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Jovens atuam mais na ponta da cadeia

Jovens atuam mais na ponta da cadeia

Mercado de microlotes exige conhecimento do produtor e também depende da relação de confiança

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João Paulo Marcate, Luiz Henrique Bozzi Pimenta de Souza,
Dério Brioschi Júnior e Phelipe Bruneli Brioschi.

A modernidade trouxe para o produtor informações ao alcance de um click no celular. Também deu a ele o poder de divulgar nas redes sociais o seu trabalho, o seu ambiente de produção e o café conquistado. Mesmo diante dessa vitrine, o mercado de microlotes é     feito de relação de confiança.

Esse é o ponto de vista de Dério     Brioschi Júnior, que junto com Luiz Henrique Bozzi Pimenta de Souza, João Paulo Marcate e Phelipe Bruneli Brioschi, toca uma empresa de consultoria. Os três primeiros são ex-bolsistas do Lapc e graduados em ciência e tecnologia de alimentos no Ifes, sendo todos de famílias de cafeicultores.

Pimenta sabe que o projeto é ousado, pois exige mão de obra qualificada que, mesmo com a atuação do Ifes, tem sido absorvida pelas grandes empresas. “Existe lugar no mercado para provadores, consultores e outros profissionais que entendem de café”, diz o rapaz que deixou de ser titular da Secretaria Municipal de Agricultura de Venda Nova para se dedicar com exclusividade à empresa.

E a empresa vai bem. Dério avalia que mesmo com esses canais de informação mais acessíveis, que possibilitam a conexão direta entre produtor e mercado- antigamente só feita através de intermediários, geralmente grandes empresas que monopolizavam esses canais de distribuição-, o papel do novo intermediário tem seu lugar. “Interme-diamos e ao mesmo tempo a empresa está equipada para fazer o controle de qualidade dos lotes e acompanhamento técnico e reconhecer em qual mercado se encaixa o café de determinado perfil”.

Pimenta observa que o produtor quer saber mais sobre essa relação do mercado e entregar um café o mais interessante possível. “Ele quer entender sua matéria-prima, o que pode ser melhorado para atender melhor o comprador. Ele também quer saber quem está comprando seu café”.

A vivência dos três ex-bolsistas, que agregaram o irmão de Dério na sociedade, trouxe conhecimento técnico e maturidade para eles abrirem a empresa de consultoria. Eles atendiam os produtores e convivem com o desafio de mesclar os conhecimentos teóricos à pratica nas propriedades das famílias. “O mais importante foram as famílias perceberem que seus filhos podem continuar na propriedade e ter qualidade de vida. A maioria dos pais queria outros destinos para os filhos”, ressalta Pimenta.

Pimenta também destaca que o Ifes abriu essa janela para a vida deles e de outros colegas filhos de produtores, que passaram a ver suas propriedades como empresas rurais. “Com programas de qualidade, conseguimos olhar o mercado de outra maneira, fazendo redes de contato. Somos produtores também”.

Para Dério, alguns produtores não entenderam que o mercado está mudando e ainda continuam presos na forma antiga de fazer comércio.  Ele, cujo café da família ficou entre os 100 melhores brasileiros no Cup of Excellence 2020, comemora que o café de Luiz Ricardo Pimenta, irmão de seu sócio, esteja entre os 35.

“Isso significa o quanto a empresa está assertiva, pois presta serviço para estas propriedades. É gratificante ver o produtor poder montar a liga do lote que vai concorrer nos concursos. Isso traduz todo o esforço do trabalho para montar o melhor café para representar a sua propriedade”.

Dério explica que para alcançar o volume exigido para os concursos é necessário reunir vários microlotes. “Esses cafés especiais são produzidos em volumes muito pequenos e por isso é preciso reunir vários, retirar os defeitos e fazer a melhor combinação possível”.

Quanto ao café que está entre os 35 melhores, foi aplicada a fermentação  de 36 horas, só com água, respeitando a integridade do grão. A fermentação com água foi um dos primeiros processos pós-colheita desenvolvido para melhoria da qualidade estudada pelo Ifes Campus de Venda Nova. “Todas essas experiências se transformam em artigos científicos e também são repassadas nas palestras ministradas pelo professor Lucas, tornado as informações disponíveis para todo o mundo.

Ao agregar o conhecimento acadêmico com a prática e, principalmente, mostrar parte desse resultado com a classificação dos cafés cuja assessoria e montagem dos lotes levam a assinatura dos jovens, eles estão mostrando na prática essa nova forma de lidar com a cafeicultura.

A relação com os produtores começa quando eles levam amostras de seu café (com todo processo de pós-colheita concluído, mas ainda precisando de rebeneficiar) e param para bater um papo e tomar um café, é claro. Geralmente são de 10 a 20 amostras, que serão avaliadas e os defeitos retirados, fazendo-se de um a três lotes para pontuar. Com a assessoria, o produtor passa a saber quais são os de melhor aplicação no mercado e ele sempre sabe para onde seu café está indo, conforme garante os jovens que atuam para um mercado justo.

 

*Cup of Excellence é o principal concurso de qualidade para café do mundo. A BSCA realiza este concurso desde o ano 2000, e hoje conta com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da "Alliance for Coffee Excellence" (ACE). Este concurso está aberto a todo produtor brasileiro de café arábica, sendo uma das ações do Plano Internacional de Marketing para a Promoção dos Cafés Especiais Brasileiros proposto pela associação.

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