Gráfica Itália: da tipografia à era digital
Experiência e compromisso resultam em referência em qualidade gráfica
![]() |
Logo na sala de entrada da Gráfica Itália, na primeira mesa, está sentado o proprietário Marcelo Dalfior, 41 anos. A postura revela o perfil do empreendedor, que gosta de ser uma pessoa acessível e estabelecer uma relação de confiança e direta com o seu cliente.
Dono de uma gráfica referência em qualidade na região, Marcelo tem uma trajetória de luta que começou muito cedo. Aos 11 anos ele já conciliava um trabalho de meio expediente com os estudos e aos 14 já trabalhava em período integral. No dia 28 de janeiro de 1991 começou a trabalhar no setor gráfico... E nunca mais parou.
Em 1999 ele concluiu que precisaria abrir um negócio próprio, e em um ano depois já estava com sua gráfica funcionando. Contando assim parece simples, mas não foi. “Abri o empreendimento com 100% de coragem e quase zero de grana”, relembra.
Marcelo vendeu seu único bem, um carro, para comprar uma máquina tipográfica usada e praticamente obsoleta para a época. Ele também reformou a única bicicleta que possuía para poder fazer as entregas. Este foi o jeito que ele e um sócio (seu primo) encontraram para começar a produzir por conta própria.
As dificuldades eram tantas que um serviço entregue em 24 horas por uma gráfica convencional levava uma semana para ficar pronto. Dadas as condições tecnológicas de seus equipamentos, a Gráfica Itália exigia um empenho muito maior para produzir menos. Para se posicionarem no mercado, Marcelo logo percebeu que seu trunfo estava na qualidade e no cumprimento do prazo combinado para entregar os trabalhos.
“Começava a trabalhar 6h30 da manhã e parava lá pelas 23 horas, quando não virava a noite”, relembra. A jornada exaustiva era para compensar a ausência de vários equipamentos de suporte. “Não tínhamos vários equipamentos e substituíamos as máquinas pelas nossas próprias mãos, fazendo recortes, dobraduras, empilhamentos, dentre outros serviços.”
Marcelo se lembra que buscava sempre fazer o trabalho com maior capricho possível, pois queria um resultado semelhante aos serviços das gráficas maiores. E o resultado era muito parecido. “Fomos ganhando elogios dos clientes, que retornavam para contratar novos serviços e nos indicavam para outras pessoas. Os clientes foram nossos maiores divulgadores e isso era um grande estímulo.”
Logo no início Marcelo procurou a Editora Folha da Terra, que publicava o semanário Folha da Terra, para propor fazer o seu serviço gráfico. Toda semana a Editora mandava um emissário para Belo Horizonte, onde era impresso o jornal. “Achava aquilo um absurdo. Mas passar a imprimir o jornal na nossa gráfica foi um ato de pura ousadia. Ficávamos das 17 horas da tarde de quarta-feira até a meia noite só para preparar as matrizes. A quinta-feira inteira era dedicada à impressão e costumávamos deixar os impressos tarde da noite ou de madrugada na escadaria da redação, que os colocava nas ruas na manhã de sexta-feira. Nada podia dar errado, pois qualquer falha impossibilitaria aos leitores de terem o jornal na hora esperada. Hoje fazemos o trabalho em duas horas.”
Imprimir o Jornal Folha da Terra foi um grande desafio para a Gráfica Itália. Mas, para Marcelo, sua trajetória não poderia ser escrita de forma diferente. “Pensei: Porque não tentar? Trabalhamos durante muitas madrugadas, fazendo grande parte dos serviços manualmente. Foi duro. Cresci vendo exemplos de dedicação e superação dentro de casa. Meus pais são grandes guerreiros.”
Nestes quase 18 anos como dono de gráfica, Marcelo ficou durante muitos anos reinvestindo 100% do seu ganho e também procurando linha de crédito para atualizar seus equipamentos. Sempre com os pés no chão, pois a armadilha é grande para quem não se planeja e não cumpre prazos.
Assim como as prestações dos empréstimos, pagar em dia os fornecedores é condição primordial na administração da gráfica. “Sempre me preocupei em honrar os prazos de pagamento, pois preciso dos fornecedores. Sem matéria-prima não há como trabalhar e esta boa relação nos rende boas oportunidades de compras. Sempre que há uma promoção de material, eles me ligam me oferecendo”, relata Marcelo.
Para manter os negócios da gráfica bem equilibrados, Marcelo precisa gerenciar bem sua relação com os clientes e os fornecedores (oferecendo qualidade e cumprindo prazos) e também mantendo motivada a sua equipe, formada por 12 funcionários. Por isto, ele sempre está por perto, colocando a mão na massa (ou nas máquinas) quando é preciso. Ele se mantém ativo e pronto para resolver qualquer falha no processo de produção e ao mesmo tempo está à frente na relação com os clientes.
Além de administrar estas frentes naturais de seu trabalho, as inovações tecnológicas também são um desafio para a Gráfica. Ao mesmo tempo que traz facilidades, muda as demandas e requer investimentos permanentes. “Quando a informática se popularizou, muitos anunciaram uma queda nos serviços gráficos. No entanto, a tecnologia nos proporcionou agilidade e novas possibilidades.”
![]() |
Marcelo traz experiência do tempo da tipografia, quando preparava-se as chapas de texto ou formulários que se pretendia imprimir, montando-as, caractere por caractere, depois era tudo desmontado e guardava-se tudo nas caixas novamente, passando pelo off set e chegando também à atual era digital. Atualmente ele alia off set com equipamentos digitais e vive na expectativa de quem trabalha num setor que se transforma todos os dias e com equipamentos de alto custo. Tudo fica obsoleto muito rápido.
Sempre inovando e investindo, Marcelo conhece seu público alvo e o potencial comercial da região e, por isso, precisa equilibrar a balança, tirando o máximo de seus investimentos. Realista, sabe que não pode fugir das inovações e também sabe até que ponto pode chegar. “A qualidade de nosso trabalho é equiparado aos das grandes gráficas.”
A Gráfica Itália atende a Região Serrana inteira e também clientes do Sul de Minas Gerais. O aumento da demanda é constante e o desafio agora é saber exatamente do tamanho que deseja ficar, pois a mão-de-obra é outro desafio. “Hoje é fundamental que o funcionário permaneça no emprego, pois a troca nos custa muito e não podemos nos dar o luxo de ter rotatividade. A sintonia de nossa equipe é fundamental para o bom resultado de nosso trabalho. Todos são muito importantes.”
Ao ficar na linha de frente da Gráfica, Marcelo tem bons e difíceis momentos junto aos clientes. “Atendemos muita gente feliz e realizada por diversos motivos, mas também pessoas que choram por perdas importantes em suas vidas. Tudo isso faz parte do nosso trabalho. É um desafio diário.”
Por sempre ser o fiel da balança dentro da empresa, Marcelo gosta desta relação próxima, equilibrando com entusiasmo o tripé: mão-de-obra, fornecedor e cliente. Para enfrentar os desafios com energia, Marcelo busca na vida familiar (ele é casado e tem dois filhos), na fé e na música (Coral Santa Cecília), o equilíbrio que precisa. Ele também gosta muito dos carros antigos que coleciona e de ir trabalhar no sítio da família, sempre que pode.