Ela curte a natureza e vive o desafio de manter a Pousada Lusitânia
Data de Publicação: 28 de fevereiro de 2020 20:42:00 Luciana valoriza as tradições familiares, mantem uma equipe de trabalho afinada e se preocupa em preservar o meio ambiente no entorno do empreendimento
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Três gerações de mulheres fortes na história e no comando do Lusitânia. Luciana é filha
de Anna Canal e mãe de Luíza Oliveira Delarmelina.
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Quando menina, Luciana Canal de Oliveira ficava na vinha durante horas ao lado do pai Delfim Pinho de Oliveira. Era o lugar preferido do português, que desembarcou no Brasil e escolheu Pedra Azul para formar sua família e viver. As lembranças de infância ao lado dele e da mãe, Anna Canal, fazem parte do repertório de razões para ela continuar o empreendimento que começou pelas mãos dos pais, se transformou pelas suas e também evolui pelas as da sua filha Luíza.
A Pousada Lusitânia, um projeto pessoal de Luciana, surgiu para suprir a demanda da clientela do tradicional Res-taurante Lusitânia, que hoje está sob a gestão de Luíza. Rodeada pelos remanescentes de mata atlântica e localizada na parte mais alta da propriedade (acima do Restaurante), a Pousada tem como proposta proporcionar descanso e contemplação.
Inaugurada há 17 anos, a Pousada segue cumprindo sua proposta inicial, agregando conforto e tendo como coringa a excelente culinária do Restaurante, onde os hóspedes tomam o café da manhã (incluído na diária) e podem almoçar ou jantar, conforme eles queiram. O café da manhã é quase totalmente com itens caseiros produzidos na Casa, como pães, bolos, geleias... Tudo muito delicioso!
“Qual é a experiência que oferecemos? De bem-estar e acolhimento”, pergunta e ao mesmo tempo responde Luciana, que tem uma equipe treinada com os ideais do empreendimento. Todas as manhãs ela passa pelos quartos e faz o checklist. Antes, marca presença na recepção para checar as reservas e verificar se há casos com necessidade de entrar em contato pessoalmente com os clientes.
“Gosto de passar anonimamente entre os hóspedes para sentir o clima. Eu me realizo quando vejo casais na varanda curtindo o lugar, relaxando diante da paisagem, querendo que o tempo pare naquele instante”, descreve Luciana. Ela ressalta que, como a proposta é relaxar, foram criados ambientes como o pergolado e uma salinha em meio as árvores para que os hóspedes apreciem a natureza. “São ambientes para ficar atoa”, observa.
Luciana se realiza em ver seu projeto cumprir a proposta de fazer parte dos momentos de prazer e descanso das pessoas. “Quando eles falam ‘que pena’ na hora de ir embora, sinto que estamos cumprindo nossa missão”. Ela diz que gosta muito de recepcionar seus hóspedes, mas que o feedback vem sempre depois. Um dos termômetros são as avaliações nota 10 que a Pousada ganha e, quando é diferente, a equipe é que faz a autoavaliação, para saber se houve falha e onde está o ponto a ser ajustado.
“Sempre converso com a equipe, pelo menos duas vezes por semana. Quando não consigo juntar todos, me reúno com cada setor: manutenção, recepção, serviço de quarto... Ainda, junto com a equipe da recepção, gosto de acompanhar a divulgação da Pousada e ficar atenta às publicações nas redes sociais, além de pesquisar novidades e interagir com os clientes”, descreve Luciana.
Cuidar deste empreendimento requer muita dedicação, principalmente na manutenção. “Sempre fazemos trabalho de prevenção e estamos em estado de alerta, pois são muitos detalhes, que precisam estar em dia”.
Luciana é focada no trabalho e desenvolveu uma dinâmica que a permite atuar em várias frentes: cuida da mãe, tem três filhos (sendo que dois estudam fora) e uma neta, filha de Luíza.
