A neuroarquitetura como ferramenta aplicada no próprio escritório
Um lugar agradável para ser atendido e também para quem trabalha lá dentro. Assim é o escritório da arquiteta Vanessa Schwartz, em Venda Nova: um lugar de aconchego e funcional ao mesmo tempo. Com uma paleta de cores do bege ao marrom, a harmonia se faz presente desde o acesso, que conta com um lindo minijardim, passa pela recepção com cadeiras confortáveis e depois chega ao complexo de trabalho, que conta com uma mesa com computador, um balcão e uma mesa de reuniões. Uma prateleira com peças decorativas enfeita o ambiente e também é um aceno ao bom gosto.
Quem tiver a oportunidade de conhecer o lavabo e a cozinha também podem testemunhar o uso criativo de vários recursos. A presença de pedras e de madeira em quase todos os ambientes revela a suavidade do orgânico. “Elementos neutros naturais favorecem a conexão”, acredita Vanessa.
Como arquiteta, Vanessa defende a concepção de projetos com personalidade, com identificação do usuário e, por isso ela diz que o seu escritório precisava mostrar sua personalidade. “O público que pretendo atingir pode olhar para o espaço e se identificar com as cores, elementos, volumetria. A concepção foi inspirada no uso de elementos naturais: madeira, pedra e metal, mas em uma releitura mais atual”.
Vanessa explica que elementos naturais tendem a trazer maior sensação de conforto e bem-estar, e ajuda as pessoas a se conectarem com sua essência. “Então ao mesmo tempo em que crio um ambiente aconchegante- com cores, texturas e iluminação-, crio um escritório estratégico para atender de forma melhor meus clientes e captar novos”, pontua a profissional.
Ao usar seu escritório como laboratório, Vanessa inseriu algumas das tecnologias que são interessantes, trazem facilidades e chamam atenção dos seus clientes. “A iluminação automatizada, algo que podemos explorar mais nos projetos, traz conforto e facilidade no dia a dia. O que fiz aqui, pode ser facilmente adaptado nos projetos de reforma que tenho acompanhado”.
Outro fator que Vanessa buscou ao projetar seu escritório foi gerar um espaço que a mostre como profissional. Para ela, o arquiteto tem que ter o posicionamento do que compreende como boa linguagem. Ela entende que o projeto do cliente vai fluir melhor se ela estiver nesta linguagem. “Isso não significa que só vou fazer ambientes neutros, só porque eu funciono melhor assim. Não quis nada que gerasse muito estímulo, pois para mim o estímulo tem que ser o sonho do cliente que eu vou realizar para ele. Não quero nada que me tire deste foco. O ambiente que me favorece tem a neutralidades necessária para sentir o cliente, o que ele traz como informação e criar os projetos de acordo com a personalidade dele”.
Ao se mostrar através da linguagem visual de seu escritório, Vanessa possibilita ao cliente que tenha um campo neutro de identificação com o arquiteto que ele escolheu.
Neuroarquitetura
Sempre em busca do constante aprendizado, no momento Vanessa está fazendo sua segunda especialização. “Porque a arquitetura está sempre em desenvolvimento, novos estudos, novas aplicações e, para ser uma boa arquiteta, é indiscutível estar sempre bem antenada com as novidades de mercado. E eu não me refiro apenas às tendências, mas a relação humana com a arquitetura, a percepção do indivíduo”.
E na pós de design de interiores (a neuroarquitetura tem sido um tópico abordado em vários módulos), Vanessa está descobrindo coisas novas e reafirmando grande parte de seus conhecimentos. “A neuroarquitetura tem sido um objeto de estudo importantíssimo, pois assim conseguimos compreender melhor e de forma mais profunda como o espaço se relacionam com os nossos sentidos, nossas emoções, reflexos”, explica.
