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Rio Branco Futebol Clube: um amor que nasceu há 75 anos

Rio Branco Futebol Clube: um amor que nasceu há 75 anos

Com emoção na voz e brilho nos olhos- A história do clube de futebol contada pelos personagens que passaram por lá

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Primeiro time do Rio Branco: Tropeiro, Luis Baliana, Laurentino Lorenção, Abel Delarmelina, Emiliano Lorenção, Gerso Rocha, Antenor Lorenção, Vicente Perim,
Deolindo Perim, Arcanjo Lorenção, Cesário Altoé (goleiro) e, em pé, Olímpio Perim.

Somente quem conhece de perto a história dos moradores mais antigos da cidade consegue compreender essa paixão que move Venda Nova do Imigrante pelo Rio Branco Futebol Clube. Pode parecer clichê, mas não é. Fundado em 29 de junho de 1945, quando a vida social do lugar se restringia às rezas e aos jogos de domingo, o Clube prossegue encantando diferentes gerações.

Jovens, fortes e acostumados ao trabalho intenso na lavoura. Assim era o perfil dos jogadores nas primeiras décadas do time. Soma-se a essas características o temperamento aguerrido e a paixão sem interesse pelo futebol. E era essa disposição apaixonada que fazia dezenas de rapazes se dedicarem ao esporte nas tardes de domingo, único dia da semana disponível para o lazer, depois de cumpridas as obrigações religiosas.

Por serem a mão de obra disponível das famílias, eles se dedicavam ao esporte sob o protesto dos pais, que tinham medo de que um ferimento grave causado durante algum incidente em campo os tirassem do 'lavoro'. A maioria dos rapazes morava perto do campo, bem na região central da então Vila de Venda Nova. Outros, mais distantes, faziam o percurso de bicicleta de casa ao local dos jogos.

Gil Cola, 85 anos, morador da Providência, era um desses que pedalava todos os domingos para chegar ao campo a tempo de ver o primeiro jogo (do time secundário) e depois jogar no principal. “Eu morava longe, trabalhava na roça e não ficava muito próximo para poder ajudar nos cuidados do campo, como outros faziam. No dia do jogo, chegava uma hora antes para ver o primeiro jogo”. Ele explica que esse time era com os jogadores ainda em formação e que ajudava a descobrir novos talentos para formar o time oficial.

Aos 16 anos Gil Cola foi integrado ao time. Os domingos eram de jogo ou de treino, quando se encontrava com os outros rapazes. “Era um grupo bom, formado por rapazes das famílias Altoé, Minete, Falqueto...”.

Destaque como ponta direita, ele também se saía bem como ponta esquerda e meio campo. “Como pode ter alguém que joga bola com tanta facilidade”, recorda-se da frase que ouviu um dia ao reconhecer que realmente tinha facilidade para cruzar a bola. O jogo de estreia de Gil Cola foi em 1953. Ele se recorda que o goleiro era um mineiro chamado Jerônimo que trabalhava na abertura da rodovia federal.

Olímpio Perim era o diretor da época e definiu os uniformes. Gil recorda-se que ele optou pelo do Vasco para o segundo time e o do Fluminense para o principal, pelo fato de torcer pelo clube carioca.

 

Todos contra o Rio Branco

Gil Cola, assim como outros veteranos, jogou até os joelhos aguentarem.
‘’Foram os melhores anos da minha vida’’.

Para Gil Cola, um dos jogos mais marcantes do Rio Branco foi em Jaciguá em julho de 1958, quando o Brasil venceu a Copa do Mundo. Todo o campo estava enfeitado de bandeiras verdes e amarelas para o jogo em que o time local enfrentaria uma seleção dos melhores jogadores da região.

“Formaram uma seleção dos melhores de Vargem Alta, Prosperidade e até de Cachoeiro de Itapemirim para enfrentar o Rio Branco de Venda Nova. Ganhamos de 3 a 2”. E o gol de desempate foi de Gil Cola, que descreve com gosto o que aconteceu naquela tarde.

Os dois primeiros gols foram marcados pelos jogadores da seleção (um de Jaciguá e outro do de Castelo), e Pascoal Falqueto fez o terceiro e Cleto Altoé, o quarto gol. O desfecho parecia o empate quando Osvaldo (Teté), de Castelo, bateu uma falta da esquerda para a direita e Gil subiu e cabeceou, mudando a direção da bola que entrou por cima do goleiro, mais precisamente no canto esquerdo. O segundo tempo estava nos seus 42 minutos e a seleção adversária não teve tempo de reagir.

“Eudes Perim, que começou a jogar nesse dia, se destacou no jogo. Ele era esperto, não era grande, pegava a bola e levava onde quisesse”, recorda-se Gil, que também elogiou a atuação de Gilson Altoé, outro estreante do dia. Esse jogo foi dois anos depois que Gil passou uma temporada servindo ao Exército, no Rio de Janeiro.

“Tinha 19 anos quando fui servir ao Exército. Conheci todos os campos de futebol e vi muito o Garrincha jogar. Eu não perdia um jogo, principalmente do Flamengo. Era uma maravilha!”. Quando retornou, em 1956, Gil voltou para os trabalhos na lavoura e também o comando do pai, que era severo, conforme descreve. “Às vezes eu saía escondido para jogar. Meu pai tinha medo que quebrasse uma perna e não pudesse trabalhar”.

Gil Cola jogou até completar 35 anos, quando o seu joelho reclamou. “Eu parei por isso. Foram os melhores anos de minha vida. Nunca fui reserva e só me trocavam de posição para poder encaixar outros jogadores no time”, diz o autor de gols importantes para a história do Rio Branco. No total foram 90. A distensão na perna direita ainda dói de vez em quando, assim como seus joelhos. Mas tudo valeu a pena.

 
 
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