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Centenário da Escola Domingos Perim - A Escola da minha vida

Centenário da Escola Domingos Perim - A Escola da minha vida

Dayse fala com carinho da escola que escolheu para lecionar e traz lembranças boas das experiências vividas

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Muito além da cartilha- a professora Dayse assinava e levava revistas de história em quadrinhos e usava o
Jornal Folha da Terra como material didático. Ela agia para aproximar o material didático da realidade dos alunos.

 

Destes 100 anos da Escola Domingos Perim, a professora Dayse Lúcyde  Neves fez parte de 32. Ela lecionou de 1984 até 2016, começando atuar na turma de segunda série, passando por todas as outras. Participou de vários projetos dos governos Estadual e Federal, incluindo o “Acelera Brasil”, do Instituto Ayrton Senna. No ano que trabalhou com o projeto Acelera Brasil, da Fundação Ayrton Senna, sua turma foi destaque numa gincana entre as escolas da rede estadual que haviam no munícipio.

“Eu gostava de me envolver com as novidades e a diretora Maria Perpétua sempre me desafiava”, diz Dayse que teve entre seus desafios o bloco único, o ALE (Aperfeiçoamento da Leitura e da Escrita), entre outros.

 Dayse fala de uma época de escassez de fontes de informações. “No começo a gente criava o material de trabalho (jogos, fichas de leitura, etc..), sempre fui uma professora que procurava trabalhar fora do tradicional, pois sempre acreditei que a aprendizagem deve ser significativa e o aluno ter vínculo com a gente”, disse a professora que não gostava de usar a cartilha, por achar que a mesma limitava a aprendizagem dos alunos.

E ela explica o porquê: “Na letra 'H', por exemplo, vinha a palavra 'Harpa' para exemplificar. E os alunos perguntavam o que era isto. Eu explicava, mas sugeria a palavra 'Horta', que estava dentro da experiência de vida deles. Os alunos desenhavam uma horta, colavam a ilustração na cartilha no lugar da harpa e se identificavam com o mate-rial”.

“Os alunos não tinham acesso a outro material então eu fazia assinatura de revistas de história em quadrinhos e de jornais, incluindo o Folha da Terra, de Venda Nova. Teve um ano que eu alfabetizei os alunos com os exemplares do Folha da Terra, doados gentilmente pela Lilia Gonçalves, jornalista e diretora do Jornal. Os alunos se identificavam e adoravam ver as pessoas que conheciam nas publicações. O jornal era mais usado que o próprio livro didático”, descreve.

Para Dayse, trazer a realidade local (município, região e Estado) para dentro da sala de aula foi um ótimo método de interação dela com os alunos e deles com a realidade a sua volta. “O Brasil é muito grande, com muitas realidades distintas”, disse numa avaliação do material que era igual para todo território nacional.

 

Conhecer o mar

Na era da informática, os trabalhos junto aos alunos ganharam uma nova forma, pois tinham como atrativos concorrentes de peso nas redes sociais. Os alunos da quarta série faziam uma viagem no final do ano para conhecer, pontos turísticos do Espírito Santo.  Levei o data show e mostrei para eles imagens do que iriam ver na viagem a Vitória. Quando lá chegamos, ao passar diante dos prédios e pontos turísticos, eles ficavam eufóricos, numa enorme empolgação, pois faziam a conexão entre o que aprenderam em sala de aula com o que estavam vendo ao vivo”.

Numa dessas viagens, a professora Dayse, levou uma turma com 23 alunos. “A maioria deles não tinha visto o mar antes. Fiz uma campanha com a família e com os amigos para conseguir roupa de banho para todos eles. Fomos eu, Ritinha e Perpétua. O combinado era só entrar até onde batia água na canela e acompanhados por uma de nós professoras. Nos dávamos as mãos e entrávamos e saíamos do mar da mesma forma. Cada uma de nós (professoras) ficava de mãos dadas com três alunos de cada lado para cada entrada na água. Todo mundo ficava olhando pra gente”, recorda-se Dayse.

