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Ecoar nas Montanhas: um projeto que nasceu da intuição feminina

Ecoar nas Montanhas: um projeto que nasceu da intuição feminina

Agnes Lang cria iniciativa para dar função social ao terreno que herdou do pai em Pedra Azul inspirada num provérbio bíblico

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Já fazia algum tempo que Agnes Lang estava incomodada com o fato de o terreno herdado do pai estar improdutivo. Ao ler o provérbio que fala sobre a terra dos preguiçosos, ela sentiu que chegava a hora de fazer frutificar os bens sob sua tutela, mas ainda não sabia como.

Não que a vida de Agnes estivesse parada, museóloga e professora por formação e empreendedora por opção, ela tinha como atividades principais a museologia, a docência no ensino superior e a consultoria em Mary Kay. Com a pandemia, tanto o museu como a faculdade tornaram remotos os trabalhos e ela parou de fazer as consultorias (só fazia vendas sem demonstrações) e percebeu que outras decisões precisavam ser tomadas.

Outro fato que mexeu com ela foi a prenhes de sua cachorra, que teve dez filhotes. “E agora, o que eu vou fazer com esses dez cachorrinhos?”, perguntou-se antes de anunciar e conseguir os interessados. No entanto, antes de fazer a entrega, nove morreram. “Resolvi ficar com o único restante e enxerguei o fato como um outro sinal de que eu precisava promover mudanças em minha vida. Sempre acreditei em Deus e nos sinais que Ele nos envia”.

Natural de Niterói, Rio de Janeiro, Agnes decidiu viver no Espírito Santo para ser feliz. Também resolveu parar de lecionar 25 horas em escola pública e tomou outras decisões pelo mesmo motivo. E foi em respeito a esse seu perfil desafiador que ela fez um planejamento onde o primeiro passo seria recuperar aquela casinha linda, cheia de memórias afetivas.

Nesse período de calmaria, Agnes se dedicou a reformar a casa onde passou as férias de janeiro e de julho durante a vida toda. E tudo começa por aí, com alugueis de finais de semana e de feriados prolongados, ela inicia o seu projeto de cunho ecológico e educativo.

A casa, que fica no centro de um terreno de aproximadamente dois mil metros quadrados, e estrategicamente localizado perto do famoso “Quadrado de São Paulinho”, na Rota do Lagarto.  Com lareira, janelas românticas e muito verde, a casa está toda equipada e com enxoval completo capaz de seduzir qualquer um que deseja curtir o frescor das montanhas.

Mas a casa só é o início de um negócio sustentável, pois nesse período, devido à perda dos filhotinhos e pelos seus princípios de respeito aos animais, Agnes decidiu se tornar vegana. Ela quer produzir alimentos, reflorestar parte de seu terreno e assim atrair animais silvestres que irão perceber que aquele é um paraíso ecológico também para eles. “Com o provérbio na cabeça, resolvi que iria reflorestar na beira da nascente que alimenta o lago. Na parte mais limpa da propriedade vou plantar ervas, fazer a compostagem dos resíduos orgânicos e um minhocário, além de diversas outras ideias que estão em minha cabeça”. Em volta da casa, ela vai plantar mais árvores frutíferas para agradar tanto as pessoas que locarem a casa como animais silvestres que se alimentam da nossa flora. Agnes conta que com as plantas aprendeu ainda mais sobre o tempo de Deus e que aproveita esses ensinamentos para a vida, sobre aguardar o momento certo para a plantação e para a colheita, o cuidado em cada etapa, sem excesso ou falta. Um grande parceiro nessa empreitada é o biólogo Helimar Rabello. “O projeto é grande e a longo prazo. Por isso, começando agora, quero ter vida para ver tudo funcionando”.

 

 

Parcerias e soma de esforços

Para dar forma ao projeto, Agnes conversou com amigos sobre sua ideia e logo atraiu pessoas interessadas em agregar seus conhecimentos. “Um ex-aluno meu, hoje estudante da Universidade Federal de Viçosa, se prontificou a vir com a equipe dele de trabalho da universidade para fazer um estudo do terreno para que eu possa trabalhar a terra com melhor conhecimento de suas potencialidades”.

Além da parte estritamente ligada à natureza, Agnes está buscando parceiros para fazer investimento em negócios que tenham a ver com a sua filosofia de vida. E já conta com propostas em mãos. 

