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Instituto Consciência Antidrogas conta com parcerias para fazer trabalho de recuperação

Instituto Consciência Antidrogas conta com parcerias para fazer trabalho de recuperação

Com vagas para 48 acolhidos, Projeto desenvolvido em Afonso Cláudio evolui em estrutura e práticas sob os olhos do seu idealizador e entusiasta

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Um lugar cheio de verde, com abundância de água e com o barulho de uma cachoeira como tranquilizador, se tornou um lugar de recuperação de usuários de substâncias psicoativas. Localizado em Afonso Cláudio, mais propriamente na comunidade rural de Rio do Peixe, o Projeto Resgate Vida, nome fantasia do Instituto de Consciência Antidrogas, é resultado do sonho de um ex-usuário.

A história de Juscelino Moraes, 47 anos, merece um destaque à parte. O mais interessante é primeiro mostrar o que ele conseguiu construir com esforço, parcerias e capricho, sempre tendo em mente a sua experiência como indicativo para construir uma mais aprimorada daquela vivida no período que foi um acolhido em outra instituição.

Juscelino registra que para que seu sonho fosse possível de se realizar contou com o apoio dos pastores João Antônio de Souza, Braz Antônio Côco e Félix Rodrigues Pereira que abraçaram esse “audacioso projeto” e caminham com o Instituto até hoje.

Com capacidade para acolher 48 pessoas, a comunidade terapêutica Projeto Resgate Vida atua com fila de espera. A porta de entrada se dá pelo Creas de Afonso Cláudio e pelo programa Rede Abraço, do Estado do Espírito Santo, que custeia o período de estada dos acolhidos. Somente duas vagas são particulares, com o pagamento apenas de ajuda de custo.

“A internação é sempre voluntária e, por isso, não há cercas no entorno da propriedade”, diz Juscelino sobre o que pudemos comprovar ao encontrar a porteira aberta ao chegar na Comunidade. Depois de percorrer os diferentes ambientes do local (sala de informática, auditório, consultórios, academia e cozinha), a parada para o bate papo foi no refeitório.

Além do cheiro convidativo do almoço prestes a ser servido, o espaço aberto em quase 360 graus tem vista para a cachoeira e para as principais instalações, que são intercaladas por jardins e fazem vizinhança com um enorme lago de peixes. O lugar é lindo e protegido pelos morros cobertos pela mata atlântica.

Toda a estrutura física e os recursos naturais compõem os instrumentos terapêuticos junto aos atendimentos profissionais e às atividades diárias da comunidade. Ao chegarem, os acolhidos passam pelos atendimentos da assistente social e do psicólogo. “É para que todos os direitos sociais sejam preservados ou resgatados. Verificamos toda documentação, os direitos do acesso aos benefícios previdenciários, bem como articulamos com o município de origem do interno o resgate do contato familiar e do empregatício”.

“O papel do psicólogo na dependência química se fundamenta na escuta compreensiva sobre o sujeito. Seu olhar vai para além da doença em si. O psicólogo busca compreender a história, motivações e razões da pessoa a ser acolhida. Ao longo da estada, ele ajuda o dependente a encontrar outras soluções para os seus problemas. O psicólogo objetiva ajudar o indivíduo no processo de autonomia, para ele ver como dono de sua própria história’’, explica.

Juscelino evidencia que estes profissionais fazem uma avaliação para presumir o tempo necessário para o acolhido receber alta. No entanto, o acolhido tem voz ao dizer o período que deseja permanecer na comunidade. “Tentamos achar o meio termo para que o acolhido pactue o seu tempo de permanência, que muitas vezes é estendido por eles mesmos. Em alguns casos, o tempo é necessário para que eles recuperem a relação com as suas famílias. A legislação prevê a internação de até seis meses”, enfatiza.

Além das atividades e do tratamento oferecidos, a comunidade prepara os acolhidos para a ressocialização em seu município de origem. “Entramos em contato com a assistência social do município para tentar viabilizar o emprego, o aluguel social e conhecer quais os programas disponíveis que o  auxiliem na pós-alta. A pessoa retorna com referências do que vai fazer, pois continua precisando de uma rede de apoio para evitar uma recaída”.

