Ainda causa surpresa a presença de Bárbara Aparecida Moreira Ribeiro nas obras pela região das Montanhas do Espírito Santo. Algumas pessoas não estão acostumadas a ver uma mulher atuar no setor e ela está entre as poucas que passaram a encarar a pintura residencial como uma profissão.

Com um histórico bem-sucedido em produção de trabalhos artesanais e como instrutora de autoescola em Venda Nova, Bárbara teve a ideia de mudar de ramo quando o seu marido, Dionesson Gomes de Souza, comentou que não pegava mais obras devido às dificuldades de contratar mão de obra.

Casados há cinco anos, eles veem multiplicar o fruto da união na vida e no trabalho. Com um filho de três anos, eles conseguiram construir a tão sonhada casa própria com os rendimentos dos trabalhos de pintura. “Trabalhamos em obras em Pedra Azul e região, em Venda Nova e moramos em Conceição do Castelo”, relata Bárbara.

Ela conta que o esposo, que é natural de Minas Gerais, tinha experiência com pintura residencial, mas chegou em Venda Nova trabalhando em uma empresa de outro setor. “Quando ele me conheceu e decidiu ficar, percebeu que precisaria mudar de ramo. De início trabalhou de carteira como CLT para uma construtora, mas logo veio a oportunidade de atuar na área de pintura agregando mais conhecimento e foi aí que decidiu prosseguir sozinho como autônomo". Dionesson conseguiu um ajudante mas sempre precisava recusar trabalhos devido à falta de mão de obra disponível.

Bárbara relata que começou a pensar na possibilidade de deixar o emprego seguro e de carteira assinada para investir junto com o esposo. Foi aí que decidiram abrir a empresa de prestação de serviços, usando a experiência de Dionesson para se lançarem no ramo de pintura residencial. “De início ele se espantou com minhas ideias, conversamos muito e mostrei a ele a possibilidade de crescimento e de uma nova visão dos negócios. Apesar de algumas inseguranças ele apoiou minha decisão, me deu várias dicas sempre ficou ao meu lado na execução do serviço, começando a observar a minha facilidade em executar o trabalho”.

A pintura nas paredes da secretaria da paróquia da Igreja Matriz de Venda Nova foi a primeira empreitada da qual ela fez parte. Mesmo com a altura padrão das paredes, o serviço demanda o uso de escadas para as pinturas nas partes mais altas e Bárbara conta que não se atrapalhou e nem deu pinta de iniciante. “Fiz os recortes entre as paredes e o teto direitinho”.

Bárbara relata que teve facilidade e se vê na vantagem em relação aos homens, pois enxerga mais detalhes. “Essa visão feminina é vantajosa pois conseguimos entregar um trabalho com mais perfeccionismo”.

Ela explica que do preparo da parede até a pintura final,  muitos cuidados são necessários. “Do início até o retoque final, cada etapa é importante e precisa ser feita com dedicação e atenção”.

 A rotina de trabalho e a responsabilidade em levar o filho para a escola a fazem sair de casa em torno das 6 horas e só retornar às 18. “Moramos no Pinga Fogo, onde terminamos de erguer nossa casa há sete meses. Saio todo dia cedo e deixo meu pequeno na escola”, diz e completa orgulhosa que sua filha de 18 anos vai começar a fazer engenharia da computação na Faesa, em Vitória, este ano.

Bárbara fala com orgulho de sua trajetória e também faz questão de deixar claro que sonha com muito mais para a vida dela e de sua família. “Eu me sinto muito a vontade de atuar em obras, um ambiente que geralmente as poucas mulheres que circulam são arquitetas e, em menor quantidade, engenheiras. Sei que têm mais duas ou três mulheres em Venda Nova que trabalham com pintura de parede, mas nunca dividimos um serviço”.

