Café vai ter história da família na embalagem
Jovem busca conhecimento e envolve toda família numa nova forma de produzir cafés na propriedade em Bela Aurora
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Entusiasmo- Luiz Felipe Andreão Zandonade e a mãe Marli exibem os grãos de qualidade,
em uma das etapas do trabalho da família.
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Em processo de escolha das embalagens para comercialização de seus cafés especiais, Luiz Felipe Andreão Zandonade expõe na mesa os modelos (em papel kraft, branco, preto e dourado) enquanto uma porção de grãos torrados por sua mãe, Marli Andreão Zandonade, exala um aroma agradável. É apenas uma demonstração do potencial dos grãos colhidos na propriedade da família, em Bela Aurora, Venda Nova.
Um café na garrafa, muito saboroso (embora ela diga que a bebida não fora feita com os grãos dos lotes especiais), faz parte do acolhimento da família entusiasmada com a nova perspectiva trazida pelas inovações no cultivo e, principalmente, no pós-colheita.
Com 23 anos, Felipe, movido pela sua curiosidade, trouxe para o lar essa inovação. “Pesquisei na Internet e percebi que a nossa propriedade tinha características para produção de cafés especiais e fui buscar informações no Incaper, que me indicou os cursos no Ifes. Conversei com Aldemar Polonini e ele fez um projeto para eu montar na propriedade, que contempla uma unidade com lavador, descascador, sistema de limpeza de água do processamento (SLAP) para permitir o reuso da água e, um terreiro suspenso coberto, para os cuidados no pós-colheita”.
Em mais ou menos dois meses Felipe e o pai Luiz Carlos Zandonade construíram quase toda a estrutura indicada por Polonini. “Colhemos o mesmo café que a gente cultivava na propriedade e que antes não tínhamos os cuidados no pós-colheita”, disse sobre a safra de 2016. O tratamento especial dispensado aos grãos rendeu uma pontuação de 80 a 81. “A gente ainda não tinha o ter-reiro suspenso, mas o terreiro de chão de cimento foi bem higienizado”.
Para a safra de 2018 toda a família concluiu a estrutura construindo o terreiro suspenso e os cuidados no pós-colheita renderam grãos com notas que variaram entre 84 e 85. E, embora a produção não tenha sido suficiente para fazer um volume para comercializar bem, as cinco sacas de especiais foram vendidas num valor “um pouquinho melhor”, como diz Felipe.
Nesta escalada em busca de pontuação, a família resolveu experimentar novas variedades e o resultado começou a aparecer claramente na colheita de 2020. “Conseguimos colher grãos com pontuação que variam de 84 a 87 nos dez lotes”, comemora Felipe.
Armazenados numa estrutura de uma escola antiga e desativada na propriedade, os lotes apresentam notas de caramelo, rapadura, floral, pêssego, mel e doce de leite. São nuanças percebidas pelos consumidores mais exigentes e que dão sustentação a esse mercado que remunera melhor esses microlotes.
O mesmo capricho dado ao pós-colheita dos cafés potencialmente especiais, a família dispensa aos comuns (ou commodities). “Só de não ir para o chão batido, o café comum já fica bom”, observa a matriarca ao admitir que depois de conhecer os especiais não consegue mais consumir o tradicional.
Grande incentivadora do filho, Marli confessou que fez a torra dos grãos para o teste da embalagem (aquele cheiroso na mesa) na pipoqueira. “Não tem a curva de torra, mas era só para ver como ficava na embalagem”, disse ao justificar seu improviso.
O gostoso bate papo foi uma demonstração e uma prévia do acolhimento que o comprador irá encontrar caso a família abra a propriedade para visitação. Com uma localização excelente (fica na estrada principal- entrada do Res-taurante Bela Aurora- numa rota que liga ao Coletivo Café), a propriedade é bonita e está reformando um lindo casarão antigo.
Felipe faz parte dessa nova geração rural que está buscando formação para se manter no campo. Ele vai morar no casarão em processo de reforma depois que se casar e pretende manter a tradição familiar que começou com o avô na cafeicultura, potencializando os resultados de seus investimentos na lavoura.
“Os cursos que fiz no Ifes foram fundamentais para essa transformação de cafés comuns para especiais”, admite o jovem que sabe que escutar os mais experientes é o melhor caminho. “O que mais me marcou foi uma fala do produtor Carlinhos Altoé, no Ifes, sobre sua experiência. O jeito de pós-colheita que ele adotou e o modo como ele trabalha é muito interessante. Ele passou o café duas vezes no descascador. Na primeira vez, mais folgado, só descascando o cereja mesmo, os mais madurinhos, que resulta no café de excelência. O segundo resulta num café especial também, com uma pontuação mais baixa”, relata.
Em 2019 Felipe fez dois cursos no Ifes, sendo um de degustação e outro completo, que tratou do plantio até a comercialização. Ele também fez cursos de gestão no Senar, o que tem sido importante para ampliar sua visão sobre o negócio. “Não pretendo parar, sempre estou buscando oportunidades de aprendizado”, diz o rapaz que se desdobra para cuidar da propriedade e fazer os cursos.
O café Zandonade já tem clientes interessados e as possibilidades comerciais são boas. Em grãos ou em pó, logo estarão no mercado devidamente embalados e com a história da família no verso.