Centenário da Escola Domingos Perim
Protagonismo dos estudantes está no centro da formação educacional
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Esse ano começou diferente para toda a equipe pedagógica e para os alunos da EEEF Domingos Perim, que hoje funciona em tempo integral: os próprios estudantes, os chamados ‘Alunos Acolhedores’, se organizaram para receber os colegas e os professores, apresentando a dinâmica de sala de aula. Isso tudo de forma duplicada, considerando que o sistema de alternância de aulas presenciais e online dividiu as turmas em dois blocos para atender o distanciamento adequado entre os alunos e servidores, previsto no Plano Estratégico de Prevenção contra a covid-19.
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Para entender esse cenário é preciso retroagir ao início do ano passado, quando a Domingos Perim passou a oferecer aula em sistema integral. Com pouco mais de um mês de aula veio a necessidade de distanciamento social, trazendo ainda mais mudanças para um esquema de estudo completamente novo. A Escola se transformou, mas não parou, se mantendo ativa junto com os estudantes.
No cerne dessa filosofia da nova escola está o estímulo ao protagonismo dos alunos, daí o acolhimento às ini-ciativas de vanguarda da garotada. Várias ações foram desenvolvidas durante 2020, dentre elas os preparativos para a comemoração do centenário. No final do ano, dentro do projeto de protagonismo, um grupo de estudantes do 6º ao 8º ano foi selecionado para serem os 'Alunos Acolhedores de 2021'.
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Observados a boa oralidade (para passar os comandos) e o espírito de liderança (diferente de ser popular), os alunos selecionados e os pedagogos passaram por um curso de formação na Secretaria de Estado da Educação- Sedu.
Em janeiro, esse grupo de alunos passou alguns dias na escola se preparando, estudando e planejando as atividades que seriam desenvolvidas em sala de aula. Nos dois primeiros dias, o grupo se encarregou de levar os alunos para a sala de aula, explicar a metodologia do ensino em tempo integral, os pilares da educação e os fundamentos do protagonismo dos estudantes.
Mesmo com todas essas ações feitas de forma duplicada, eles e os Alunos Acolhedores apresentaram o mesmo ânimo a cada repetição. Para receber os colegas, os alunos estenderam um 'tapete vermelho' e formaram uma ala de boas-vindas. Antes, o ritual foi feito para os professores, que foram recebidos com 'festa' pelo grupo.
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De acordo com a diretora, Maristela Broedel, todas as atividades foram promovidas com total autonomia dos alunos e sob a coordenação da pedagoga Adriane Ventorim Caliman e das coordenadoras, Débora Michela Falqueto Perim e Maria da Penha Gava, que ficam disponíveis nos bastidores. A diretora explica que os novatos saíram entendendo o que é e como funciona o sistema de tempo integral e as dinâmicas do dia a dia, da semana, do mês e do ano.
“Nesses dias de acolhimento, os alunos novatos ,tanto quanto os veteranos, expõem seus sonhos, o que seria seu projeto de vida. E o professor da disciplina projeto de vida vai trabalhar com ele dando enfoque ao que foi apresentado durante os quatro anos de estudo na Escola”, explica Maristela sobre uma das principais linhas condutoras do projeto de estudo da Escola.
A diretora ressalta que, além da oportunidade de interagir entre novatos e veteranos, o acolhimento delega responsabilidades. “Não há registro de bagunça. Eles estão se desenvolvendo com responsabilidade e nós, da Escola, ainda nos surpreendemos com o resultado tão bom de um trabalho que eles fazem sozinhos e com liderança”.
Documentário
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Com 35 minutos, um documentário é um dos grandes legados das comemorações dos 100 anos da Escola Domingos Perim. No ano passado, dentro da disciplina eletivas, foram discutidas ações comemorativas quando surgiu a ideia de que os alunos dessem presentes à escola pelo centenário.
“Quando a ideia de que eles escolhessem o presente foi lançada, o nono ano decidiu fazer um documentário. As outras turmas propuseram outras ações, que apresentaremos ao seu tempo. O mascote, está entre os ‘presentes’, e vamos trabalhar durante este ano”, disse a diretora.
A professora Joziane Avance Fiorese coordenou os trabalhos junto aos alunos, que tiveram parte dos meses de novembro e dezembro para colher os depoimentos. Eles já tinham feito uma live de experiência, como estavam no último ano de estudo na Escola, resolveram que voltariam este ano, na data do aniversário, para fazer uma segunda live, desta vez para lançar o documentário.
Joziane, que era a professora de eletivas desta turma, lembra que eles escolheram “vídeo” e ela os orientou que fosse feito na forma de um documentário. “Mostrei para eles exemplos de documentários e depois discutimos como poderíamos fazer o nosso. Deixei nas mãos deles o máximo possível. Mas fiquei monitorando em todas as aulas e dando sugestões.