Ela observa que o arquiteto pode criar um ambiente baseado não apenas no gosto estético do cliente, mas levar em conta o sistema sensorial: do que ele precisa, o que deseja sentir. Se quer um ambiente para relaxar, descansar ou quer um ambiente estimulante, produtivo. “O que o cliente deseja sentir no ambiente que mora ou trabalha é influenciado pelas cores, texturas, iluminação e objetos que compõe o espaço”.
Um lar que nos representa
Vanessa percebe que atualmente se vê espaços sendo projetados que não geram conexão com o indivíduo. São ambientes copiados de redes sociais, que não criam laços, não geram memórias afetivas, não tem personalização. Na pandemia entendemos a importância de ter um lar que nos representasse e precisamos continuar a falar sobre isso, a fazer projetos que represente o cliente de fato, que gerem sensações de forma intencional.
Algumas vezes, na ansiedade natural de querer conceber a ideia de um ambiente, muitas pessoas tentam reproduzir alguns trabalhos que veem nas redes sociais. Isso não seria problema, caso apenas sirva de inspiração, pois muitas vezes se tratam de projetos feitos para a realidade de determinada região, com características completamente diferentes de onde a pessoa vive. “ Além de se tratar de uma realidade diversa, não se sabe para que tipo de pessoas aquele projeto foi feito, quais as características e a rotina. O projeto precisa ser feito com base na rotina, na experiência e no estilo de vida de cada pessoa ou família”, pontua Vanessa.
Para entrar neste universo particular de um cliente, num primeiro momento, Vanessa faz perguntas nem sempre relacionadas diretamente ao projeto técnico, mas sobre o sentir, as impressões e como esta pessoa gosta ou almeja viver a vida. Claro que chega o momento de fazer o 'briefing', o documento que servirá como um guia para a execução do projeto. Ali estarão incluídas informações sobre a cores de preferência, rotina... Também sobre como é a dinâmica de vida social: se gosta de receber pessoas, cozinhar, ver filmes, jogar, ouvir música... “Quando a pessoa gosta de receber, por exemplo, precisamos criar ambiente que promova a convivência... A neuroarquitetura vem para que consigamos enxergar o que o cliente precisa e apresenta ferramentas para propor soluções”, explica.
Especialistas na área falam de leitura espacial para cada tipo de cliente. De forma básica, Vanessa explica que tem o cliente do barroco e do clássico. “O barroco gosta de muitas informações, estímulos e objetos. Já o clássico prefere os tons mais neutros, o minimalismo, que nenhum objeto se destaque mais do que o outro... E a neuroarquitetura coloca em foco a essência e como a expor em forma de espaço, de objetos... o que a representa cada um”.
Como a neuroarquitetura, que é neuro ciência aplicada a arquitetura, estuda o funcionamento do cérebro em relação ao ambiente, conclui-se também que o ambiente também é definidor do comportamento de quem dele desfruta. Além de levar para o ambiente características das pessoas, a proposta é como organizar o espaço de forma que influencie de forma positiva quem vive nele.
Por isso, Vanessa reforça que é preciso fazer muitas perguntas, do tipo: qual a experiência se quer viver no espaço? O que quer sentir e o que deseja mostrar? “É fundamental compreender que a forma como o cérebro entende o espaço nos afeta profundamente. Cada cliente é diferente, cada usuário tem uma percepção da vida, do espaço de maneiras distintas, o que serve para um nem sempre serve para o outro”, conclui.
Vanessa sabe que os profissionais da arquitetura já tinham ciência de que seus projetos influenciam e impactam na experiência das pessoas, porém a neuroarquitetura vai mais além na tentativa de entender como o espaço construído influencia e muda os processos mentais, até mesmo além da consciência. “Nesse sentido podemos utilizar recursos que irão auxiliar na identificação com o ambiente. Um exemplo é o design biofílico, que utiliza elementos naturais/vivos, como luz natural e ventilação. A ideia é criar ambientes híbridos, com composições interna e externa simultâneas”, finaliza.