Entre as pioneiras, Família Lorenção continua sendo referência no agroturismo
Data de Publicação: 24 de fevereiro de 2017 09:41:00 Com receita herdada de socol, criatividade e dedicação dão origem a novas iguarias oferecidas na propriedade
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Depois da ampliação das instalações, a produção de socol segue de vento em popa na Família Lorenção, que é uma das referências pioneiras no preparo da iguaria como atividade geradora de renda em Venda Nova. Na entrada da propriedade, na Tapera, uma ala florida e cercada de plantio de lichia e pitaias convida os turistas para conhecerem um povo simpático, que gosta de viver e receber bem as pessoas.
Flores voltam a adornar o caminho na lateral da moradia dos patriarcas (Cacilda Caliman e Máximo Lorenção) e que liga o pátio central (onde os carros ficam estacionados) ao núcleo de atendimento aos turistas, no fundo da casa. Um canto aconchegante, com fotos da família e disponibilidade de publicações para leitura, é um convite perfeito para degustar as delícias produzidas pela família.
Essa parte da produção ficou por conta do filho Ednes José Lorenção e da esposa Dete Lorenção e, mais recentemente dos filhos, que estudaram fora e retornaram para assumir a atividade junto com os pais.
O carro chefe da família Lorenção é o socol. A iguaria, que era consumida entre os familiares e amigos, se tornou um ícone na gastronomia de Venda Nova. O embutido de carne, maturado com tempero, é uma receita de família trazida pela matriarca Cacilda, aprendida com o pai, Fioravante Caliman.
A demanda pelo socol sempre foi acima da produção e, há mais ou menos um ano, a ampliação da infraestrutura facilitou o trabalho da família, que atua com mais dois funcionários. “Nós produzíamos praticamente sozinhos, em se tratando em condições de fornecer para outros mercados fora de Venda Nova, pois éramos os únicos com o Selo de Inspeção Estadual- SIE. Agora, com o Susap, que oferece as mesmas condições, mas é de fiscalização municipal, as outras famílias também podem fornecer”, explica Ednes José.
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Ele é o responsável pelo tempero da carne do socol. A receita de Fioravante (seu avô) recebeu em suas mãos alguns toques pessoais que ele não revela. “Eu gosto de cozinhar e, em especial, mexer com carne: do abate do animal, passando pelos cortes e temperos, até chegar ao fogão. E preparar o socol em maior escala foi uma necessidade gerada pela oportunidade do agroturismo.”
Quando a atividade de produzir iguarias nas propriedades rurais ganharam a denominação de agroturismo, algumas famílias produtoras já se despontaram, como reconhece Ednes José. “Luiz Perim, do Alpes Hotel, começou a incentivar, os Carnielli logo aderiram, e Josepha Müller (uma alemã que morava em Venda Nova) já se destacava, quando nos colocamos à disposição para produzir e vender a receita do socol que fazíamos.”
A família Lorenção sempre teve um trunfo nas mãos: a simpatia da matriarca Cacilda Caliman, que sempre recebeu os turistas com muita alegria e com muita facilidade para se comunicar e dar entrevistas. Logo, logo, Cacilda passou a ser figura requisitada e ser presença constante na mídia.
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Dete fica à frente da produção junto com o marido
Ednes José Lorenção e com os filhos.
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As pessoas vinham na propriedade conhecer um pouco da nossa história, da nossa cultura e a venda dos produtos era uma consequência de tudo isso”, descreve Ednes.
Com o sucesso do socol, a família viu na produção de antepastos uma oportunidade de oferecer mais novidade aos visitantes. A produção surgiu meio por acaso, quando o cunhado de Ednes, o chef Fernando Lorenzoni, pediu para produzir um bom tomate seco para ele atender seus clientes em Vitória. Fernando tinha retornado da Europa, onde fez vários cursos de culinária, e estava preparando jantares na capital capixaba.
A família fez o primeiro plantio de tomate italiano em solos capixabas. As sementes eram trazidas da Itália e a produção inicial era para atender exclusivamente o chef de cozinha. “Para produzir, adaptamos uma estufa de secar cogumelos para desidratar os tomates. Resolvemos aumentar um pouco a produção e colocar para vender na nossa lojinha e deu certo.”
Com uma nova receita de antipasto de berinjela ensinada por um italiano, a família passou a oferecer outro produto. Depois desta experiência, passou a criar novas receitas e hoje são 14 variedades de antipasto, duas geleias, um licor de limão ceciliano, além do envoltine. Este último, uma criação da casa, que é um enrolado de berinjela, socol, gengibre, no mais caprichado tempero. As receitas são oferecidas em potes de 200 gramas.
O envoltine, em especial, é a iguaria que mais requer mão de obra. Três pessoas produzem menos de 80 unidades em três dias de trabalho. “Este é um produto de alto valor agregado e que só oferecemos na loja da propriedade. Não comercializamos fora, pois não dá para fazer produção em escala.”
E, assim, mesclando elaboração artesanal com a produção e maior escala, a Família Lorenção continua no agroturismo e com o pé na agroindústria. Em ambas as condições, os alimentos são preparados com matéria-prima de alta qualidade, com mão de obra predominantemente familiar, dentro dos padrões de segurança alimentar e, na maioria, com receitas carregadas de história familiar.
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Há 23 anos na atividade, Ednes José não imaginou no início que chegaria tão longe ao investir a vida dele e de sua família neste projeto. Hoje ele também não consegue visualizar a viabilidade econômica de viver no campo exclusivamente da atividade agrícola. “O agroturismo mudou a nossa vida e ao mesmo tempo oferecemos um produto bom, saboroso e original nunca antes oferecido para o público consumidor.”