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Uma vida mais natural a levou até a produção de kombucha

Uma vida mais natural a levou até a produção de kombucha

Kombucha, uma bebida ainda pouco conhecida no Brasil, se tornou um projeto de vida de Ileuza Elias

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Foto Wanda Ferrera/Jean Davies

Numa rota que começa em Lajinha, Minas Gerais, passa por Venda Nova e termina em Vitória, capital do Espírito Santo, vários pontos comerciais disponibilizam a +Kombucha, uma bebida natural, leve e capaz de colaborar com a  saúde. O que poucos sabem é que a marca é resultado da experiência de vida de Ileuza Elias, uma mineira que viveu no exterior por muitos anos: Japão e Estados Unidos.

De volta para a terra natal, ela casou, teve uma filha, se separou e se tornou uma empresária durante essa trajetória. Dona de um hotel em Lajinha, a adepta a yoga e a alimentação natural começou a produzir a bebida à base de chá verde orgânico, fermentada por bactérias e leveduras que vivem em simbiose.

De origem chinesa, o 'kombucha', Ileuza explica que trata-se de uma bebida gaseificada naturalmente, ácida e levemente adocicada feita da inclusão do chá da planta Camellia sinensis, sendo os mais comuns no Brasil o chá verde e o preto, com a adição de bactérias, leveduras e açúcar – que promovem a  fermentação.

Desconhecida por aqui há alguns anos, a bebida tornou-se febre entre os adeptos da alimentação saudável e Ileuza explica os motivos. O kombucha possui micro-organismos importantes para a biota intestinal, e é justamente aí que mora a grande importância da bebida. “Os probióticos fornecem ao intestino bactérias saudáveis, que melhoram muitos aspectos da saúde, incluindo a digestão, a inflamação e até a perda de peso”, observa.

Com o sucesso da bebida entre os amigos e, com a chegada da pandemia, que a fez paralisar as atividades no restaurante de comidas naturais que mantinha no hotel, Ileuza resolveu investir no kombucha. “Eu já colocava algumas unidades na lojinha de produtos naturais do restaurante e, com o aumento da procura pela bebida, vi que esse seria o momento de abrir uma outra vertente”.

De acordo com Ileuza, ela faz parte das primeiras pessoas do Brasil no processo final de cumprimento de todos os termos de legalização para produção de kombucha. “É muito burocrático, longo e é muito difícil cumprir tudo dentro do prazo e eu estou conseguindo. Em breve, nossa produção estará toda reconhecida de acordo com os regulamentos do Ministério da Agricultura”.

A bebida, já muito conhecida na Europa, Japão e nos Estados Unidos, tem encontrado adeptos entre aqueles que querem melhorar a sua imunidade, principalmente pessoas acometidas com doenças como o câncer. Para dar mais graça à bebida, Ileuza resolveu acrescentar sabores. “Depois dos dez dias de fermentação, a bebida passa pelo processo de saborização, que ajuda a gaseificar. Como todos os ingredientes são naturais, alguns sabores gaseificam mais e outros menos”.

Ileuza garante as melhores matérias-primas. “Compro o melhor chá verde orgânico e fazemos as receitas com especiarias, alguns chás e sucos integrais, sem adição de açúcar ou conservantes. Tudo é completamente natural. Também tem nutricionista prescrevendo ao kombucha para ajudar os pacientes com problemas intestinais ”.

Por enquanto, a produção toda é feita num espaço anexo ao hotel, pois em breve, a nova fábrica começará a fun-cionar. Como se trata de um projeto novo, Ileuza faz vários ajustes. Sua produção caseira começou há dois anos, mas há um ela passou a fazer os cursos mais conceituados do Brasil. “Comecei a me dedicar ao sentir os benefícios em mim mesma: uma pele melhor e mais disposição. Isso me despertou e procurei mais conhecimento. Dentre os cursos que fiz, destaco o com Lucas Montanari, de São Paulo, de quem eu contratei uma consultoria. Também sou assessorada pelo especialista na planta Camellia sinensis, Benício Coura, também de São Paulo”.

Com uma proposta de ser uma bebida natural, a +Kombucha não escapou de ser envasada em embalagens de plástico. “Eu tentei em embalagens de vidro, mas não consegui fazer o esquema de retorno. Também usaria muita água e produtos químicos para reaproveitá-las. Por enquanto, vamos fazer assim, até acharmos um caminho mais viável, contando com a iniciativa das pessoas em destinarem corretamente a embalagem”.