“Foi mútuo emocionante, porque participei ao vivo dos bastidores e até chorei com as histórias contadas, mexeu muito com todos nós. Depois do vídeo feito, eu e a diretora Maristela ajudamos na edição para que ficasse bem objetivo e ao mesmo tempo emocionante. E eu acho que conseguimos porque todos que assistiram ao documentário elogiaram muito”, disse Joziane.
Conforme explicaram a diretora e a coordenadora escolar Débora Perim, como estava no final do ano, os alunos foram escolhendo as pessoas relacionadas à história da Escola mais próximas ou do relacionamento familiar para gravar os depoimentos. Devido ao tempo curto, os alunos não deram conta de incluir todas as personalidades importantes que passaram pela escola. “Eles ficaram empolgados e se dedicaram ao máximo, mas era final de ano e eles tinham outras atividades para cumprir. Hoje eles são nossos ex-alunos e fizeram questão de retornar para promover a live e fazer o lançamento do documentário”. A diretora disse ainda que a intenção do grupo era chamar os atuais alunos para repassarem a experiência, o que não foi possível devido ao momento da pandemia.
Gustavo, que agora é aluno do primeiro ano da Fioravante Caliman, lembra que quando foi proposto que os alunos dessem um presente ao centenário da escola, depois de muita conversa resolveram fazer um documentário e toda comunidade escolar e a sociedade apoiaram a ideia.
O grupo entrevistou 12 pessoas, dentre professores, ex-alunos e profissionais. “O que mais achei interessante foi o depoimento da Dona Irene Carnielli Zorzal, que é, até onde a gente sabe, a aluna com mais idade viva, com 101 anos na época da entrevista. Ela nasceu em 1919 e tem muita lucidez, relata momentos ao lado das amigas nos tempos de escola”.
Para Gustavo, a palavra que mais define esse trabalho é emoção. “Conhecemos pessoas que passaram por várias etapas da nossa escola, por diferentes anos... Poder ouvir e ver relatos dessas pessoas e perceber o quanto tudo mudou foi emocionante. Perceber a dedicação dos profissionais e professores que passaram pela escola para fazer com que a escola exercesse seu papel. E os alunos sempre se empenharam em aprender também”.
Gustavo pensa em transformar todo esse material coletado em um livro. “A comunidade vendanovense e a Escola Domingos Perim têm muita história e precisa ser escrita para não se perder. Assim como a gente está tendo contato com essas histórias tão bonitas, as próximas gerações também precisam e merecem ter conhecimento delas”.
A live para o lançamento do documentário de um século da Escola Domingos Perim trouxe música com a dupla de ex-alunos, Lara Minto Simões e Willian Masioli (Projeto Amici e do Grupo Toni Boni), e contou com a participação do ex-professor Higino Falchetto Júnior. Com dois cenários: o musical e o que lembra a mesa de um professor, ele encenou a chamada usando o primeiro livro de chamada usado no primeiro dia de aula, 4 de maio, conforme fez a primeira professora, Maria Dinorah Wyatt.
Uma grande adesão, com participação por mensagens, marcou a live centenária. A partir de então, o documentário passou a ficar disponível no canal do Yotube.
“A live foi uma forma simbólica de aniversário, uma forma de levar para as casas da comunidade escolar e dos ex-alunos nossa história, que é a história de todo mundo, na verdade”. Joziane observou ainda que muita gente acompanhou e relembrou histórias como alunos no chat ao vivo. “Foi um momento único para todos nós!”
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No dia 7 de abril a Escola Domingos Perim completou 100 de fundação. A escola que começou a funcionar quando Venda Nova pertencia a Cachoeiro de Itapemirim, continuou quando Castelo se desmembrou, depois Conceição do Castelo e, finalmente, a então antiga vila ganhou status de Município, se tornando Venda Nova do Imigrante.
Venda Nova, onde hoje é a parte central, tinha pouco mais que meia dúzia de casas (incluindo as de moradia e as de comércio) e, no meio desse vilarejo foi criada uma escola graças à visão empreendedora de uma comunidade que se uniu em prol da educação.
E que quando faltava um ano para a escola comemorar seu centenário, a pandemia a fez se adequar a uma nova realidade. Não bastasse estar diante do grande desafio em se transformar numa escola de tempo integral, que trouxe junto novas formas de construir conhecimento e de relacionar, o distanciamento social colocou uma lente de aumento sobre essa necessidade de transformação. À frente da locomotiva estão os alunos, apoiados pelos professores e todo corpo docente.