Português (Brasil)

Uma cabeleireira de mãos firmes tem história para contar

Uma cabeleireira de mãos firmes tem história para contar

Marcilena Falqueto teve o pai como primeira inspiração profissional e fez as primeiras experiências nos cabelos dos irmãos

Compartilhe este conteúdo:

Quem vai ao Salão de Marcilena Falqueto e se depara com um ambiente decorado com muito bom gosto não imagina a sua trajetória. Umas das cabeleireiras pioneiras de Venda Nova, já atuou como professora. Ela lecionou durante quatro anos e, neste período, costumava cortar os cabelos dos alunos carentes, oriundos da zona rural de Venda Nova.

Ela despertou para a sua habilidade vendo o pai, Arvelino Falqueto, que fazia cortes de cabelo masculino aos sábados. “Suscitei meu interesse pela atividade e, baseada na observação e usando minha intuição, passei a cortar os cabelos dos meus irmãos. Fiz o primeiro corte de meu irmão Lali depois que ele ficou cego”.

Como não pensava que fosse seguir esta profissão, Marcilena fez o magistério e passou a dar aulas (primeiro, na Escola de Mata Fria e depois ficou três anos na de Alto Bananeiras) . Ao se deparar com crianças precisando de cuidados resolveu empregar sua habilidade, cortando os cabelos dos alunos, depois de pedir autorização aos pais.

A prática constante tornou firmes suas mãos e a fez tomar cada vez mais gosto pela atividade.  Então nas férias de julho de 1995 ela resolveu fazer seu primeiro curso profissionalizante na capital mineira. “Eram 15 dias de férias e eu paguei uma substituta para assumir minha sala de aula por mais 15 dias e fiquei um mês em Belo Horizonte. Como o curso era de dois meses, com quatro horas diárias, pedi para me dedicar oito horas por dia e concluir em um mês”.

Durante o curso, a professora cortava os cabelos de um lado da cabeça dos voluntários e os alunos do outro. E Marcilena teve muita facilidade, pois tinha as mãos firmes e uma certa prática. Ela também aprendeu a fazer luzes, alisamentos (era comum na época) e o básico de pintura, sem noção sobre coloração.

Quando retornou para Venda Nova, ela já estava decidida a largar o magistério e montar um salão de beleza. Marcilena concluiu aquele ano letivo e no início do próximo já estava livre para procurar um ponto comercial, bem como providenciar os equipamentos e acessórios necessários.

No dia 19 de maio de 1986 ela estava inaugurando seu salão de beleza no final da Avenida Lorenzo Zandonadi, no bairro Vila Betânea. Ela teve uma breve sociedade com sua prima Bisa, que teve dificuldades em continuar pois já era mãe de sua primeira filha.

Todos os dias Marcilena abria as portas do salão para trabalhar em torno de 8 horas. Além de serviços de cabeleireira, ela também fazia o de manicure, pois estava ainda conquistando os clientes, principalmente os que moravam nas proximidades. “Meu salão ficava muito longe do Centro e as pessoas achavam que era difícil se deslocar até lá”. Neste período, Marcilena teve uma sociedade com Geneuza Meneguetti, que mais tarde decidiu abrir seu próprio negócio.

Oito anos depois, já com uma boa clientela, Marcilena se mudou para o ponto onde o salão funciona até hoje. Numa área mais centralizada, ganhou mais visibilidade e também mais clientes. “Uma cliente falou deste ponto vago. Vim para cá, fiz novas parcerias e sigo trabalhando, sempre com hora marcada”.

Em processo de desaceleração, Marcilena se orgulha de estar entre as pioneiras na profissão em Venda Nova. Sua trajetória de 38 anos- a se completarem em maio- permite que ela faça uma leitura de como a profissão e o negócio salão foram modificando, tanto em técnicas quanto em comportamento. “Os sábados não são mais movimentados como antigamente, com exceção para os salões onde arrumam noivas”.

 

Sucesso no corte

Além da firmeza de suas mãos e do domínio das técnicas, Marcilena respeita a cliente não cortando com sua tesoura dourada (predileta) mais do que ela solicitou. Sempre acompanhando as tendências, ela aconselha, dá dicas, mas não impõe.

 

“Já cortei 28 cabelos em um dia de 12 horas de trabalho. E, se descontar aí o horário do almoço dos cafezinhos, fiz em menos tempo. Claro que eu contava na época com colaboradores para a lavagem e secagem/escova”,  diz sobre o tempo que mantinha uma equipe de apoio grande trabalhando junto com ela.

 

Marcilena cita a técnica de desconectar como uma grande aliada para dar movimento e rapidez na execução do corte. Ela aprendeu com um cabelereiro argentino e com formação na Itália no Hotel Senac, na Ilha do Boi, em Vitória. “Os cortes foram chamando a atenção e hoje tenho clientes de todas as idades, com um número maior de mulheres mais maduras”.

Ao priorizar qualidade em detrimento da quantidade, ela destaca que o corte e as luzes são o que mais gosta de fazer hoje em dia. “A iluminação dá uma levantada no visual e eu vejo que as pessoas têm essa referência do meu trabalho”, diz Marcilena ao destacar sua expertise. E ela acrescenta: “A minha agenda flui e não sou de atrasar meus atendimentos, cumprindo dentro do tempo os serviços marcados”.

Em sua trajetória profissional, Marcilena também fez escola. Muitas funcionárias que passaram pelo seu salão começaram ali a se capacitar para depois abrir seu próprio negócio. “Tenho orgulho de vê-las trabalhando e conquistando sucesso em sua especialidade”.

Marcilena, que começou a atuar quando ainda era solteira, se casou, teve dois filhos e também os amamentou durante o expediente no salão, entre o intervalo de um e outro atendimento. Hoje ela está feliz com o rumo dos filhos: Hugo, o mais novo, é formado em educação física pela UFMG e medicina pela Universidade Federal Fronteira Sul, em Chapecó/SC, com mestrado em ciências biomédicas na mesma universidade; Igor, o mais velho, em engenharia mecânica pela Faesa e atua como corretor. “Agora estou aguardando a chegada da primeira neta (a Laura), um presente de Hugo ao retornar para Venda Nova depois de 14 anos fora”.

Dedicada de forma especial aos cortes e coloração, ela mantém uma manicure trabalhando em parceria no espaço e gosta de curtir a paz do atendimento agendado.

“Fico feliz pelas amizades que construí através de meu trabalho. Minha clientela é ótima: tenho ótimas convivências, com pessoas de um papo legal e muito agradáveis. Estou para completar 38 anos de atuação muito feliz. Sou muito grata por tudo. Estou realizada com a minha profissão e com a minha família. Agora vou mais devagar”, diz a profissional e mulher que tira um tempinho para frequentar academia há dez anos e fazer pedaladas nos finais de semana junto com o marido Adão.

Compartilhe este conteúdo: