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Liderança e inspiração para outras cafeicultoras

Liderança e inspiração para outras cafeicultoras

Josane montou um Restaurante e Café em Vila Pontões, onde também recepciona os visitantes para vivenciar o turismo de experiência

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Além de produtora de café, Josane de Souza Lima Bissoli é dona de restaurante, café e padaria em Vila Pontões, Afonso Cláudio. Em busca de sustentabilidade, ela construiu um mix em seu comércio, que também é ponto de recepção para o turismo de experiência que leva os visitantes a conhecerem o universo do café de qualidade.

Josane, que já fazia um trabalho com as mulheres da associação para trazer oportunidade dentro da cultura do café, achou no turismo o caminho, pois a comunidade faz parte do pioneirismo em café especial. “Não tinha um local para servir alimentos e levava os visitantes para as residências, recebendo muitos em nossa casa. Eles adoravam a comida feita no fogão a lenha”.

Convidada pela amiga Selma Ruchidesch, Josane montou um restaurante num ponto de fácil acesso para os visitantes e também para os turistas.  Era o depósito de propriedade de Maria Helena, que foi reformado pelas duas com a ajuda de um pedreiro.  Logo depois veio a crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus. Elas, preocupadas com os mais idosos da família, paralisaram as atividades.

Em casa, Josane passou a ser muito procurada pelas pessoas pediando refeição. Foi então que ela propôs a reabertura do restaurante para a amiga, que não quis voltar para a atividade, pois estava sobrecarregada.

Josane reabriu com um cardápio ampliado, um preço mais acessível, tirou a balança e chamou pessoas para ajudá-la. A proprietária do imóvel ofereceu o ponto da frente (com esquina toda onde funcionou por mais de 40 anos o conhecido Bar do Pedrinho). Ela viu uma oportunidade de mostrar os cafés da propriedade e da região, bem como os produtos caseiros das propriedades da rendondeza, além de montar uma padaria também.

“Os visitantes e moradores passaram a ter a oportunidade de tomar um café de qualidade, coado de forma tradicional ou o V 60, sem muito investimento em máquinas. Explico todo o processo de produção, as nuanças dos pontos de torra, dentre outros detalhes, para aquelas pessoas que gostam. Eu passo um pouco do que sei, do que aprendi com minhas experiências e cursos”.

Para colocar para funcionar o 'Restaurante e Café da Josane', ela chega ao trabalho às 5 horas e abre às 6, quando começa a servir o café. Às dez o almoço está disponível no fogão a lenha e à tarde tem nova fornada de pão e continua para servir o café. O marido, Gelson Bissoli, lhe dá apoio ao fazer os primeiros atendimentos, ficando no balcão até às 7 horas, e ele também ajuda fazer compras e pagar os boletos quando vai à cidade. Às vezes vai exclusivamente para este fim. “São quatro pessoas trabalhando sem parar”, diz sobre ela e sua equipe.

Quando recebe para o turismo de experiência, Josane recepciona os visitantes na padaria e depois os leva para a propriedade para mostrar o processo de colheita num tour que termina na sala de prova sensorial. As visitas são programadas, o que facilita conciliar com sua agenda tão cheia de atividades.

 

O Sebrae, os treinamentos e a loja online

Josane recorreu ao Sebrae quando percebeu que o restaurante e o café não seriam suficientes para dar conta no ponto ampliado. Era preciso agregar novos produtos para viabilizar os negócios e o primeiro passo foi fazer o planejamento estratégico, seguido do financeiro e da construção de novas estratégias de vendas. Além das vendas presenciais, nasceram as online com a construção do site ‘Café da Josane’. Também foi elaborada uma comunicação visual, com a criação da marca e consequente rotulagem de seus produtos.

“Entrar no comércio foi algo muito novo, que não tinha vivenciado. Quando busquei o Sebrae e descrevi as dificuldades que estava passando, os atendentes apontaram várias janelas: fiz consultorias financeiras, de marketing, de redes socais, de planejamento estratégicos para vencer os desafios. Até mesmo me foi mostrando outras potencialidades, como foi a venda de experiência, que veio com a consultoria do Espírito X. Foi tudo muito inovador e muito importante”.

Josane observa que na área rural, quando se fala em lazer, o que se tem é bar ou buteco. E a proposta dela foi a de oferecer um ponto de encontro que toda a família pudesse frequentar junta ou em momentos separados. “No Restaurante e Café da Josane, todos podem ir e se sentir bem”.

Tanto Josane quanto o esposo Gelson já conheciam os serviços do Sebrae antes dessa experiência com o comércio. Ela se recorda do saudoso Rodrigo Belcavello Barbosa, que segundo ela, levou a figura do Sebrae até a comunidade há mais de quatro anos. “Ele deu muita atenção às nossas demandas e nós fizemos todos os cursos que ele indicou. Quando eu voltei a procurá-lo ele estava fazendo sua transição para atuar na capital e o escritório de Venda Nova nos prestou toda assistência”.

A participação de sua filha Ana Luiza,  de 20 anos, que estuda fora, mas estava em casa devido à pandemia, ajudou bastante Josane nessa fase de construção do negócio, que exigiu a adoção das inovações, na maioria propostas e orientadas pelo Sebrae.

O Restaurante e Café da Josane está estrategicamente localizado um ponto onde todo mundo chega para pedir informação. A empreendedora reconhece que o local merece trabalhar ainda mais as potencialidades do café e ela quer investir em equipamentos e na oferta de outras formas de consumir a bebida mais importante para a economia de sua comunidade.

Além de visitantes e transeuntes, têm clientes que moram na Sede de Afonso Cláudio ou em outras comunidades rurais vizinhas, e fazem questão de passar lá para almoçar. “Ainda não abrimos aos domingos, mas estou vendo que isso vai ter que mudar”.

A comida caseira, feita no fogão a lenha, utiliza várias produções da propriedade familiar. É o caso da polenta feita com o  fubá do milho lá cultivado. Os ovos, a carne de porco e o feijão, cultivado entre as leras de café compões as ofertas. Têm ainda o inhame e as hortaliças. “Também compramos os produtos  das hortas ou dos plantios dos vizinhos de cima ou o de baixo”.

Nos meses de muito giro, a média de 80 a 90 pratos servidos, caindo para 45 a 50 em janeiro e fevereiro. Quem vai ao local pode ainda comprar  fubá, banha, ovos e outros produtos da família e também das propriedades circunvizinhas, como cafés, tubérculos e biscoitos. “Apoiamos o trabalho das outras mulheres e queremos inspirá-las, mostrando que os sonhos são possíveis”.

Para atender à demanda da comunidade, Josane fez uma programação de um sábado diferenciado. Ela abre o ponto até 11 horas (com café e padaria) e reabre às 18 e fica até as 22h. Nesse horário noturno, ela  serve pizza e porções, além de faz 'delivere'. “E bomba, né!”, exclama.

Josane prevê um aumento na demanda de todos os seus serviços e pretende continuar buscando qualificação para enfrentar os desafios.  A igreja, que fica logo em frente ao seu ponto, virou paróquia. Pontões é o maior distrito de Afonso Cláudio e está com uma escola nova, toda reformada e modernizada, que atende mais de 300 alunos.

Com altitude média na Sede do Distrito de  750 metros e com a de 1.100 metros em alguns pontos, um dos requisitos para produzir arábica de qualidade, Pontões é muito bem servido por estradas. O trecho de acesso que liga a ES-165 (que vai para Santa Maria de Jetibá) até a vila foi todo asfaltado pelo programa do Estado, o Caminhos do Campo. E já foi licitada a aplicação de piçarra para estrada que liga a vila a rodovia ES 164, na altura da comunidade de São Luiz. Este é o caminho mais curto que liga Vila Pontões à Sede de Afonso Cláudio.

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