Essa movimentação se dá pelo risco do retorno ao uso das substâncias e também pela situação social da maior parte dos acolhidos. A maioria é formada por moradores de rua ou por pessoas em risco social por diferentes situações. “Grande parte é da área rural do Espírito Santo. Também temos acolhidos com formação superior, profissionais liberais, concursados...”

 

Rotina

O conselheiro terapêutico forma o tripé profissional que conduz o dia a dia do acolhido. Renato Teixeira de Souza, que traz experiência de vivência nos Alcoólicos Anônimos- AA e no Narcóticos Anônimos- NA, é o responsável pela organização da rotina, que começa com o despertar às 7 horas e o café da manhã servido às 7h30, seguido de medicação às 8 horas. Toda medicação dos internos fica na farmácia, que libera as doses, conforme receituário médico.

Em seguida, as atividades ligadas ao autocuidado e sociabilidade ocupam cerca de uma hora e quarenta minutos. Nesse período, os acolhidos se dedicam à manutenção dos alojamentos, cuidados com o jardim, organização da despensa e outros serviços da cozinha, dentre outros. De forma rotativa, todos participam de todas as funções ao longo da semana.

Das 10 horas até às 11h30, a Comunidade promove cursos e palestras. Cursos profissionalizantes, como de panificação, produção de salgados e biscoitos e de cabeleireiro, estão entre as ofertas. Muitos são oferecidos pelo Senar, como o do uso de motosserra, e outros pela Prefeitura de Afonso Cláudio, que já promoveu os de empreendedorismo e de gestão.

Com a sala de informática, os acolhidos têm acesso aos cursos online oferecidos pelo Qualificar ES, nos quais eles se inscrevem e podem ser selecionados. Os que têm condições pagar estão liberados para contratar diferentes cursos online profissionalizantes.

Ao meio dia o almoço é servido no refeitório. A cozinheira contratada conta com o apoio de parte dos acolhidos, que ajuda no preparo, assim como na organização geral da cozinha. Toda equipada e planejada, a cozinha conta com uma bancada de inox para manipulação de vegetais e outra para manipulação de carnes. O ambiente é arejado e a arquitetura possibilita o fluxo de trabalho, como entrada de alimentos, higienização, produção e armazenamento, no caso dos não perecíveis.

Até às 14h30, o lazer é livre. Os acolhidos podem fazer trilhas, tomar banho na cachoeira, pescar no lago, assistir televisão, ouvir música, jogar xadrez, dama ou vôlei e futebol. Depois eles retomam as atividades de autocuidado e manutenção dos espaços, sendo que em alguns dias este horário é ocupado com palestras com o psicólogo e a assistente social.

O café da tarde é servido às 15h30 e o restante do dia é livre para os acolhidos se dedicarem à atividade de lazer de sua preferência. As 19 horas o jantar é servido e são feitas as medicações, e novamente os acolhidos estão livres até o toque de recolher, às 22 horas.

Seis refeições são servidas por dia: café da manhã, um lanche leve às 10 horas, almoço, café da tarde, jantar e ceia. Tanto a ceia quanto o lanche das 10 horas são feitos com um alimento leve, gelatina ou fruta, por exemplo. Para a ceia, geralmente, eles pegam o alimento na hora da janta e levam para o dormitório.

 

Prontuário

Todo atendimento técnico é registrado, bem como qualquer tipo de intercorrência ou fato que saia fora da rotina diária. Acompanha esse documento um prontuário com todo o histórico do acolhido e lá estão contidas informações técnicas, sociais, de saúde e também as metas pessoais que cada um relata querer cumprir.

Este prontuário fica disponível para os coordenadores do projeto, bem como para os profissionais. Já os atendimentos feitos pela assistente social e pelo psicólogo geram um relatório sigiloso, aos quais somente outros profissionais têm acesso.

De acordo com Juscelino, em caso de alguma intercorrência relacionada à saúde, o acolhido é levado até o Hospital São Vicente de Paula, na Sede de Afonso Cláudio. O conselheiro e o plantonista são responsáveis de levar o acolhido ou acionar o Samu, se necessário for.