Trabalho cedo
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Em meio a uma área de preservação, a dona da pousada está conectada à causa animal,
mantendo um ambiente de segurança para os tamanduás, quatis,
tucanos, esquilos, seriemas e outro animais silvestres no entorno do empreendimento.
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Filha única, Luciana esteve no centro das atenções familiares e nem por isso foi poupada das tarefas diárias desde sua infância. Logo que aprendeu a fazer contas foi incumbida pela mãe de vender os doces caseiros aos clientes do restaurante. Caracterizada de portuguesinha, ela promovia provas dos doces e falava sobre cada um.
Sua desenvoltura, que tanto encantava os clientes, se dava por conhecimento, pois participava de todo processo de produção das receitas. Os doces (em compotas ou em barras) e licores, eram feitos das frutas da propriedade: figo, peras, pêssegos, bananas... No final do dia, a matriarca fechava o caixa junto com Luciana, numa demonstração do quanto a atividade era importante.
E a personalidade de Luciana foi sendo forjada pela educação severa, que exigia sua participação nas tarefas do dia a dia. E serviço tinha de sobra. A mãe criava galinhas e cuidava do plantio de morango, da horta e do pomar.
Luciana se envolvia em todas as atividades, incluindo os problemas do restaurante. A água que servia a casa era de nascente, mas encanada pela própria família. “Às vezes aconteciam problemas com o abastecimento de água, assim como de energia (recém-instalada) que faltava com frequência, comprometendo o bom funcionamento do restaurante. Estas situações nos exigiam mais trabalho e muita atenção. Era muita responsabilidade desde muito cedo”.
De início o Restaurante funcionava na cozinha da casa da família, que só poupou o quarto do casal ao transformar tudo em ambiente para atender aos clientes. A matriarca, natural da localidade, também foi criada no trabalho e pegou com facilidade as receitas que o marido português ensinou.
“Meu pai veio de Portugal, desembarcou no Rio de Janeiro e ficou com a irmã dele. Ele trabalhava no mercado e vendia frangos pendurados na vara no Morro do Querosene. Depois veio para o Espírito Santo e junto com meu tio Júlio, passou a produzir mudas de árvores em São Floriano, onde conheceu minha mãe e se casou com ela. Minha mãe era disposta e pegava rápido as receitas, desenvolvendo logo os pratos”.
Luciana se recorda que os pais serviam marmitas para os operários que estavam começando as obras da BR 262. Os pratos especiais eram feitos para os amigos, em visitas nos finais de semana, que com o passar do tempo sugeriram o preparo em forma comercial. Assim nasceu o Restaurante Lusitânia, oficialmente reconhecido em 1965.
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Com 31 acomodações, entre apartamentos e chalés, a Pousada Lusitânia conta com piscina aquecida e com
hidromassagem, sauna, sala de jogos, sala de TV, espaço com redes, pergolados,
playground e toda exuberância da natureza em seu entorno.
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“Eu era tão pequena e achava tudo tão grande, que não consigo hoje dimensionar o tamanho da vinha, assim como não sei dizer a quantidade de galinhas que minha mãe mantinha, que eram utilizadas no preparo do 'frango ao púcaro', prato muito pedido naquela época. Pedra Azul era um lugar distante de tudo, sem recursos da modernidade...”.
Luciana cresceu nesse ambiente cheio de natureza, sempre ao lado dos pais. A vinha era um lugar reservado aos momentos de alegria, ao lado do pai, um grande apreciador da leitura. “Meu pai não saia da vinha, que é uma cultura delicada e cheia de segredos. Tinha os períodos que adormecia para ressurgir cheia de folhas e depois de cachos de uva, ele produzia um bom vinho que era vendido no restaurante”.
Ancorada nessas memórias, Luciana sonha em refazer a vinha. “Cultivo novos projetos, tendo como recordações esses momentos de prazer ao lado de meu pai. Ele fazia um vinho maravilhoso. Era um homem tranquilo que, apesar de vivido para a família, sempre encontrou um jeito de espalhar o bem. Anos depois de sua morte, ainda ouço histórias de pessoas que dão conta do rastro de bondade que ele deixou”.