Paulete Almeida: a arquiteta que projeta casas com alma
Como a pandemia impactou as relações das famílias com os espaços da casa e as novas tendências do morar
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Desde que o mundo se deparou com a pandemia, cada casa se tornou, além de abrigo, o refúgio seguro em tempos de incertezas. “Provavelmente, nunca estivemos tão conectados com o nosso lar como agora. O morar ganhou outras dimensões e os espaços da casa, novos significados”, afirma a arquiteta Paulete Almeida, referindo-se ao atual cenário consolidado pela pandemia de covid-19.
O distanciamento social exigiu o confinamento, a migração das atividades de trabalho e estudo para o espaço interno da casa e provocou uma reorganização da dinâmica familiar e, consequentemente, a forma de morar e ocupar os espaços físicos da casa. Nesse novo cenário, o home office tornou-se indispensável. Os ambientes precisaram ser reorganizados para que todos pudessem exercer suas funções, sem comprometer espaços comuns, como a mesa do jantar ou a sala de estar. As pessoas tiveram que reaprender a compartilhar os ambientes: “Em muitos casos, o pai trabalha de um lado e a mãe do outro, enquanto o filho estuda’’.
Com a necessidade do trabalho remoto, muitas empresas perceberam que o home office pode gerar além de economia, maior rendimento e satisfação dos funcionários. Já se calcula que boa parte delas vai adotar esse modelo permanentemente, o que aponta para a necessidade de um novo conceito de morar que precisa ser reavaliado nos futuros projetos de arquitetura
Para Paulete, as pessoas estão em busca de locais aconchegantes e acolhedores que promovam o convívio familiar sem abrir mão da segurança e da praticidade de trabalhar e estudar dentro do lar. “Muito além do home office, as pessoas querem varandas e janelas amplas que as coloquem em contato, nem que seja visual, com os ambientes externos, ampliando psicologicamente os limites espaciais da moradia. São novas plantas, novas decorações e novas dinâmicas dentro do lar”.
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Até por uma questão de saúde, itens como incidência solar e ventilação tornaram-se ainda mais relevantes nos projetos residenciais. “Percebemos uma maior exigência com espaços mais arejados e as pessoas passaram a se importar muito mais com a iluminação natural dos ambientes. Como muita gente passava grande parte do dia fora de casa, isso não era notadamente impactante”, acrescenta Paulete.
Para muitas famílias as cozinhas protagonizaram a reconexão de seus membros, pois estimulados pelo ato da preparação do próprio alimento, as refeições coletivas tornarem esses momentos diários prazerosos.
Com a pandemia, o hall de entrada ganhou também a função de limpeza, pois é o local de chegada dos moradores. Isso também fortalece a necessidade de uma entrada de serviço, na qual as roupas utilizadas fora de casa já podem ser deixadas na lavanderia.
Nessa leva de transformação, são bem-vindos materiais com facilidade de manutenção, com durabilidade e ao mesmo tempo práticos, que evitem quebra quebra na hora de fazer pequenas adaptações.
“Houve um boom nas reformas, assim como de novas construções em Pedra Azul e em Venda Nova, pois a região passou então a ser o lugar da moradia principal de muitas pessoas que residem na capital e mantêm aqui sua segunda residência. Com muita gente trabalhando remotamente, várias famílias estão experimentando a possibilidade de morar distante da sede do trabalho”, observa a arquiteta.
“Essa alteração trouxe mudanças para a vida das pessoas que, deixando a correria exagerada, valorizaram mais a qualidade do que a quantidade.
Dentro desse conceito de conforto aliado à praticidade, cada casa é um caso e as necessidades precisam ser avaliadas particularmente, seja na hora da reforma ou construção de uma nova casa. “As casas precisam ter alma e ser o reflexo da dinâmica de seus moradores”, afirma a arquiteta.
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Condomínios horizontais e casas com amplas varandas estão entre as preferências das famílias. “As pessoas querem sentir a terra nos pés e a liberdade de respirar além dos limites de quatro paredes! ”
Uma das maiores tendências será o aumento da metragem nas residências. “A rotina de ir para academia, depois para o trabalho e à noite para um encontro está transformada. Todas essas atividades estão sendo deslocadas para as residências e está acontecendo um acréscimo para cada uma delas”. As áreas de lazer ganham grande importância e se tornam espaços multifuncionais com as novas demandas de atividades.
Outra necessidade ressaltada é a de gerar núcleos individuais para as pessoas, fato que também deve impactar no aumento das residências. “Também precisamos prever o espaço de trabalho e estudo, o home office, para cada um. Incluindo na lista, o pai, a mãe e os filhos”.
Ao correr da verticalização dos lares, Paulete observa que a malha urbana tenderá a se espalhar, abrindo espaço para novos loteamentos e incentivando a oferta de mais condomínios residenciais. Desse modo, não se pode negar que a alteração na maneira de viver impacta o conceito de casa daqui em diante, fato que deve ser considerado no desenvolvimento de novos projetos imobiliários.