Para enfrentar o dia, Bárbara usa roupas confortáveis, como calças e blusas de malha, e calçados fechados. “A roupa tem que nos deixar seguras, mas não podem atrapalhar nossos movimentos. Os calçados devem ser fechados, mas não precisam de solados especiais, pois nessa fase da obra são raros pregos ou outros elementos cortantes espalhados pelo chão”.

Nas últimas obras que vem trabalhando, Bárbara percebe o uso de cores mais neutras, como branco neve, gelo, branco gelo, papel picado, crômio, entre outras inúmeras cores. “Como as cores vêm determinadas pelos arquitetos ou pelos donos, só executamos o que nos pedem. Mas fazer uma parede diferente, seja pela cor ou pela textura, é uma coisa que me alegra. Adoro chegar ao final e ficar admirando a beleza do meu trabalho. Fico imaginando que nosso cliente vai ficar feliz e satisfeito. Outro trabalho que amo fazer é a restauração das pinturas em madeira, é gratificante demais pegar a madeira com a pintura desgastada com o tempo, fazer todo o processo de lixamento, removendo toda a pintura antiga, e voltar a vida natural da madeira. Todos os trabalhos que meu esposo pega de madeiramento gosto de acompanhar e executar o serviço do início até o final".

A contratação dos serviços de Bárbara e da equipe do esposo é por metro quadrado. No entanto, algumas variáveis podem alterar esse valor, como pé direito muito alto, ocasião que é necessário o uso de andaime ou balancinho. A empresa da família atende comércios, casas simples e de alto padrão, e para dar conta da demanda conta com pelo menos mais cinco parceiros. “Há dias que estamos em sete ou oito espalhados em diferentes obras”.

Muitas demandas vêm com a indicação de lojas como a Bravim Tintas, de Pedra Azul, cuja proprietária, Daniele Bravim, tem se revelado uma grande parceira. Outro parceiro é Renan Possebom, que tem uma loja em Lavrinhas, que consegue bons preços nos produtos e também indica a equipe do casal aos clientes. “São pessoas de credibilidade e isso nos fortalece no mercado”.

Evolução

Com experiência há mais de dez anos no setor, contando antes de abrir a empresa em Venda Nova, Dionesson sempre está de olho em novas práticas, técnicas e equipamentos. O casal atua em busca da perfeição.

Quando chegou em Venda Nova trabalhando para uma empresa terceirizada no corte de madeira, ele tinha em seu currículo a atuação em vários estados no setor de pintura residencial. Quando conheceu Bárbara e resolveu se fixar na cidade, ele sabia que abraçara um novo processo de crescimento.

Ambos concordam em dizer que juntos se tornaram mais fortes e viram a vida prosperar. “Eu me sinto realizada na vida pessoal, profissionalmente e financeiramente”, disse e emendou afirmando que passaram por dificuldades, mas todas superadas. “Fomos superando e construindo um novo caminho para nós e para os nossos filhos. Temos uma vida de prosperidade e acredito que vamos proporcionar melhores oportunidades para nós e para nossos filhos. Estou sempre aberta à evolução e acredito que meu marido também”.

Bárbara diz que se sente muito realizada em “dar cor a vida de alguém”. “Eu sempre recebo o retorno dos meus clientes e eu fico muito satisfeita em ver o brilho nos olhos deles ao ver seus sonhos realizados. Entregar o lar pronto a alguém é algo muito abençoado. Sei que o dono da obra passou por muitos desafios e chegar e ver tudo pronto é um grande alivio para ele”.

Grata aos lugares por onde passou, Bárbara gosta de ressaltar o quanto foi importante trabalhar com artesanato, que era uma renda extra, e também como instrutora de autoescola. “Minha experiência em ajudar as pessoas a conseguirem dirigir de forma correta para conquistar a carteira de habilitação foi engrandecedora. Tínhamos que ter psicologia para ajuda-las a enfrentar os medos e inseguranças e a superar as dificuldades. Também foi um trabalho no qual eu lidava com os sonhos dos outros e eu aprendi muito. Trago tudo isso comigo como bagagem para continuar a abrir novos caminhos”.