Uma vendanovense faz sucesso na Rota do Lagarto
Mariusa Battestin conquistou os turistas com um café expresso, onde uma deliciosa torta de morango é um dos principais atrativos
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Todos os dias Mariusa Battestin levanta bem cedo, às 5h20, para dar conta de uma rotina puxada: preparar o café para o filho que sai cedo para estudar em Venda Nova e depois colocar em prática cada etapa da produção de tortas a serem vendidas em fatias para o público que frequenta o seu café. A vendanovense mora no coração da Rota do Lagarto, em Pedra Azul, e convive diariamente com uma paisagem exuberante, bem no fundo de seu quintal.
Limpar os morangos para fazer a geleia, esterilizar as embalagens, se dedicar à produção das quiches, pãezinhos de nata com goiabada, pasteis e outras receitas estão no cronograma de atividades semanais. As tortas de morango são montadas no dia da comercialização: sábados, domingos e feriados. E o ciclo de tarefas sempre se renova ao final do domingo, quando ela verifica quais ingredientes e produtos já acabaram para que nada falte no processo de produção durante a nova semana de trabalho.
A vida de Mariusa se divide em cuidar do café, de sua família e de si própria. Mesmo morando em Pedra Azul, ela tem sua rotina dividida com deslocamentos frequentes para Venda Nova, onde moram seus pais e irmãos e onde ela usufrui de serviços relacionados à saúde e educação. “Vou aos médicos e dentistas da cidade, meu filho frequenta a escola e eu mantenho muitas amizades, pois estudei, tive vários empregos e trabalhei durante 12 anos em uma autoelétrica em Venda Nova”, explica sobre sua relação com a cidade.
Mariusa não nasceu em Venda Nova, mas passou a morar na cidade ainda menina. Seus pais vieram de São Roque de Maravilha, Alfredo Chaves, em 1982. O pai comprou um lote e se instalou na cidade para trabalhar como colono na colheita de café de Arnaldo Falqueto e depois passou a trabalhar na Prefeitura. “Meu pai e minha mãe trabalharam na roça, com ajuda dos meus irmãos temporariamente, e eu fui para o comércio”.
Em 2002 Mariusa se casou com Ângelo Fábio Girardi (in memoria) e sua sogra montou um café expresso para ela trabalhar, aproveitando a estrutura de uma casinha de ração para fazer o Café Expresso. A localização favorecia a frequência dos turistas, que estavam descobrindo os encantos da Rota do Lagarto e gostavam de fazer uma parada para tomar um café. Com a gravidez em 2005, ela precisou se dedicar menos à atividade.
Mais tarde, com o filho crescido, Mariusa resolveu investir novamente no negócio, colocando em prática as receitas que aprendeu a fazer com a sogra, que foi pioneira com o Café Colonial Tre Fiori na Rota do Lagarto, em 1995. A via ainda não era calçada e os únicos empreendimentos existentes até então eram a Pousada Pedra Azul e o Restaurante Péterli. “Minha sogra se inspirou no Sul, depois de uma viagem. Ela e meu sogro trabalhavam com gado de leite e, com o crescimento do Café Colonial, resolveram vender as vacas e passaram a comprar o leite para produzir as receitas. Mais adiante eles construíram a pousada Tre Fiori”, recorda-se.
Ainda no período de namoro, Ma-riusa ajudava a sogra nos finais de semana. “Eu aprendi com eles o que eu sei hoje. Os negócios da família cresceram com as reportagens que saiam na televisão. O que começou com mesas de plásticos, toalhas bordadas ou feitas de crochê pela minha sogra, se tornou um grande atrativo e inspirou novos empreendimentos ao longo da Rota. Minha sogra era muito prendada, inteligente e puxava toda família para frente”.
2008 trouxe um desafio inesperado para a família: enfrentar a doença do marido, numa rotina de luta que durou anos. O Cansaço veio, pois eram 60 itens produzidos pela sogra Ana Júlia Girardi (in memoria), que resolveu remodelar o negócio e ficar somente com a pousada.
Mariusa também repensou sobre o Café Expresso, pois fecharia ou reformaria reabrindo as portas com um novo modelo. Em 2016 ela e o esposo sentiram a necessidade de ampliar e concretizaram parte desse projeto, reabrindo o café em janeiro de 2017, já ampliado e com a casa lotada. “O público aumentou também e eu já escutava que deveria ampliar novamente. Estou estudando novas remodelações, mas já sei que não desejo ampliar muito o espaço, pois quero trabalhar com qualidade e aproximação com a clientela”, diz prevendo inovações num futuro próximo.
O que a faz optar por manter um certo tamanho é justamente oferecer um produto totalmente caseiro, feito com matéria-prima de qualidade e com itens de região e preparado por ela. “Tenho clientes que passam feriados prolongados na região e vêm todos os dias no café. São pessoas que vão criando vínculo com a gente e é isso que queremos também”.
Ao falar da torta de morango como seu principal atrativo gastronômico, Mariusa relata que um dos diferenciais são o pão de ló, que dá estrutura à composição, e o doce de morango, uma receita feita especialmente para compor a torta. As frutas ficam inteiras e não correm o risco de azedar, pois não estão in natura. A montagem com o ‘créme patissiere’ confere uma beleza à sobremesa, que é montada só no dia ou, muitas vezes, na hora de servir o cliente.
“São em média 20 tortas de seis a nove sabores produzidas semanalmente, mas já saíram 45 num só final de semana mais movimentado”. Durante a semana ela também produz a torta de chocolate, uma receita que inventou feita com massa de pão de ló, cacau e mousse de cacau, doce de leite e finalizada com ganache de chocolate. Tem também a de abacaxi com côco, inspirada numa receita da Palmirinha, o pão de nata e as quiches de alho-poró e queijo.
E é por isso que Mariusa sempre está de prontidão, trabalhando de domingo a domingo, durante todo o ano. Para aguentar o batente, ela faz atividade física três vezes por semana na academia da vila de Pedra Azul, e tem sua vida social restrita ao convívio com os familiares que moram em Venda Nova. “Sou muito caseira”, pondera.
Em março, o Café Tre Fiori fez 20 anos de portas abertas. O empreendimento é muito bem frequentado e ainda guarda a simplicidade e o aconchego do início, quando ela só contava com uma funcionária e servia o leite com chocolate preparado na cozinha da sogra e mantido quente numa garrafa térmica. Hoje o café tem uma estrutura de cozinha completa, uma equipe de atendentes e várias mesas e cadeiras. No que depender do estímulo dos clientes e na coragem de Mariusa, vão ter muitas e boas novidades por aí!