Dayse fala com carinho da escola que escolheu para lecionar. Ela gosta de lembrar da solidariedade dos pais e da comunidade, que sempre fizeram doações para enriquecer a merenda escolar. Frutas, verduras e até alimentos remanescentes de festas familiares (como casamentos, por exemplo) faziam com que a merenda ganhasse um frescor, um gostinho caseiro e regionalizado do alimento.

Os pais também eram presentes na hora de arrumar as barracas e atrativos para as festas da escola. “Eles colaboravam com muita dedicação e boa vontade. Cada professor ficava responsável por coordenar uma das barracas. Durante muitos anos eu fiz o cuscuz, da festa junina”.

Dayse fala de um tempo em que as Festas eram no espaço da Escola, para onde retornou depois de alguns anos no Centro de Eventos e quando a escola ganhou o ginásio de esportes. Logo que começou a trabalhar na escola (1984), um dos atrativos da festa, era o bazar, onde se vendia roupas usadas e em bom estado.

“Sempre me lembro muito da professora Izabel Feitoza, que ser humano maravilhoso! E também de Angélica Pagotto, Zélia Maria Falqueto, Claudete Paste, Glorinha Santolim e muitas outras. Era um time de professores que mostrava competência por inteiro, que tinha vontade de ajudar o aluno a aprender e se sobressair. Era muito bom ver o aluno sair da Escola, ir para o Fioravante Caliman e de lá direto para alguma faculdade. Quanto orgulho”, diz a professora que já deu aula para o atual prefeito Paulinho Minete e para o ex-vereador e (engenheiro florestal) Tiago Altoé.

 

Como ela veio parar em Venda Nova

Com 20 anos de idade, a carioca Dayse se casou com Adalberto Neves e mudou-se para Venda Nova. Ele, da mesma cidade que ela, já conhecia Venda Nova desde a adolescência e veio para cá atraído pelas oportunidades de trabalho e em busca de qualidade de vida.

Dayse ficou um tempo sem trabalhar e teve sua primeira oportunidade de atuar localmente como professora na comunidade do Indaiá, convidada pela diretora  Aldy Soares. Através dela, que elogiou a atuação de Dayse com Vera Paraíso, então diretora da Escola Domingos Perim, que a convidou para integrar a sua equipe.

 

Alunos dedicados e famílias amorosas

Muitas experiências estão marcadas para sempre na memória de Dayse. “Convivi num ambiente de solidariedade. Uma das histórias que marcou foi a do aluno Anderson, de uma família muito humilde. Ele tinha muita vontade de aprender e eu fiquei com ele muitas vezes depois do horário de aula para ajudá-lo. Quando ele aprendeu a ler e escrever ele fez um bilhete e um desenho, onde estava escrito: 'Eu amo a professora Dayse. Ela gosta de pizza'.  Até hoje, onde ele me vê, ele fala: 'Olha a professora que me ensinou a ler'”.

De forma geral, todas se entregavam, eram amorosas, faziam questão de manter o contato com as famílias... A escola era pequena, com quatro turmas pela amanhã e quatro pela tarde. Então todos se conheciam. Tudo era muito simples: a gente avisava a diretora que precisávamos conversar com determinados pais e a gente mesmo conversava, estabelecendo parcerias que duravam anos”.

O carinho era tanto que as segundas-feiras eram os dias que as professoras ganhavam as gostosuras que as famílias preparavam nos finais de semana. “Os alunos e as famílias sempre queriam nos agradar. Muitas se preocupavam com a gente. Lembro-me quando tinha o Diego bebê e o Vinícius, com quatro anos, e fiquei sem ajudante em casa. Algumas mães de alunos vieram ao meu socorro e ficaram com eles para eu poder dar aula.

A convivência com todas as professoras, durante todos esses anos, para Dayse foi um grande aprendizado. ‘’Tive a oportunidade de conhecer e conviver com excelentes profissionais, de professores até as serventes, merendeiras, fiz grandes amizades que trago até hoje com muito carinho. A pedagoga Helena, de Piaçu, foi uma grande amiga. Fiquei muito feliz e honrada, por ter sido convidada pela Débora, então diretora da Escola, para fazer parte do documentário dos 100 anos. A Escola Domingos Perim, ficará para sempre no meu coração”.

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