 

A rota

Por ser uma bebida viva, o kombucha requer cuidado no transporte, com ciclos curtos de entrega, já que não possui conservantes. De 15 em 15 dias, Ileuza mesmo faz as entregas nos pontos de venda. Além da trajetória de Lajinha a Vitória, com pontos em Iúna, Ibatiba e Venda Nova, por exemplo, a rota tem um braço em Minas, com alguns pontos de venda em Manhuaçu.

Com uma produção mensal de 3.000 garrafas, a capacidade é de 10 mil. “Nosso projeto é produzir na capacidade total para dar sustentabilidade ao projeto e não pretendo passar disso. Penso que faz parte da filosofia de vida de quem opta por uma bebida natural é consumir algo feito por alguém conhecido, de sua região. Por isso quero incrementar essa rota com mais pontos de venda e continuar fazendo parte da entrega, assim posso conhecer de perto o mercado consumidor”.

 

 

Trajetória

À frente do Hotel Di Luca há cinco anos, Ileuza Elias voltou a morar no Brasil em 2007, quando retornou ao seio familiar e casou-se com um conterrâneo. Com ele teve a filha Sofia (de 11 anos), se separou e assumiu de vez a direção do hotel. Com 49 apartamentos, localizado no Centro da cidade, o hotel atende representantes comerciais, empresários de passagem pela cidade... “Cuido de cada detalhe: da lavandeira até o café da manhã”.

Com a pandemia, a demanda caiu o que a obrigou a fechar o restaurante com comidas naturais que mantinha no hotel. No espaço, ela também mantém uma lojinha de produtos naturais, o seu primeiro ponto de venda de kombucha.

Toda a linha de trabalho da  valorização do natural tem a ver com a sua experiência de morar sete anos no Japão e depois mais sete nos Estados Unidos. Nesses países, Ileuza teve oportunidade de estudar yoga e a meditação passou a fazer parte da sua vida, além de apurar sua visão altruísta do mundo.

Todos esses caminhos e a busca da espiritualidade a levaram a ser membro da Fraternidade Sem Fronteiras, o que resultou em uma viagem para a África em 2018. Em Moçambique, Ileuza se deparou com uma realidade dura e ao mesmo tempo sábia. “O povo de lá sublima a dor da fome. Eles são muito educados e quando ganham um alimento, vão comendo pedacinho por pedacinho... Vi muita finesa e posso dizer que aprendi muito com eles, principalmente ter mais calma na hora de me alimentar”.

Dentro desse projeto da Fraternidade, Ileuza se integrou a um movimento para levantar renda para construção de poços artesianos. “Conseguimos construir três poços em Moçambique e um no Nordeste do Brasil, dentro do programa 'Água Para Quem tem Sede''”.

Em novembro de 2018 Ileuza também foi visitar o acampamento de refugiados da Venezuela em Roraima, onde fez atendimento fraterno ensinando as famílias a fazerem meditação. De lá para cá passou a acolher famílias na região  onde mora, conseguindo casa, trabalho e toda ajuda que pudesse. “Contei com o apoio dos amigos para organizar estrutura para receber essas pessoas. O que me alegra e ver que todos estão se virando, trabalhando, estudando e cuidando de suas famílias”.

Por conta de seu trabalho, Ileuza foi convidada para falar para 5.000 pessoas em um evento em São Paulo. Mas, devido à pandemia, o evento foi cancelado. “Enquanto não retorno minhas atividades sociais vou investindo de forma mais pesada na produção e comercialização do +Kombucha, que também vai ganhar vida própria e poder caminhar, mesmo diante de minhas ausências”.

A história de Ileuza, que saiu ainda menina de casa e foi morar do outro lado do mundo e depois retornou, com a cabeça cheia de ideias, vai se tornar livro. O projeto, tocado pela escritora Ivanete Silveira, está em andamento e promete estimular outras mulheres a acreditarem em seu potencial, terem coragem de ousar, sem perder a delicadeza e o brilho no olhar.

"Biografar Ileuza Elias tem sido uma viagem pela alma de uma mulher que é muita coisa, menos morna. Com os pés no chão e a cabeça nas estrelas, às vezes se permitindo carona em uma nuvem passageira, Ileuza é perita na arte de se reinventar. Será capaz de recomeçar mil vezes se isso significar crescimento espiritual e transformação de sonhos em realidade.  Fluente em  inglês, espanhol e japonês, não é de falar muito. Prefere desafiar e encantar com atitude. É um livro que surpreenderá”, resume Ivanete Silveira sobre a personalidade da biografada.

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