Certificação: Novo modelo de contratualização desafia hospitais filantrópicos
O objetivo principal é a expansão do número de leitos do hospital
![]() |
No novo modelo de contrato, o hospital passa a ser remunerado pelo desempenho, medido a partir de indicadores que avaliam a qualidade no atendimento, a disponibilidade do serviço e a percepção do usuário em relação ao serviço. Segundo Esla Lessa Borba, a luta da direção em busca de excelência ficou ainda mais acelerada.
“Um dos métodos utilizado para garantir o alcance de um nível superior de qualidade hospitalar é uma avaliação e certificação que busca, por meio de padrões e requisitos previamente definidos, promover a qualidade e a segurança da assistência no setor de saúde”. Para alcançar essa certificação, Esla explica que o hospital precisa, comprovadamente, atender aos padrões pré-definidos e reconhecidos em níveis nacional e internacional. 'Neste contrato, os hospitais têm a obrigação apresentar quadrimestralmente, os planos de ação que comprovem a execução de etapas para solicitar uma auditoria e conquistar a certificação no prazo de até 18 meses após a assinatura do contrato’’.
Somente a título de ilustração do cenário, Esla informa que dos cerca de 6.800 hospitais brasileiros, apenas 447 já foram certificados nessa metodologia. “Isso significa que o novo modelo de contratualização do Estado é ousado e desafia os hospitais filantrópicos a investirem em uma gestão profissional e a aumentarem consideravelmente seus padrões de qualidade. Atualmente, cerca de apenas 6,5% dos hospitais são certificados no Brasil com esse tipo de metodologia”.
Para Esla, esse número baixo ocorre por dois pontos principais: a falta de maturidade dos hospitais sobre o conceito e o fato de o público em geral não conhecer as vantagens de se ter um hospital com esse tipo de certificação. “Existem no Brasil, comprovadamente, poucas pessoas capacitadas e instituições de saúde conceituadas para colocarem em prática a qualidade e segurança do paciente. Essa certificação só é alcançada com gestão da qualidade, garantia de métodos que aumentam a segurança do paciente e gerenciamento de risco. Atualmente existem poucos líderes no mercado que têm um entendimento claro do que é isso. O Espírito Santo, por exemplo, tem cerca de 120 hospitais, destes, 36 são hospitais filantrópicos. Apenas nove hospitais no Estado têm esse selo”.
“Quanto à falta de informação à população, Esla fala das dificuldades. “Se esse tipo de certificação não está sendo praticada pela maioria dos hospitais e não é dominada por profissionais de saúde, fica muito mais difícil chegar ao conhecimento da população. Nos demais países do mundo, ter essas certificações é um diferencial. Em muitos países europeus, nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, os pacientes entram na internet e olham se o hospital está certificado ou não antes de saírem de casa”.
Na avaliação de Esla, a dúvida será um avanço sem precedentes na qualificação dos hospitais filantrópicos que assinaram esse novo modelo de contrato no Espírito Santo. “O desafio está lançado como meta contratual para cada um desses hospitais, no entanto, alcançar esse resultado, vai depender da gestão de cada um’’.
As diretrizes traçadas pela direção geral focam no planejamento estratégico e no cumprimento dos objetivos institucionais, valorizando os pilares:
![]() |
Linha de cuidado: são as ações e serviços que devem ser desenvolvidos e os fluxos assistenciais que devem ser garantidos aos pacientes, de acordo com suas necessidades.
Diretriz assistencial: é a descrição das principais práticas, reconhecidas na literatura médica disponível, relativas a uma condição clínica ou procedimento que auxilia na melhor conduta médica, melhorando o resultado do cuidado e otimizando a utilização dos recursos disponíveis.
Planejamento terapêutico: conjunto de propostas terapêuticas pensadas a partir da avaliação inicial do caso, com enfoque multiprofissional e interdisciplinar.
Assistência no tempo adequado: atendimento sem espera, sem atrasos nos prazos previstos.
Eficiência: evitar desperdícios, mau uso de equipamentos, materiais, medicamentos, insumos e serviços em geral.
Equidade: prover cuidado sem diferenças, com respeito à igualdade de direito de cada um.
Efetividade: uso da melhor evidência científica, com uso responsável de recursos disponíveis.
Segurança do paciente: evitar danos associado ao cuidado / assistência.
O HPM assumiu o protagonismo da região Sul-Serrana
![]() |
Devido ao novo conceito de contratualização, em 2022 o Hospital acelerou as ações que já vinham sendo tomadas para qualificar cada vez mais a assistência ao paciente
A gestão hospitalar é sempre desafiadora. Especialmente nos hospitais filantrópicos, visto que são instituições privadas, porém sem fins lucrativos, que possuem contrato com o sistema público para atendimento a pacientes do SUS. Pelo menos 60% dos atendimentos oferecidos pelos filantrópicos são destinados, obrigatoriamente, ao SUS. Os demais podem ser direcionados a planos de saúde e pacientes particulares. Equilibrar a balança financeira de atendimento público-privado é o exercício diário dos hospitais filantrópicos, fundamentais para o funcionamento do sistema público. Manter serviços, qualidade no atendimento e equilíbrio das contas com a eterna defasagem da tabela SUS, são os grandes desafios.
No Hospital Padre Máximo, assim como na maioria dos hospitais filantrópicos, para funções administrativas e gestão hospitalar são contratados profissionais especializados, com autonomia de ação, mas supervisionados pelo Conselho Administrativo, na figura do presidente do Conselho. Seus resultados são também monitorados pelo Conselho Fiscal. É esse entrosamento e comprometimento dos gestores, em todos os níveis da administração, que possibilitam as tomadas de decisões que mantêm a instituição em crescimento.
O Hospital Padre Máximo vem passando por um período de transição, que já dura cerca de cinco anos, desde que a instituição assumiu o protagonismo da Região Sul-Serrana Capixaba, na realização de internações em leito de terapia intensiva e procedimentos com maior complexidade em sua estrutura de Centro Cirúrgico, tornando-se, de fato, referência regional na prestação de serviços ao cidadão, tanto na rede SUS quanto na rede de convênios e particular.
Em um novo conceito de contratualização, o hospital acelerou, no ano de 2022, as ações que já vinham sendo tomadas para qualificar cada vez mais a assistência ao paciente, contando, para tanto, com uma equipe capacitada, envolvida e motivada pela melhoria contínua. A partir da assinatura do novo contrato, as metas passaram a ser ampliadas, acompanhadas de perto e monitoradas, pois, no prazo de 18 meses, o hospital precisará passar por uma auditoria externa, que irá avaliar todos os seis processos de trabalho, podendo receber o selo de hospital certificado ou não certificado, dentro dos requisitos e critérios definidos pela metodologia. Importante ressaltar que a não certificação implica em perda de pontos, o que reflete em perdas financeiras importantes para a manutenção do contrato nos novos moldes.
O Hospital está em um movimento de implantação de serviços e aperfeiçoamento de atividades, como a ampliação do Núcleo de Qualidade e Segurança do Paciente, implantação e fortalecimento dos pilares de governança clínica, diretamente com a equipe médica da entidade, além de treinamentos sobre o aperfeiçoamento da gestão da qualidade institucional. À medida que conseguimos evoluir nesse movimento, vamos cumprindo passo-a-passo a execução do planejamento, para que, ao final, possamos solicitar uma auditoria externa para avaliar nossos processos e, com fé e muito esforço conjunto, conseguiremos conquistar a certificação.
Esla Lessa Borba, diretora geral do HPM