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Do café no campo ao café na capital capixaba

Do café no campo ao café na capital capixaba

No comando do Sicoob Café Hall, Ana Venturim se conecta ainda mais com o mundo da gastronomia

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Neste final de maio está completando um ano que a descendente do primeiro imigrante a chegar em Venda Nova, Ana Venturim Porto fez uma mudança radical em sua vida. A vendanovense, junto com o esposo Nestor Porto, mudou-se para Vitória  para comandar um projeto.

A ideia de mudança passava pela cabeça do casal no formato de pequenas  cafeterias com a marca Venturim, considerando que a família produz café reconhecidamente de qualidade e que até já recebeu prêmios nacionais. Ao circular pelo meio coorporativo de Vitória, ficou sabendo que o Sicoob estava querendo um parceiro para coordenar o hoje Sicoob Café Hall, um espaço multifuncional para negócios que inclui um café.

Ana se recorda que foi conversar com Cleto Venturim, presidente do Sicoob Sul-Serrano, que por ser seu irmão, quis pontuar e refletir bem como poderia repercutir o resultado dessa parceria, tendo em vista que era algo muito novo. O entusiasmo pé no chão de Ana e do esposo resultou no sim.

O casal foi para a capital no final de maio, pois o novo processo de gestão da sucessão dos negócios que eles participam em Venda Nova estava seguindo como o planejado. Ela e Nestor já tinham claros o desejo de um novo projeto de vida com expansão nos negócios, com a ideia de fazer uma rede de cafeterias na Grande Vitória.

O novo empreendimento de nome Make a Coffee está numa agencia do Sicoob, num conceito muito moderno de local de negócios. São 400 metros quadrados na Reta da Penha, no térreo do prédio da Findes  e conta com uma cafeteria, bistrô, espaço de treinamento e para eventos coorporativos, happy hour, lançamento de livros e outras ações promovidas por pessoas ligadas ao Sicoob no Espírito Santo. E é nesse ambiente que ela passou a circular, receber conhecidos e conhecer pessoas novas.

Ocupar essa nova função em sua vida é resultado de algumas convergências e, como foi dito, no centro de tudo está o que o casal já estava procurando e a oportunidade surgida. “Quinze dias antes de descobrir essa possibilidade de parceria, eu dizia que estava disposta a empreender mas não a morar em Vitória. Mas a chance que acenou para mim na vida me levou a morar na cidade menos provável em minha cabeça. Eu tinha muito medo da vida em cidade grande e bastou eu me mudar para esquecer de tudo isso. Estou apaixonada por Vitoria”.

Ao avaliar sua rotina diária, Ana diz que está tão adaptada que há momentos que tem o sentimento de que nasceu e cresceu em Vitória. “Tenho saudades, adoro Venda Nova e volto, com prazer, a morar em minha cidade se a vida me levar. No entanto, esta experiência tem se mostrando transformadora para mim”.

Mudar-se para Vitória deu a Ana uma outra compreensão sobre sua figura, ao descobrir o quanto é querida pelas pessoas que moram em Venda Nova e o quão grande é a rede de amizades que fez também fora de sua cidade. “Encontro com muitas pessoas conhecidas por aqui. Em Vitória, percebo receptividade e calor humano. Eu descobri o quanto eu já era conhecida e respeitada. Amigos feitos ao longo de minha atuação profissional, pois minhas atividades me levaram a conhecer muita gente e muitas delas se tornaram próximas”.

Para desfrutar de um estilo de vida diferente, principalmente com o que uma cidade litorânea pode oferecer, Ana levanta todos os dias às 5h30 para fazer canoagem ou uma caminhada na praia, descalça. Ela e Nestor colocaram estas como as primeiras obrigações do dia, o que garante energia e vigor.

Depois que toma o café da manhã o casal  vai para a cafeteria, onde fica normalmente das 8 às 19 horas. “Ficamos na cafeteria durante a maior parte do tempo pois existe a expectativa das pessoas em nos encontrarem lá, para bater um papo, explicar sobre o café e fazer conexões e negócios”, diz Ana.  “Também aqui, recebo turistas para fazer macarrão comigo (turismo de experiência) nos moldes rudimentares da família italiana. Imagina o que é uma pessoa, na avenida mais capitalista do Estado, poder parar para fazer macarrão com uma descendente de italianos’.

Nessa nova dinâmica profissional e pessoal, ela apresenta 'gente que interessa para quem interessa'. “Percebi que em Vitória todo mundo conhece todo mundo. Muita gente veio de municípios do interior e as pessoas do interior adoram estas referências, gostam de encontrar conhecidos”.

Normalmente, Ana e Nestor almoçam no trabalho. Ana, que desde 2015 pode assumir o nome de chef (pois criou produtos e receitas), assina o cardápio do bistrô. Ela elabora os pratos, procura os produtos e desenvolve as receitas de saladas, proteínas e massas no bistrô. 

