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Idalete e Dácio Falqueto: voluntários do tempo da lenha lascada

Idalete e Dácio Falqueto: voluntários do tempo da lenha lascada

Por volta de três semanas, Dácio e Chico Faé iam buscar lenha em propriedades no entorno de Venda Nova

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Dácio Falqueto vai completar 81 anos em outubro próximo. Ele e sua esposa, Idalete Spadetto Falqueto, 76, têm um longo histórico de voluntariado na Festa da Polenta. E começaram juntos: ele, lascando lenha, e ela, no calor dos fogões improvisados. “Começamos bem no início. Não tenho certeza, mas acho que foi na terceira festa”, comenta Idalete, que por problemas nas vistas se afastou há três anos.

Sempre disponível para resolver os imprevistos na cozinha, Dácio se recorda que nas primeiras festas lascava lenha junto com Chico Faé, num puxadinho atrás da cozinha improvisada no pátio do Colégio Salesiano. “Tudo era muito precário e um exagero de serviço, apesar do público ser ainda muito pequeno”, diz o voluntário que atualmente ajuda resolver problemas hidráulicos, elétricos, de gás e outros que aparecerem durante a Festa. “Às vezes ele chega em casa para descansar e alguém liga pedindo para ele voltar”, observa a esposa. E ele completa: “mas é nada comparando com antigamente”.

O serviço pesado começava pelo menos três semanas antes, quando ele ia buscar a lenha no Ribeirão, em Conceição do Castelo, ou  na comunidade de Sapucaia. “Antenor Lorenção tocava roça de eucalipto e tinhas umas sobras secas, que também acostumava doar.

Dentre os serviços antecipados, estava a produção de linguiça caseira. Dácio também participava dessa atividade e conta que a iguaria era preparada nas dependências do Salesiano mesmo. “Teve um ano que matamos de 10 a 12 porcos na casa de Vicente Perim, onde também preparamos as linguiças”, recorda-se. A banha também era aproveitada para o preparo do frango frito (usava-se óleo também), a pele virava um delicioso torresmo, assim como a carne era toda incorporada às demais matérias-primas do prato típico e das porções servidas durante a Festa.

No tempo em que a Festa da Polenta acontecia no pátio do Colégio Salesiano, apesar de muito bem organizada, a entrada única causava algumas dificuldades, conforme se recorda Dácio. “Teve uma vez que a cerveja acabou e fomos buscar no Nutribem. Como só tinha um portão (que servia de entrada e saída) e a avenida ficava praticamente interditada pelos carros, ambulantes e multidão, tivemos que trazer as grades de cerveja nas costas do supermercado até o bar da Festa. Não tinha como sair e nem retornar de carro”.

Era muito comum que logo depois do almoço de domingo as comidas e as bebidas começassem a acabar. “Padre Cleto mandava a gente rezar para não faltar... E por mais que a gente planejasse, era difícil dar conta”, observa Dácio ao recordar-se de um público que sempre aumentava ano a ano. “A Festa só foi adiante porque o povo trabalhou demais. Assim como muitos voluntários, eu chegava cedo e saia tarde da noite ou de madrugada para conseguir dar conta. Não tinha locais próprios para armazenamento, bons fogões”.

Dácio também fez parte da equipe de compras. Um mês antes, ele e Vicente Perim passavam nas propriedades recolhendo os queijos em diferentes fases de maturação. As peças ficavam guardadas no terraço da casa de Dácio e todos os dias ele e a esposa Idalete lavavam e viravam as peças. “Nem todas tinham a mesma qualidade e algumas se desmanchavam”, descreve Idalete.

Numa outra fase, Dácio ia buscar os laticínios  em Minas Gerais: manteiga em Realiza e queijos em Abre Campo. Tudo era comprado depois de uma rigorosa pesquisa de preço feita pelo seu telefone particular (num tempo que uma ligação era muito cara) e tudo era anotado nos detalhes. “Comprávamos um parmesão grande e ralávamos com a máquina de José Altoé. Era uma loucura”.

Na verdade loucura ele fez uma vez e, embora não lembre o ano, conta com detalhes. “Peguei uma carona que saiu daqui e me deixou em Realeza, de lá peguei outra até Abre Campo, onde fiz as compras. Peguei outra carona para retornar até Realeza, carregando cerca de 200 quilos de queijos. Andei até um caminhão de gás e fiz o percurso final de ônibus, chegando em Venda Nova às 2 horas da madrugada e debaixo de chuva. Deixei os queijos na beira da estrada e vim em casa pedir ajuda”.

Já as recordações de Idalete são mais de dentro da cozinha, onde atuou como coordenadora junto com Tereza Faé. “Antes de nós, Cacilda Caliman foi coordenadora. Muitas outras mulheres passaram pela cozinha, executando um trabalho muito importante”, diz Idalete certa de que a comida típica sempre esteve no centro das atenções dentro da Festa da Polenta.

Idalete se lembra do fogão improvisado de boca única, onde só cabia um tacho grande para as frituras, pois as polentas eram preparadas nos panelões de ferro. Esses tachos eram emprestados pelas famílias. Vicente Perim foi o encarregado de recolher os utensílios que, depois de usados, eram devolvidos. Mas nem sempre para os legítimos donos, pois as peças eram idênticas e muitas vezes eram trocadas na devolução.

“Saia muita polenta frita. Também tinha o prato típico, que fazia sucesso, e era servido em pratos de louça”, recorda-se Idalete, que emprestou seu talento durante décadas para a Festa da Polenta.

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