De camisa branca e toalha em volta do pescoço
Eraldo Zandonade começou como copeiro, passou pelo bar e foi parar na cozinha, onde atua sua esposa Maria Amábile
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Eraldo Zandonade, 76 anos, não tinha noção do que era a Festa da Polenta quando foi convidado para trabalhar nela. O convite partiu do então voluntário Anselmo Zandonade, que lhe perguntou: “Você gostaria de trabalhar de copeiro?” E a resposta de Eraldo foi com outra pergunta: “Mas o que é que eu tenho que fazer?”. “Catar garrafas, ajuntar os pratos de louça e os talheres usados e levar na cozinha para serem lavados e reutilizados”.
As recordações de Eraldo trazem de volta uma época inicial do evento, que começou com uma prévia no pátio da igreja. “Topei e gostei da brincadeira”, diz o ainda voluntário. Ele disse que fazia parte das exigências para atuar como um copeiro da Festa da Polenta usar camisa branca e colocar uma toalha em volta do pescoço. “Na época a Festa era dentro do salão (paroquial) da igreja. Acredito que foi lá pelos menos umas três vezes”.
Quando o evento passou para o pátio do Colégio Salesiano, essas 'formalidades' no vestuário desapareceram e ele se integrou à equipe do bar. Um detalhe da decoração que lhe chamou atenção uma vez, foram os desenhos feitos por Albertina Zandonade. Ele conta que ela colocou uma cartolina na parede e com a luz de uma lamparina fez sombra, que projetava os contornos da pessoa. E assim, fez desenhos de várias pessoas da comunidade e os usou para decorar a Festa. Dentre elas, fez uma 'fotografia' de sua irmã Rosa Spadetto Zandonade. Foi revolucionário para a época.
Eraldo ficou seis anos trabalhando no balcão entregando bebida. Depois ele foi para a cozinha e não saiu mais de lá, mas manteve um pé no bar. “Fui convidado em uma reunião pela Regina Falqueto e passei a trabalhar na cozinha nas quintas, sextas e sábados e no domingo, no bar. Também ia na segunda participar da limpeza, lavando e guardando os vasilhames e equipamentos.
Ainda atuando como voluntário, ele trabalha nas quintas e nas segundas, dia de limpeza e de serviço mais pesado devido ao cansaço e à grande sujeira naturalmente gerada. Para se ter ideia, são 15 fritadeiras dentre os utensílios que mais dão trabalho para limpar. Ele, que trabalhou ao lado do irmão Cleto Zandonade (agora morando em Minas Gerais), integrou o irmão Eleotério (graças ao empenho da filha Beatriz, que convenceu o tio a trabalhar na Festa) e conta com o 'vovô Ercilho' na equipe.
Para vencer a sujeira nas vasilhas que têm muito óleo, primeiro ele bate água com bomba de pressão. Depois o 'Vô' e o seu irmão passam uma bucha de sabão até dissolver toda gordura. Eraldo volta a bater água com uma bomba de pressão. “Eu só fico no bico da bomba. Faço isso há 20 anos”.
Já sua esposa Maria Amábile Destefane, 71 anos, se dedica à cozinha, preferencialmente no preparo das coxas de frango. “Assim que termino esse serviço, vou para a equipe do molho de tomate”, diz a voluntária que trabalha de quinta a domingo. “Quando chego em casa já estou tão cansada que nem retorno para acompanhar a programação da Festa”.
Maria Amábile fala do cansaço, mas não em tom de reclamação. “Vale a pena trabalhar. Quando eu vejo as sobras beneficiarem o Hospital com de R$ 350 mil e também ajudando outras entidades eu fico muito feliz”, diz a voluntária que passou a se dedicar somente quando os filhos se tornaram independentes. “Fui trabalhar quando a Festa já estava no Centro de Eventos há uns cinco anos”.
Muitas mulheres fortes estão nos pilares da Festa a Polenta e Maria Amábile cita Tereza Mognol, que a convidou para se integrar ao movimento. Também têm as saudosas Rosa Spadetto e Julieta (mãe e irmã de Eraldo), a segunda uma verdadeira cozinheira ao lado de Angelina Brioschi, Odila Falqueto, Luduina Zandonade, dentre tantas outras pioneiras.
Eraldo lembra de nomes como Alcino Falqueto, ótimo na cozinha, e Vicente Perim, que ia nas casas buscar utensílios emprestados. “Ele foi um homem muito trabalhador”, diz sobre o homem que pegava as panelas e algumas vezes fez confusão na hora de devolver. “Minha irmã tem até hoje em casa um tacho que não é dela, entregue no lugar do que ela emprestou para a Festa”.
As boas recordações também estão no frango frito e servido na hora, sem ser armazenado antes. “Acho que hoje as coisas estão mais fáceis, embora o volume seja maior. Tudo continua muito bom, mas diferente um pouco”. E isso é natural, não é senhores Eraldo e Maria Amábile?