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Centenário da Escola Domingos Perim: Aleida lecionou no tempo da escola sem carteiras

Centenário da Escola Domingos Perim: Aleida lecionou no tempo da escola sem carteiras

E os alunos escreviam numa tabuinha e precisavam levar um caixote ou qualquer outra coisa para não terem que sentar no chão

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Com apenas 16 anos, Aleida Rosa já era professora formada na cidade de Castelo. Ela integrava a prole do fotógrafo Daniel Rosa, famoso na região por registrar os noivos no dia do casamento e também outros momentos especiais da vida.

Devido à sua pouca idade, o pai não permitiu que Aleida trabalhasse fora e então ela passou a ajuda-lo no laboratório de fotografia. Sua irmã Alcéia lecionava em Venda Nova, mas teve que abandonar o ofício devido a problemas de saúde de seu filho. Aleida, então com 18 anos, passou a exercer a profissão ao substitui-la. Nos registros da escola constam que ela veio e passou a atuar como segunda professora.

Aleida se recorda que houve ainda uma professora antes dela, mas não se lembra o nome. Sabe que ela morava na casa de Vicente Perim, bem próximo à Escola. “Eu era normalista formada e meu pai era muito conhecido. No entanto, o prefeito Ermínio (de Castelo) na época insistiu muito e disse que aqui todos eram conhecidos e de confiança”.

Assim Aleida com 18 anos se mudou para lecionar em Venda Nova. Ela trouxe na bolsa muito material de estudo e planos de aula, mas jamais imaginou que enfrentaria tanto frio. “A escola era muito pobre. Quem quisesse sentar teria que levar uma pedra, um caixote ou qualquer outra coisa para não ter que sentar no chão. E os alunos escreviam numa tabuinha. O chão de taboa de madeira era cheio de gretas, por onde passava muito frio. Quando acontecia um temporal, era de dar medo, mas o que a gente ia fazer, não é?”

Uma certa vez, quando um inspetor do Estado esteve em Venda Nova, Aleida disse a ele que era um grande sacrifício estudar naquela escola velha, enquanto tinha uma outra nova construída e sem uso. Ela se recorda que a escola tinha sido construída no terreno da família Perim, mas parece que o Estado deixou de cumprir algum acordo. Sendo assim os Perim colocaram a família de um vaqueiro para morar na residência anexa (onde deveria morar a professora). O inspetor acertou com Deolindo Perim e tudo se resolveu. “Era muito frio e os Perim colocaram as vacas para dormir no pátio. Todos os dias eu tinha que chegar e lavar a calçada”, conta sobre sua rotina na nova escola.

Uma das grandes dificuldades, lembra Aleida, era esquentar as mãos na época do frio. “A gente não tinha luvas e também sentia muito frio nas pernas, mas não usávamos calças, pois as pessoas questionariam: 'Será que ela é moça certa?'. Então era só mesmo um casaco sobre o vestido”.

As aulas começavam em torno das 7 horas e iam até o meio dia e, Aleida morava na casa de sua tia Alceia (cujo esposo... trabalhava para a família Perim), onde dividia o quarto com a sobrinha Virgínea (que também se tornou professora). Ela acordava bem cedo, ajudava um pouco a fazer os serviços domésticos e depois ia para a Escola, que ficava muito próxima e por isso necessitava caminhar pouco. Ao contrário de muitos alunos, que faziam longas caminhadas até chegar na escola.

Todos os dias Aleida levava muitas atividades para fazer em casa, como os cadernos dos estudantes com exercícios, que só passavam sob o seu olhar depois que ela terminasse de ajudar nos serviços da casa. “Eu corrigia tudo e sempre escrevia uma avaliação com palavras de estímulo: 'muito bem', 'continue assim'...  Tentava terminar tudo até as 10 horas da noite, horário que a energia elétrica era desligada. Quando eu não dava conta e ultrapassava esse horário, acendia o lampião”.

Mais ou menos quando tinha 20 anos Aleida começou a namorar Altino Zulcão, que frequentava a casa da tia. “Eu não saia de casa e só namorava na sala na presença de todos os meninos, meus primos. Minha tia era responsável por mim e das poucas vezes que me deixavam sair era com a comadre Rosa Pagotto.

Aleida casou-se com Altino, às 14 horas do dia 28 de janeiro de 1956, na cidade dela, em Castelo. Ela foi um dia antes para se preparar. Depois da cerimônia, ela e o noivo enfrentaram uma viagem na boleia do caminhão do tio para festejar o enlace em Venda Nova. A festa teve muitos doces e um baile que foi até as 2 horas da madrugada.

“Naquela época não era tão quente. Vesti meu vestido, mas vim sem ele para festejar em Venda Nova, pois eu tive que emprestar para minha irmã Alda. Ela era conhecida por Aldinha e se casou com Rubens Sena, conhecido em Castelo como Rubinho da Papelaria”.

O casal teve sete filhos (cinco homens e duas mulheres) e sete netos (cinco homens e duas mulheres).  Altino faleceu em 2012.  Hoje a rotina de Aleida, que está aposentada, é descer do apartamento do prédio da família, dar uma caminhada. Ela reza o terço todos os dias e também faz suas leituras, como de costume.

Em 1952, a turma da professora Aleida Rosa Zulcão separadas por grupos de meninos e meninas. Os meninos: Carlinhos Rosa Marques (1), José Sossai (2), José Breda (3), Alfredo Sossai (4), Everaldo Zandonadi (5), Celso Altoé (6), João Elvécio Sossai (7), Osvaldo Sossai (8), Nelson Briosqui (9), Nilson Delpupo (10), Vitorino Vinco (11), Antônio Breda (12), Leonardo Tonoli (13), Anselmo Filete (14), Anacleto Brioschi (15), Zaldino Brioschi (16), Gilson Altoé (17), Gelasio Delpupo (18), Tirso Altoé (19) e Danilo Perim (20). As meninas: Iná Pimenta (1), Neida Ferreira (2), Jane Filete (3), Elza Maria Brioschi (4), Ana Lourdes Caliman (5), Terezinha Breda (6), Edina Filete (7), Izabel Betine (8), Ermides Brioschi (9), Ancélia Filete (10), Tarsila Brioschi (11), Zeuda Pimenta (12), Nair da Silva (13), Zenaide Delpupo, Jovina Zandonade (14), Maria de Lourdes Sossai (15) e Áurea Brioschi (16).

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