Com todos esses circuitos naturais prontos, a ideia é receber crianças em idade escolar para conhecer as atividades ecológicas do “Ecoar nas Montanhas”. E Agnes explica que por essa proposta de multiplicação é que o projeto ganhou este nome. “Quero que essa ideia inspire outras pessoas a melhorarem sua relação com a natureza e que elas descubram que há uma forma de viver a respeitando. Quero encontrar pessoas que 'ecoem'!”.

Sabedora que este projeto ecológico faz parte de um sonho com muitas etapas, ela começou tudo pela reforma da casa para aluguel (que já está fazendo sucesso). “Minha experiência como diretora da Mary Kay me preparou para esse novo momento da minha vida. Sempre tive medo de fazer investimentos e uma frase da minha diretora Mary Kay, Juliana Malfacini, me inspirou muito: 'Se estiver com medo, vai com medo mesmo'. E outra frase que sempre ouvia da nossa nacional era 'Você pisa e Deus coloca o chão'. E foi por conta disso que decidi acreditar em todo potencial que encontrei tanto em mim, na minha capacidade, quanto, no da região. E foi maravilhoso descobrir que quando expomos nossos sonhos descobrimos quem nós somos diante de nós mesmos e diante dos outros e quanto as pessoas querem fazer parte também, contribuindo com o seu melhor”.

Agnes conseguiu a admiração de muitas pessoas, que se apaixonaram pelo seu projeto. “Fui construindo uma rede de pessoas, que entenderam que se eu vou bem, elas também vão pelo mesmo caminho. Quando fui fazer compras para equipar a casa eu disse que gostaria que as pessoas se sentissem acolhidas e apaixonadas pelo lugar. E assim aconteceu, pelo que posso concluir com o retorno de meus hóspedes que passaram por lá em dezembro, janeiro e fevereiro. Também fui aprimorando a casa de acordo com cada comentário recebido”.

Tendo a casa pronta para ser alugada como primeiro degrau, Agnes quer subir cada um de braços dados com os parceiros que se proponham a contribuir com seu projeto. 

 

A casa e as memórias afetivas

Tudo na casa foi reformado e reorganizado para que os hóspedes se sintam acolhidos e envolvidos pela aura de amor que continua naquele espaço. Lá estão as principais memórias afetivas da infância e adolescência de Agnes.   “Cuido desse espaço com muito amor e é isso que eu quero que as pessoas sintam ao se hospedarem na casa”.

Além da casa de três quartos, sendo uma suíte, uma varanda frontal com uma mesa e bancos de madeira é uma opção de ambiente para socialização. Uma rede completa esse ambiente. Uma área gourmet, independente, oferece ao hóspede a experiência de cozinhar no fogão a lenha e fazer um churrasco na brasa. Mesas com cadeiras e redes acomodam quem prefere essa 'cozinha rústica'.

Uma lareira no centro da sala completa o charme da casa. “Deixamos lenha seca e cortada à disposição e é só acender a lareira para completar o clima de montanha. Mesmo no verão, basta anoitecer para a temperatura cair”, diz Agnes.

O entorno da casa é de puro verde: jardim, árvores floríferas e frutíferas e um lago na parte frontal, onde dois gansos, dois franguinhos d'água e duas saracuras fazem a alegria da criançada. Uma bombona com milho guarda o alimento para os bichinhos que costumam rodear a casa quando sentem fome.

Construída no início da década de 1970 por uma empresa de serviços industriais, a casa era destinada ao descanso de funcionários graduados da empresa. Paul Lang (que já tinha propriedade nas redondezas), a comprou e a destinou para acolhimento dos filhos, que também moravam fora, dentre eles Peter, o pai de Agnes. 

As viagens da família de Agnes para Pedra Azul eram longas e eles passavam todas as férias de início e do meio do ano na região. “Minha primeira viagem foi com um mês de idade, em 1976”.

O pai herdou do avô as propriedades, que mais tarde foram divididas entre seus quatro filhos, dentre eles Agnes, a mais nova. “Apesar do desejo dele morar aqui, minha mãe quis continuar em Niterói para que a gente estudasse e, por ironia do destino, nós quatro optamos por morar em Pedra Azul depois de concluído os estudos. Anos mais tarde, meus pais vieram também”. 

 

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