Além do apoio da diretoria do Hospital, a comunidade conta com a parceria da Polícia Militar, que sempre promove palestras. “As parcerias com a Prefeitura e com o Governo do Estado são fundamentais para manutenção do projeto, que há alguns anos passou a contar com o apoio do Sicoob Sul-Serrano”.

 

Parceria com o Sicoob trouxe visibilidade, além de estrutura física para a academia, equipamentos para a sala de informática e energia limpa

A primeira e grande aproximação da comunidade terapêutica com o Sicoob Sul-Serrano se deu em 2018, através de uma ação do Dia C. Os funcionários da agência do Sicoob de Afonso Cláudio mobilizaram a sociedade local para ir à sede do projeto para almoçar num domingo.

O prato do dia 28 de julho daquele ano, uma feijoada, foi preparada na cozinha da comunidade pelos próprios funcionários da agência, que também promoveu sorteio entre os convidados. “Foi incrível ver 12 funcionários do Sicoob chegando aqui por volta das 5h30 e assumindo a cozinha”, recorda-se Juscelino.

Com o dinheiro arrecadado foi feita a nova estrutura da academia de musculação. “Eles compraram o material, contrataram o serviço e nos entregaram a obra pronta. Foram construídos dois banheiros, sendo um adaptado para cadeirantes, uma sala para guardar equipamentos e o espaço para colocar os aparelhos, que ganhamos do Fórum de Afonso Cláudio”.

Se a nova academia, que antes funcionava precariamente, deu ânimo aos profissionais e acolhidos, a visibilidade gerada pela ação do Sicoob trouxe ainda mais ânimo ao coração de Juscelino, o idealizador da comunidade terapêutica. “A obra foi de extrema importância. Mas, para mim, a visibilidade que o almoço trouxe para a comunidade diante de empresários e da sociedade afonso-claudense como um todo foi nosso grande presente”.

Juscelino falou que alguns empresários, como Levi Tesch, Beto Bragatto, Dimas, Edjaz e outros, já colaboravam. Outros passaram a se interessar e as parcerias e apoio se ampliaram. “Muitos passaram a conhecer nosso trabalho e ganhamos ainda mais respeito entre os moradores e empresários”.

 

Sala de informática

Em julho de 2021 foi construído um laboratório de informática com o recurso financeiro advindo de um Edital de Boas Práticas do Estado do ES, e o Sicoob  doou os 12 computadores e 12 cadeiras para equipar o espaço.

A partir de então os acolhidos puderam fazer cursos online, tanto os pagos por eles quanto os oferecidos por instituições, como o Senar. “Acho muito importante oferecer formação para ampliar as chances de reinserção. Também penso que, caso aconteça uma recaída, o conhecimento é um bem que eles nunca vão se desfazer. Estamos construindo um bem que não pode ser perdido, como acontece com os materiais”.

Juscelino explica que os cursos podem ser escolhidos de acordo com a necessidade e o desejo do acolhido. “Muitas vezes trata-se de uma capacitação que ele já precisava fazer como exigência de seu trabalho. Assim, quando sair e retornar para o seu emprego, já terá resolvido esta demanda”.

 

Energia limpa

Já estão instaladas as placas que levará energia limpa para consumo da comunidade terapêutica, fruto de da seleção do Edital de Projetos Sociais do Sicoob. A expectativa é que com a liberação da EDP Escelsa comece a funcionar nos próximos dias, trazendo um impacto positivo na próxima conta mensal. 

Juscelino acredita que a instalação no sistema de captação de energia solar represente de 75 a 85% de redução de energia elétrica. “Além de energia limpa, vamos investir em melhorias com a economia gerada. Ganhamos as placas e, caso tivéssemos que pagar do próprio bolso, recuperaríamos o investimento em pouco mais de dois anos”.

Ele também pensa em mais conforto térmico, com a instalação de ar refrigerado nas salas de atendimento. “Nos dias de calor intenso é muito difícil permanecer em alguns espaços. Com a instalação de ar, os atendimentos serão mais tranquilos”.

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