitas vezes compram ou indicam meus produtos para outras pessoas. Minha clientela aumentou bastante e meu faturamento também”, diz a artesã ao mensurar uma melhora em 60% nas vendas com a entrada na Feira.
E as vendas continuam aumentando, como consequência da visibilidade crescente. “As pessoas compram os produtos para presentear em casamentos, no Dia das Mães e também como lembranças de Natal. Também faço toalhas personalizadas para as crianças levarem para a escola, toalhas de bebês e de mão, além de embalagens para colocar pasta e escova de dentes”, exemplifica.