 

Ana faz questão de pontuar que ama trabalhar em equipe

e que no Café Hall também já “se achou” neste quesito.

 

Têm pessoas que passam o dia inteiro no Sicoob Café Hall, pois contam com disponibilidade de internet, estacionamento e com a possibilidade de tomar o café da manhã, almoçar e tomar o café da tarde. O ambiente é lindo e agradável e a arquiteta responsável, Josiane, chegou a ganhar prêmio nacional pelo projeto. Lembra espaços de grandes centros, como São Paulo, com sala para  lives em um cantinho especialmente montado para esta finalidade.

Inaugurado no início de 2020, foi projetado para possibilitar eventos, negócios, treinamentos, dentre outros movimentos corporativos. E o espaço para lives veio com as novas demandas ocasionadas pela pandemia. 

Em maio de 2021, em plena pandemia, o casal assumiu o empreendimento e logo de início adotou as estratégias de reaproximação com o pessoal do prédio da Findes e das agências do Sicoob da Grande Vitória (ligadas ao Sul-Serrano), que ainda não via o Sicoob Café Hall como espaço deles.

Ana explica que foi um processo para Cleto enxergar que ela e Nestor tinham um perfil ideal para tocar esse projeto e construir essa conexão com esse público do Sicoob. “O pessoal do Sicoob, mais de 400 pessoas compondo o quadro funcional, não pensava no Sicoob Café Hall como deles. Atualmente todos os dias têm funcionários almoçando ou tomando café no bistrô, assim como o pessoal do prédio da Findes. É um ponto de encontro seguro, onde se pode usar equipamentos de trabalho, como notebooks e celulares, com segurança, e fazer reuniões, entrevistas e exposições”.

 

Identidade

A expectativa de encontrar a polenta, as massas, o socol, dentre outros itens ícones da gastronomia de Venda Nova tem sido outro fator de conexão entre essa população migratória do interior com o Café Hall. “A minha facilidade de ir e vir entre Vitória e Venda Nova faz com que vários produtos do município estejam disponibilizados aqui para venda. Para mim é uma honra representar a cidade”.

Ana explica que o espaço para exposição e venda é aberto para os produtos do agro e da indústria de todo território capixaba. “Os de Venda nova estão mais presentes pela facilidade de repor os produtos, que sempre estão frescos. De acordo com a disponibilidade de os municípios organizarem canais de transporte, os produtores ou donos de agroindústrias podem e devem usufruir deste espaço”.

Cafés do Norte, do Caparaó e de Cachoeiro, além dos de Venda Nova, fazem parte deste rol de produtos disponibilizados. O público pode 'experienciar' várias formas de extração da bebida e comprarem os grãos de sua preferência. Como estudiosa e integrante de uma família de produtores de café, Ana sabe bem apresentar e falar das características e diferenciais de cada produção.

 

E ela tá diferente

Desde que se mudou para Vitória, Ana experimentou outras reviravoltas em sua vida e isso vem sendo percebido pelos amigos, que fazem observações em tom de elogio. As temperaturas mais altas exigiram (ou possibilitaram) uma nova forma de se vestir e, na onda da transformação, ela deixou os cabelos mais fluidos.

Esse colorido trouxe para fora o que sempre habitou por dentro de Ana, o que reflete no olhar e no sorrido. Todos estão notando.

Para Ana essa transformação se dá num novo ambiente, onde a valorização do feminino está fluindo melhor. “A mulher italiana teve que ser forte para dar conta, o que nos tirou o olhar para o nosso feminino. Nós, as descendentes, ainda não estamos usufruindo como merecemos o lugar que nossas antepassadas construíram.  Acredito que esta mudança está em curso”.

Atualmente Ana participa de grupo de mulheres na canoagem, nas aulas de italiano, na terapia e nos negócios. “Estou me deixando levar pela energia feminina e está sendo especular”. 

As idas e vindas entre as duas cidades mantêm Ana ligada com sua cidade natal, onde mora a maioria de seus familiares. Seu filho mais velho, Gabriel, está cursando medicina em Belo Horizonte e o mais novo, Enzo, faz cursinho e mora em casa, em Vitória.

Ana se reconhece envolvida num projeto em construção e admite que está cada vez mais se descobrindo conectada com a cozinha. Ela, que já criou a receitas de várias massas e biscoitos de café ao longo de sua jornada em Venda Nova, faz o curso gastronomia na Universidade de Vila Velha. “Ainda não temos o retorno financeiro no Sicoob Café Hall e tenho consciência de que o que estamos construindo como pessoas vai muito além de um negócio. É uma descoberta interior que tenho o privilégio de vivenciar. Estou aberta para aquilo que a vida pode me oferecer e se estiver em meu destino voltar para Venda Nova eu o farei com imensa alegria. Eu amo Venda Nova e isso nunca vai mudar”.

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