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No início: cafés SENSACIONAIS, mas não tinha quem pagasse por isso

No início: cafés SENSACIONAIS, mas não tinha quem pagasse por isso

Para Dudu Melo, sua experiência no comércio, assim como os concursos e os projetos no Ifes, foram abrindo novas rotas. ‘’O que precisamos agora é imaginar o que faremos daqui dez anos’’

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Em 2006, Dudu Melo tinha 21 anos quando foi trabalhar na Pronova e cinco anos depois era Q Grade. “Era muito difícil fazer curso naquele tempo”. Sobre a época ele também se recorda a falta de mercado consumidor que pagasse pelos especiais. “Eram cafés sensacionais, mas não tinha quem pagasse. Era algo muito novo. De lá para cá houve uma valorização do café no Espírito Santo e no Brasil, assim como no exterior. É o reconhecimento. Eles vêm buscar as origens do café”.

Esse é o resumão do provador, que há dez anos toca o próprio negócio, a Provecafé, que comercializa grãos das Montanhas do Espírito Santo.

Quando trabalhava na Pronova, Dudu fez agroindústria no Ifes Venda Nova e os estudos o despertaram para o empreendedorismo. Ele e Rafael Marques montaram o escritório e os dois começaram um trabalho de agregar valor fora da atuação da Cooperativa. “Era um caminho diferente e um projeto pessoal de vida. Os primeiros seis anos foram os mais difíceis: apanhamos muito e aprendemos muito também. Tenho bagagem no comércio que me abrem caminhos, assim como os concursos e o Ifes foram abrindo novas rotas. E os caminhos estão abertos para todos. O que precisamos agora é imaginar o que vamos fazer daqui a dez anos”.

Enquanto imagina o futuro, Dudu afirma que aprecia trabalhar no que é dele, fazendo o que gosta e sobreviver da atividade. Ele ressalta que, além de acompanhar o comportamento dos preços no mercado, o mais importante é construir relacionamentos. “Isso tem se perdido um pouco com a tecnologia, em especial agora com a pandemia. Mesmo reconhecendo a eficácia dos aplicativos, ainda acredito no poder dos encontros”.

Dudu ressalta o grande investimento feito em tecnologia e em conhecimentos, além da dedicação ao setor. Para ele, quando o produtor   deixa de fechar negócio apenas por um preço um pouco melhor poderá haver risco no desmonte dessa estrutura feita pelos escritórios de provas. É que a avaliação sensorial é       feita sem custo para o produtor e ter esse serviço disponível abre o leque para os provadores conhecerem o maior número de produção possível.

 

Evolução

Nesses anos de experiência, Dudu está no time de provadores que presenciaram as famílias produtoras melhorando a qualidade de vida, tendo a acesso a aquisição de veículos, equipamentos e até de mais terras. “A maioria está aproveitando o acesso à informação e percebeu que pode evoluir sem precisar trocar a vida no campo pela a da cidade. E os filhos estão estudando e retornando para implantar novos projetos”.

Esse movimento, na avaliação de Dudu, está entre os comportamentos típicos da terceira onda do café. “Os produtores estão produzindo qualidade, beneficiando e comercializando sua própria marca. Com a alta da saca (in natura), em razão de o mercado lá fora estar começando a absorver essa produção, esse valor para o mercado interno já subiu e pode subir mais. Independente disso, os preços nos supermercados, praticamente inalterados há dez anos, estão com 40% a mais nas gôndolas.”

Em contrapartida, o problema de logística- ausência de contêineres disponíveis para o embarque- pode ser o fator que desacelere a exportação. “Temos um problema de logística e se vendermos e não conseguirmos entregar, esse café fica boiando aqui. Mesmo assim, temos que motivar a fazer qualidade, pois chegará o momento que o mundo inteiro passará a produzir grão com esse nível e não conseguiremos vender o café hipervalorizado”.

Para Dudu, o boom da venda doméstica veio com as torrefadoras e cafeterias e o turismo sustenta esse mercado. “As pessoas da cidade gostam de vir para o interior. Hoje o produtor tem acesso a muitos mercados e ainda pode montar sua própria estrutura e criar o seu mercado”.

“Fazer qualidade esbarra em vários fatores, como o clima. Acima de 800 metros de altitude, a colheita tardia (de outubro a dezembro), quando há tempo para a formação dos açúcares nos grãos, corre-se o risco de sofrer com a umidade do tempo comumente chuvoso. Clima seco faz mais qualidade. E esse café é ouro: são os chamados nano lotes”, finaliza Dudu.

 

RONDINÉLIO SARTÓRIO

Rondinélio Sartori mora em Castelo e a empresa da qual é sócio, a Provecafé, está instalada em Venda Nova,  devido à localização, que favorece o acesso aos produtores de cafés especiais das cidades vizinhas. Provador desde o ano de 2006, ele tem formação de  técnico agrícola.

Em 2006 recebeu um convite para trabalhar com café na Prefeitura Municipal de Castelo. Lá ficou na Sala de Degustação de Café até 2015, sendo responsável pela qualidade do café daquele município, onde desenvolveu concursos municipais. “Levei amostras de produtores para concursos nacionais e dava todo o acompanhamento aos produtores no quesito produção de qualidade”.

A partir de 2015, Rondinélio entrou como sócio com o Eduardo  Melo na Prove Café, que compra e revende cafés especiais da região. Todos os dias, ele se desloca de Castelo até Venda Nova.  No período de degustação de café, ele fez vários cursos. “Eu inicie provando café em Brejetuba. Fiquei uma safra lá provando café e depois fiz curso no Centro do Comércio de Café de Vitória. Sou licenciado pelo Ministério da Agricultura (fiz um curso pelo Ministério da Agricultura em Minas Gerais), fiz  curso de R Graders (degustação de robustas finos) e Q-grader (degustação de arábicas especiais) e continuo atuando na questão da qualidade”.

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