Quando a gastronomia revela uma região para a mídia
Data de Publicação: 25 de março de 2016 20:33:00
Na primeira quinzena de janeiro deste ano a Região das Montanhas do Espírito Santo teve uma grande oportunidade de mostrar para o Brasil a força da sua gastronomia. As reportagens especiais fecharam um ciclo do quadro ‘O Mais Você na Estrada’, do programa da Rede Globo de Televisão comandado por Ana Maria Braga.
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O ‘Polenta Móvel’ no programa ‘Mais Você’
de Ana Maria Braga.
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'O Mais Você na Estrada' desvendou um pouco das curiosidades dessa região do interior do Espírito Santo com a dupla Nádia Bochi, jornalista, e Jimmy McManis, chef de cozinha. Eles se deliciaram com a culinária de Castelo, de Afonso Cláudio, de Domingos Martins e de Venda Nova. Este último município ganhou um dia especial na programação e, conhecido por manter as tradições da cultura italiana, forneceu matéria-prima para Jimmy preparar o Ragu de Socol também feito com polenta.
Vale destacar que, além de ser uma forte representação cultural nascida na cozinha, a gastronomia é um dos pilares do agroturismo e do turismo como um todo. Junto com a boa comida, vêm os atrativos como as baixas temperaturas, as paisagens e a alegria de um povo que aprendeu a receber muito bem.
Toda essa alegria foi posta a prova no encontro no Paiol do Nonno, no Centro de Eventos em Venda Nova, onde os moradores soltaram a voz na 'Cantarola Italiana' ao calor do 'Polenta Móvel'. No comando do 'veículo', o 'polenteiro' Hélio Camata apresentou a tradicional polenta brustolada, muito bem acompanhada do queijo e da linguiça na chapa.
Ali mesmo, o chef Jimmy preparou um ragu de socol e polenta, que foi provado e aprovado por todos, numa demonstração da versatilidade dos produtos do agroturismo, que tem grande potencial na mais alta gastronomia. De tanto encantamento que causou, o 'Polenta Móvel' foi convocado para comparecer no programa de Ana Maria Braga, junto com Hélio Camata, é claro.
Camata colocou o 'Polenta Móvel' ao vivo para funcionar. Serviu as iguarias típicas de Venda Nova para a apresentadora, que também foi convidada a provar uma pinguinha. E ela aceitou e aprovou!
Quando o convite foi feito, veio a questão: como levar o 'Polenta Móvel' para o Rio de Janeiro, onde o programa é gravado? Uma picape dirigida por Marquinho Tonoli, da Secretaria Municipal de Turismo, foi o suficiente para conduzir o fogão, a lenha, os ingredientes e o cozinheiro.
Hélio Camata disse que chegaram ao Rio na quarta-feira (dia 6 de janeiro) à tarde, deixaram todos os apetrechos na cozinha da Ana Maria Braga, para onde voltaram na quinta bem cedo. “Logo acendemos o fogo e ficamos esperando a hora da chamada do programa. Preparamos a polenta, o queijo e a linguiça na chapa. Foi tudo muito tranquilo. Ana Maria disse que não conhecia esta região do Espírito Santo e estava admirada por se tratar de um lugar tão perto.”
O 'Polenta Móvel'
A primeira aparição do 'Polenta Móvel' foi na Serenata Italiana, pelo grupo de Bananeiras. Esse encontro musical e gastronômico acontece sempre nas férias de julho e faz parte do calendário anual de eventos da Festa da Polenta.
A primeira engenhoca, feita por Tarcísio Falqueto, surgiu para atender a necessidade de levar e servir polenta com facilidade em outros lugares. “Tarcísio Caliman, presidente da Festa da Polenta na época, falou que precisava de algo parecido com um fogão e que tivesse mobilidade. Fui fazendo a montagem e chamando ele pra ver até que cheguei ao Polenta Móvel. Com o tempo vieram as aperfeiçoamentos”, conta Falqueto
Trata-se de um fogão a lenha construído sobre rodas, em cujas trempes ficam uma panela fazendo polenta e uma outra fritando linguiça. O espaço na chapa é aproveitado para brustolar fatias de polenta ou de queijo, que são servidos para o público.
Depois da aceitação geral, surgiram várias outros exemplares, além da Serenata Italiana, os 'Polentas Móveis' se tornaram verdadeiras atrações em eventos relacionados à cultura típica do imigrante italiano e até em festas. Hélio Camata está entre os pioneiros e, pelas suas contas, ele pilota este veículo de gastronomia típica há pelos menos 14 anos.
Hélio Camata prepara a própria polenta, sempre com a colaboração da esposa Maria Rita Cevolani. “É preciso saber a proporção certa do fubá em relação a água, assim como o ponto de cozimento. Uma polenta só fica saborosa se ficar de uma hora a uma hora e meia no fogo e precisa ainda de ser feita com um bom fubá e em panela de pressão”. Camata diz ainda que a polenta ideal para brustolar deve ser mais durinha e feita na tarde do dia anterior para desidratar.
Preparar uma polenta no ponto certo é um saber que acompanha a maioria dos descentes de famílias de imigrantes italianos. Muitos homens se sobressaem bem nesta tarefa, como os que preparam a polenta na panela gigante da Festa da Polenta. A panela tem capacidade de preparar 1.200 quilos por vez e os cozinheiros dedicados garantem o mesmo sabor das polentas oriundas das cozinhas das mammas.
A polenta, alimento de subsistência das famílias que chegaram a Venda Nova há mais de um século, ganhou status de gastronomia com o advento da Festa da Polenta. Uma criação do saudoso padre Cleto Caliman, que costumava rejeitar o alimento no prato em sua época de criança, vai entrar este ano em sua 38ª edição.
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O socol é uma das iguarias que fazem parte
da tradição do imigrante italiano.
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Também por sugestão do religioso, em 1991 a Festa da Polenta abriu o Bazar da Polenta, onde peças de socol e de outras iguarias passaram a ser comercializadas para o grande público. O evento abriu as portas então para que outras receitas, além da polenta, ganhassem notoriedade junto ao público.
Anos antes, a Feira Livre no pátio da Escola Fioravante Caliman (onde a Festa da Polenta acontecia até 1994) abriu espaço para a culinária típica. Ali, as famílias de produtores levaram biscoitos, queijos, embutidos e vários outros produtos antes restritos às despensas das casas mais tradicionais do lugar.
Então, diante dos fatos, podemos dizer que a polenta abriu o caminho para que as outras iguarias típicas ganhassem notoriedade. Quanto ao advento do agroturismo em si, há de se destacar o importante papel do Alpes Hotel, empreendimento inaugurado em junho de 1992 em Venda Nova, que se inspirou na experiência da Itália para incentivar as famílias rurais a abrirem suas porteiras para receber os seus hóspedes. Sendo assim, todas aquelas delícias feitas nas cozinhas e guardadas nas despensas e antes restritas a poucas pessoas, ganharam rótulo com as marcas das famílias e também agregaram valor e renda ao orçamento das propriedades.