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Uma experiência familiar de afeto no preparo de alimentos

Uma experiência familiar de afeto no preparo de alimentos

Paula Filetti realizou o sonho de ser dona de um restaurante, um espaço que recebe com carinho pessoas de diferentes origens e status social

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A penúltima de uma família com 16 filhos, Ana Paula Filetti cresceu vendo sua mãe preparar alimentos saborosos e em grande quantidade no fogão de oito bocas. Assim como as sete irmãs, ela aprendeu a cozinhar e dominar todas as etapas do preparo das refeições da família. Ela cresceu na casa localizada   no Indaiá, Conceição do Castelo, bem na divisa com Venda Nova.

Os aprendizados com a mãe Lusia Venturim, que sempre colocou carinho entre os ingredientes, foram fundamentais para Paula hoje ser a responsável pela cozinha do seu restaurante, o Marmitas da Paula, localizado no Bairro Vila Betânea, em Venda Nova.

 

“Minha mãe era excelente cozinheira. Está no nosso sangue: todas nós irmãs

gostamos de cozinhar. Eu amo o meu trabalho e isso para mim é o mais importante”.

 

Com uma rotina de trabalho que começa por volta das 4 horas da madrugada,  Paula mantém o empreendimento, que é a sua grande conquista profissional e da vida. Ela se sente muito orgulhosa e continua sonhando com a evolução de seus negócios. “Boto fé no restaurante”, diz sobre a energia diária dispensada e o que espera do futuro.

Enquanto sonha, ela luta com vigor para que a engrenagem funcione com perfeição e coloca amor em cada passo, pois além de clientes fiéis, o estabelecimento reúne amigos, que se traduzem em uma rede de incentivo e apoio.

“Fico feliz quando vejo que o cliente voltou. Para mim é sinal de que a 'Paula está indo bem'”, diz a empreendedora que conta com quatro mulheres para enfrentar a cozinha e com dois motoboys para as entregas.

 

Rotina

Antes de começar a trabalhar, Paula leva sua filha para o Ifes e vai em seguida para o restaurante. No período das férias, 5h30 já está no restaurante e, no período de aula, por volta das 6h30. O primeiro passo é planejar as compras e ir para o mercado e, quando retorna, Paula vai para a cozinha ajudar preparar o almoço. Lá pelas 9 horas, começa a arrumar o salão.

O relógio costuma estar marcando 9h40 quando tudo está pronto para receber os primeiros clientes. Já os pedidos são aceitos pelo aplicativo a partir das 9h30. “Acredito que somos o único a abrir as portas neste horário. Atendemos muito os acompanhantes dos pacientes do Hospital Padre Máximo, as pessoas que fazem exames, aos que acompanham remoção de parentes e aos profissionais do Hospital, do Samu e do Corpo de Bombeiros”.

O grande rodízio de clientes formado pela clientela do Hospital justifica o horário mais cedo para atender. “As visitas vêm, almoçam e voltam para o Hospital”.

Ao acompanhar muitos perrengues e também momentos de alegria dessa clientela, Paula acaba se tornando amiga das pessoas. “Têm as que se tornam da família. Isso também acontece com os mineiros que colocaram o restaurante na rota dos passeios e alguns vêm por razões de saúde. Inclusive esta semana veio um grupo fazer exames e logo depois passou aqui para almoçar”.

Paula conta que os bombeiros transferidos para Venda Nova já vêm de Vitória orientados a almoçar no seu restaurante. “Recebo muitos deles e eles, quando vão embora, indicam para os que vêm substituí-los”, diz atribuindo à simplicidade ao receber e ao sabor da comida caseira o sucesso do empreendimento.

 

Comida é afeto

“As pessoas precisam se sentir bem na hora de fazer as refeições. Eu atendo todos com carinho e acredito que isso vale mais que o sabor. Aqui não tem luxo, mas tudo é feito com carinho. Aprendi isso com minha mãe”. Paula fez essa declaração enxugando os olhos, molhados de saudades.

No sistema self service, os clientes têm à disposição o tradicional arroz com feijão, massas, carnes fritas e ensopadas, refogados, assados e muitos tipos de salada. Essa comida simples e saborosa continua conquistando clientes, que lotam as dez mesas nos horários de pico. “Muitas vezes eles colocam uma cadeira a mais e se apertam. Também temos mesas na parte externa”.

Se de segunda a sexta o cardápio funciona com o tradicional, aos sábados têm feijoada, costela com aipim, carnes assadas e omelete assada. A feijoada se repete na terça-feira. “Nosso público de sábado é atípico”.

Paula também faz casamentos, aniversários, confraternizações e eventos, como o Encontro Nacional de trilheiros. “Já preparei refeição para até 900 pessoas, incluindo uma das confraternizações dos voluntários da Festa da Polenta. Faço as comidas, levo e monto a mesa no evento”.

 

Família e gratidão

Mesmo se projetando em grandes eventos, Paula continua gostando de preparar comida para a família, em menor quantidade. Também gosta de passar o que sabe. “Já ensinei minha irmã Lusia Cristina que mora nos Estados Unidos preparar vários pratos por vídeo’’, diz sobre uma das formas que gosta de demonstrar afeto.

Paula ressalta que sua família está em primeiro lugar. “Nesta minha empreitada contei com o apoio das minhas irmãs, do meu marido e dos meus filhos. Eu sou muito grata ao meu marido José Francisco, mais conhecido como Luquinha, pelo apoio e companheirismo ao longo desses 20 anos de convivência’’.

Olhando para o passado, ela reconhece no afeto maternal a sua base. “Tive uma mãe boa, que semeou amor. Ela amava os filhos e tinha muita alegria em nos receber: filhos e netos, sempre com muita comida”.

Todos os anos Paula viaja com a família e estes passeios fazem parte do autocuidado. E ela sonha em ter mais tempo para se cuidar, pois o restaurante se tornou a sua casa. “Cuido dos detalhes para poder receber bem e ficar bem neste espaço, pois passo mais tempo aqui do que em casa”.

 

O início do empreendimento

“Ser dona de um restaurante parecia um sonho impossível, apesar de eu sempre ser incentivada pelas pessoas”, recorda-se. Quando sua mãe faleceu em sua casa, aos 86 anos, Paula sentiu que estava na hora de investir em um negócio próprio, principalmente quando foi comprar uma marmita para almoçar e percebeu que ela tinha condições de fazer aquela comida simples.

Era o ano de 2017 quando Paula decidiu seguir sua vocação e empreender.  “Minha irmã que mora nos Estados Unidos me incentivou muito”. Até então ela só trabalhava para terceiros e, por não acreditar que seria capaz de fazê-lo sozinha, buscou uma sócia para abrir o Dona Marmita.

Logo ela saiu da sociedade e abriu a Marmitaria da Paula localizado na avenida principal de acesso ao bairro Vila Betânea.  Em 2018 apareceu a oportunidade de ser dona de um restaurante, na avenida de saída do mesmo bairro.

E veio a crise sanitária no novo coronavírus, limitando a abertura das portas do restaurante. “Tudo ficou diferente, pois não podíamos vender as marmitas.  Foi uma fase difícil”, recorda-se Paula.

As dificuldades não a impediram de aproveitar a oportunidade e tornar- se dona do bar que funciona ao lado, integrando os dois ambientes. Paula encarou o desafio de ampliar o empreendimento, mesmo estando numa fase de gastos com a filha mais nova, fruto de seu segundo casamento. Sofia tem 16 anos e se prepara para fazer medicina. Do primeiro casamento, ela tem Marcelo (35 anos) e Mariana (30 anos), que já estão estabelecidos profissionalmente.

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