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Grãos catados a mão e produtos artesanais conquistam mercado

Grãos catados a mão e produtos artesanais conquistam mercado

Alemão Lorenção não imaginava que a entrega de brócolis orgânico para uma rede de supermercados se transformasse em uma grande oportunidade

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Nilza Fioresi e Alemão, companheirismo na vida familiar e nos
negócios que prosperam desde a época do namoro.

A empresa de José Máximo Lorenção, o Alemão, empacota grãos e farináceos para abastecer várias redes de supermercados na Grande Vitória. O carro chefe da empresa sediada na comunidade da Tapera, em Venda Nova, é o feijão vermelho, mas a oferta é ampla: três tipos de farinha de mandioca, fubá, canjiquinha, seis tipos de feijão, grão de bico, milho de pipoca, açúcar mascavo e amendoim, nas versões torrão e in natura.

Apesar de não trabalhar direto na terra, como fez as três gerações anteriores a ele no Brasil, o descendente de imigrantes italianos fortalece, com o seu trabalho, as oportunidades das famílias rurais. Em resumo, ele liga o produtor de pequena escala ao grande consumidor, ao comprar pequenos lotes de grãos, beneficiá-los e depois levar para os principais pontos de venda da Grande Vitória.

Parece um roteiro simples, mas não é. Alemão mantém uma grande estrutura (apelidada carinhosamente por 'Complexo do Alemão') e emprega muitas pessoas, que cumprem funções para que toda engrenagem funcione e alcance o seu objetivo.  Numa estrutura de 900 metros quadrados, dividida em área de carga, depósito, área de beneficiamento (máquinas), área de produção (limpeza manual), área de empacotamento), depósito dos produtos empacotados e área de descarga.

Para fazer chegar aos pontos de venda, a empresa conta com quatro veículos (um caminhão baú e três picapes). Esses veículos são guiados por profissionais da casa que cumprem a rotina de duas viagens semanais (terça e sexta-feira), podendo fazer mais, de acordo com a demanda.

Tudo isso começou em 1991 numa garagem do fusca de Alemão, que ficava anexa ao paiol da casa dos pais Cacilda Caliman e Máximo Lorenção. “Durante o dia eu trabalhava lá e a noite, guardava meu Fusca”, relembra. Neste ano, ele já havia conquistado uma rota na Grande Vitória, fruto de um trabalho feito nos anos anteriores, quando entregava cestas com nove a 12 produtos orgânicos da horta.

A inspiração veio da temporada que passou na Itália. Ele conquistara esta oportunidade como aluno do Mepes e contou com o apoio da sua então namorada, Nilza Fioresi, para comandar seus negócios enquanto estava fora do país.

Quando voltou investiu suas energias para fazer o mercado na Grande Vitória, antes só trabalhado com as cestas de orgânicos em residências e em alguns restaurantes. Ele passou a atender kilões e supermercados e, mais tarde, à Rede Carrefour.

E foi esta grande rede da época que pediu a Alemão para fornecer feijão vermelho catado a mão. “Eu já era cadastrado, na época como produtor, e poderia começar a fazer as entregas assim que conseguisse fornecer o produto. Geralmente, um fornecedor levava três anos para conseguir ser admitido no cadastro”, explica.

Artesanal - Um dos diferenciais dos produtos do Alemão é o trabalho
manual de catação dos grãos.

Os produtos artesanais catados a mão com a marca do Alemão logo fizeram sucesso e outras redes - onde ele fornecia brócolis- também os quiseram em suas prateleiras.  E assim começou o processo de expansão, que não parou mais. Com a qualidade reconhecida, outros produtos foram agregados, sempre com o mesmo nível de excelência.

Em 2006, Alemão mudou sua categoria de produtor rural para empresa distribuidora. No entanto, as raízes rurais são mantidas na essência do negócio, que valoriza a mão-de-obra das famílias rurais, assim como a produção de qualidade em pequena escala.

Para suportar o crescimento, Alemão extrapolou os limites da garagem, expandindo seu trabalho para a tulha ao lado. Nesta época ele beneficiava e embalava nove produtos, incluindo os feijões, o fubá e as farinhas.

Em 2015, quando o pai dele definiu qual parte da propriedade ficaria com ele, Alemão colocou em prática o projeto do seu sonho: um galpão, com todas as repartições necessárias para o desenvolvimento do seu trabalho. “Tava tudo na minha cabeça. Numa sexta-feira meu pai fez uma reunião familiar para comunicar a divisão e na terça-feira eu já estava com os pedreiros começando a erguer o galpão. Eu mesmo idealizei o projeto, com todas as divisões, pois sabia exatamente do que precisava.”

Para que tudo funcione a contento, a distribuidora funciona com quatro promotores de venda para atuar na Grande Vitória e em Guarapari. A empresa conta com um motorista, um auxiliar de administração, um gerente e mais seis funcionários na produção. Fora do galpão, oito famílias cumprem a função de catadores e um comprador visita os cerca de 60 produtores fornecedores.

“Conheço todas as famílias que catam os nossos produtos. Algumas são de funcionários que fazem parte de nosso quadro fixo e outras de produtores, que fazem uma renda extra com este serviço.” Alemão disse que este trabalho artesanal é a grande marca de seus produtos. “Controlamos a qualidade ao selecionar as produções de pequena escala, junto a produtores comprometidos, e também ao supervisionar de perto todo trabalho de catação, que é manual. Embora o trabalho demore mais tempo para ser executado, preferimos que seja feito desta forma pois agrega valor ao produto ao mesmo tempo que valorizamos os trabalho das pessoas”, completa.

Em frente ao galpão, a empresa construiu e mantém uma fonte com água pura. A água,
que vem de uma nascente da propriedade da família fica disponível gratuitamente para
os caminhantes, ciclistas, famílias e transeuntes em geral.

Apesar de sua empresa ter crescido tanto, Alemão faz questão dessa relação mais afetiva com os alimentos e compõe esta filosofia ao continuar trabalhando perto de sua casa. Da janela do escritório ele pode ver sua casa, de onde em vários momentos da semana e do dia sua esposa sai para ajuda-lo. Nilza sempre está ao lado de Alemão. Ela largou seu emprego e foi trabalhar ao lado dele, fazendo toda parte burocrática. Em 25 de março de 2011 ela precisou se ausentar para uma longa recuperação de um acidente e, quando voltou, a expansão da empresa já exigia mais um profissional e o volume de trabalho não permitia que fosse feito mais num escritório improvisado em casa.

Numa sintonia fina com a esposa e também com sua equipe, Alemão faz questão de registrar sua gratidão aos pais Cacilda Caliman e Máximo Lorenção. “Tenho que agradecer a eles, pelo incentivo, e por me conceder este terreno, onde eu ergui a estrutura que me permitiu crescer e onde ainda crescerei ainda mais”. Disse Alemão revelando que ele e a esposa têm novos projetos.

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