Duplicação da BR-262: sonho ou realidade?
Obra robusta promete marcar um novo momento na história de Venda Nova
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No mês em que Venda Nova do Imigrante completa 37 anos de emancipação política, vale lembrar que a luta pela evolução do lugar começou muito antes e, no mínimo, pode ser datada com a chegada das primeiras famílias de imigrantes italianos. Há pouco mais de 150 anos, as fazendas abandonadas pelos portugueses com o final da escravidão foram ganhando novos donos e uma nova era de prosperidade foi sendo construída.
Isolada pela carência de estradas, Venda Nova se servia da que a ligava Castelo, via Conceição do Castelo, e da picada da Rota Imperial, ambas representavam as principais ou únicas conexões com o restante do Estado e, por consequência, do Brasil e do mundo. Um dos grandes marcos para o desenvolvimento de Venda Nova foi a abertura da BR-262. Para se ter a ideia da sua importância no cenário nacional, essa rodovia, de leste a oeste, inicia em Vitória/ES e termina em Corumbá/MS, passando por diversas cidades e paisagens.
O trecho que interliga o Espírito Santo a Minas Gerais foi inaugurado na virada de 1969 para 1970. A rodovia já não é tão eficiente diante do aumento sucessivo do fluxo de veículos e do movimento gerado pelos empreendimentos e pela ocupação urbana ao longo de sua extensão.
No próximo mês de novembro está previsto a publicação do edital para as obras do projeto que promete melhorar a fluidez do trânsito no trecho da rodovia que liga o território capixaba a Minas Gerais. O custo da obra faz parte de estudos feitos a pedido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes- Dnit, que anunciou na imprensa capixaba ainda não haver definição de um orçamento final. No entanto, a previsão é que os investimentos necessários para a execução do empreendimento fiquem na ordem de R$ 8 bilhões. Parte dessa cifra será investida na duplicação do trecho entre o entroncamento com a BR 101, em Viana, até a divisa com Minas Gerais, totalizando 180 quilômetros de extensão.
Por se tratar de uma rodovia federal, a intervenção é de responsabilidade da União, sendo que eventuais investimentos complementares em ligações secundárias deverão ser conduzidos pelas esferas estadual e municipal, dentro de suas respectivas competências e prioridade.
Em outubro de 2024, o Governo do Estado anunciou que vai destinar R$ 2,3 bilhões do acordo de Mariana para custear parte da construção. O projeto de duplicação da BR-262 no Espírito Santo começou a ser elaborado após o contrato firmado em 7 de julho de 2023 com o Consórcio Pedra Azul, responsável pelos estudos de construção e pelo licenciamento ambiental.
Desde a formalização do contrato, foram realizados levantamentos técnicos, incluindo contagens volumétricas de tráfego, para caracterização das condições operacionais da rodovia, e cadastramento topográfico, etapa necessária para elaborar o planejamento de intervenções estruturais.
Com base nesses levantamentos, foi elaborado e aprovado o estudo de traçado, que estabelece as diretrizes principais para as etapas subsequentes do projeto. Paralelamente, estão sendo conduzidos os estudos ambientais para a obtenção da licença prévia, cuja competência regulatória é do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos- Iema.
Cronograma de execução
O cronograma de execução é outro desafio devido à complexidade do empreendimento, especialmente no que se refere às particularidades geotécnicas e topográficas. A primeira fase da duplicação começa em Viana vai até divisa do Espírito Santo com Minas Gerais.
De acordo com Marcel Haaase, chefe da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Viana e responsável pela gestão da rodovia, empresas diferentes poderão ganhar os três lotes da primeira fase, o que vai permitir a execução da obra de forma simultânea em toda extensão no território capixaba. “Todos os três lotes têm desafios, sendo os lotes 1 e 2 os mais desafiadores”.
No trecho conhecido como o viaduto de Venda Nova, por exemplo, existe previsão de um corte na pedra para a construção de um túnel de cerca de um quilômetro. Pelo menos esta é a proposta que irá constar no edital, que está sendo montando com base em estudos de uma empresa de engenharia contratada para dar assessoria ao projeto. Haase informa que, a partir da assinatura do contrato, as empresas vencedoras terão o prazo de cinco anos para finalizar as obras.
Com um traçado antigo e pista simples, a rodovia federal apresenta pontos com problemas graves que, somados às imprudências no trânsito, ocasionam muitos acidentes. O aumento do fluxo, em especial no trecho que liga a capital à região turística, tem tornado as viagens cada vez mais lentas e cansativas, principalmente em dias e horários de pico.
Com a duplicação, o fluxo de veículo vai melhorar e a proposta é que as cidades, como Venda Nova, não tenham travessias de pedestres e nem de motoristas pela rodovia, o que poderá ser resolvido pela construção de elevados, túneis e passarelas. De acordo com Haase, em alguns trechos serão necessárias desapropriações, o que dificilmente acontecerá em Venda Nova, que guarda um afastamento considerado suficiente para o alargamento da pista.
Dos R$ 8 bilhões previstos para duplicação de toda extensão, R$ 5,3 serão destinados à primeira fase (divididos entre os três lotes do trecho do Espírito Santo). Parte da origem do dinheiro vem da indenização da tragédia de Brumadinho (que ocorreu em 25 de janeiro de 2019, com o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, Minas Gerais).
- Foto: Jamile Gomes Fazolo (campeã na Categoria Amador do 3º Concurso Municipal de Fotografia, em 2022).