Fermentação: uma experiência bem sucedida
Microlotes- Com o domínio do cultivo à comercialização, a família Venturim aplica tecnologias para alavancar pontuação dos cafés colhidos
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Apaixonado por café e com uma vida inteira de experiência em trabalhos no campo, Ronaldo Pansini soma à Família Venturim quando em 1991 se casa com Neusa Venturim.
Juntos vêm conquistando os paladares mais exigentes por unir a agricultura, a gastronomia, os tratos culturais sustentáveis, a tecnologia e a busca pela melhoria contínua.
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Com cafezais em Lajinha, Minas Gerais, e na propriedade em Alto Bananeiras, em Venda Nova, a família Venturim lida com duas realidades completamente diferentes. No entanto, ambas bem sucedidas, como pode ser percebida na diversidade de cafés de qualidade e especiais oferecida pela sua marca.
Com o domínio de todas as fases da cadeia: do cultivo à comercialização, a família colhe o fruto da tradição que soube se abrir para uma nova forma de extrair o melhor que o grão pode oferecer. Dentro dos cuidados, que começa na escolha da variedade, passa pelos tratos no cultivo e se finaliza nos pós-colheita, a fermentação tem sido uma aliada no alavancar da pontuação dos cafés colhidos em Lajinha, numa altitude média de 800 metros.
“Se não cuidamos no pós-colheita, não temos uma boa bebida”, diz Ronaldo Pansini sobre o destino do grão de-pois de colhido maduro. Ele e a esposa Neuza Venturim e o casal Nestor Porto e Ana Venturim tocam esse braço dos empreendimentos da família, que comemora resultados em premiações, como quando seu café ficou entre os dez do Brasil na categoria arábica na Semana Internacional de Café- Coffee of the Year 2019.
A prática da fermentação para realçar ou acrescer os atributos é usada especificamente nos cafés colhidos em Lajinha, considerando que nos grãos colhidos em Alto Bananeiras não precisam e não se deve usar esse recurso. E o resultado tem sido excelente, sendo que no último lote avaliado pelo Lapc do Ifes- Campus Venda Nova, alcançou-se nota 88,6.
Mas esse saber não foi construído de um dia para o outro. Ronaldo conta que só numa safra foram feitas 28 experiências. Na sequência, passou para 20 e depois para dez até chegar a duas satisfatórias para o tipo de café. “São métodos que passam por alguns ajustes, dependendo da safra. Um café nunca é igual em todas as safras, mesmo que esteja no mesmo talhão. São inúmeras variáveis que provocam oscilações”.
Esse novo modo de ver a produção de café da família veio depois que Ronaldo fez o curso no Ifes. Durante seis meses, ele aprimorou seus conhecimentos sobre degustação, classificação e fermentação, dentre outros. Vendo a riqueza do universo que se desvendava diante de seus olhos, a família Venturim fez uma parceria com o Ifes e ajudou a equipar o laboratório. “Eles nos deram a base para que o nosso trabalho tirasse o melhor do café que já produzíamos”.
A família também buscou conhecimentos em cursos em Belo Horizonte, visitas técnicas, uma semana de degustação e classificação no Palácio do Café e em outros centros acadêmicos, como o do Ifes de Alegre e a Universidade Federal de Lavras- Ufla, assim como contou com o apoio do Sebrae- Regional Venda Nova e com as linhas de crédito do Sicoob para alavancar novos projetos, como o café Venturim.
“Para ser um produtor de café alinhado com a nova realidade, é preciso ser um degustador, para conhecer seu próprio café. Assim fica mais justa a relação com os compradores”. Soma-se às habilidades de Ronaldo, seus dotes de torrefador e barista. “Ao enxergar as exigências da ponta da cadeia, o produtor consegue escolher a genética e saber se suas qualidades são boas o suficiente para dar bebida”.
Como já foi dito, todo o processo- da produção à comercialização do café oriundo das propriedades da família- está sob seu domínio. E a marca Venturim só comercializa o café próprio, sem compras de terceiros. “Só cuidamos, beneficiamos e vendemos o café da família”.
Somente 1,5% da produção passa pela fermentação pois este processo aumenta muito o custo. Um dos motivos é o tempo investido com dedicação. Esses cafés, com notas perto de 90 pontos, melhoram a qualidade tornando-os especiais (microlotes), que sob a marca da família, melhora o ganho. Mas o mais compensador, na avaliação de Ronaldo, é o marketing gerado, pois os demais cafés- tratados com tanto cuidado quanto- vão na esteira da visibilidade. “São ótimos, com notas acima de 80, sem as particularidades dos microlotes”.
Em Alto Bananeiras, os cafés produzidos a 1.270 metros de altitude apresentam particularidades, que são presentes pelas características do local (altitude, ventos, umidade e sombreamento) e do capricho no pós-colheita. Alguns microlotes alcançam notas acima de 90. Um espetáculo.