Célio Deps - Uma vida profissional e pessoal em Vila Betânea
Contador pioneiro no bairro, ele construiu sua vida profissional sem sair da vizinhança que o acolheu quando chegou em Venda Nova
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Quando há 42 anos Célio Deps Almeida chegou em Venda Nova, o bairro onde foi morar e trabalhar era pouco habitado. Fora do eixo da avenida principal de Vila Betânea (com a maioria dos terrenos vazios e com apenas algumas casas e pontos comerciais). “O entorno da avenida era praticamente formado de brejo. Tinha a Escola Liberal Zandonadi, onde nas proximidades contávamos com um campo de futebol e um depósito municipal”, recorda-se.
Célio comprou e veio assumir o escritório de contabilidade do tio dele. Já formado em técnico em contabilidade em Muniz Freire, onde já atuava profissionalmente, aceitou a proposta do tio Pedro Deps. Ele concluiu o curso técnico em 1972 e conseguiu o registro em 1975. “O técnico era o melhor que tínhamos na época e nos dava condições para atuar profissionalmente”.
Antes de passar a morar em Venda Nova, Célio já conhecia o lugar, pois numa ocasião anterior tinha vindo visitar familiares de suas professoras Irmã Dolores Caliman e Irmã Marta Caliman que moravam em Lavrinhas. “Elas me deram aulas no curso de admissão ao ginasial que fiz em Muniz Freire e também na Cruzada Eucarística. Na ocasião da visita, a passagem até Lavrinhas era uma espécie de trilha entre áreas de brejo”.
O escritório ficava na parte final da avenida ainda sem calçamento. O espaço era onde trabalhava durante o dia e o acolhia durante a noite. Assim foi durante um ano, quando ele alugou o sobrado da família Fazolo perto da então ponte de madeira, ocupando o ponto comercial com o escritório e passando a morar no apartamento, no andar superior. Um ano mais tarde se casou com sua conterrânea, a professora Maria Filomena Mucciacia Almeida, e o casal continuou no mesmo apartamento, de onde saiu quando construiu sua casa própria, no mesmo bairro.
O campinho de futebol e a Escola Liberal Zandonadi, da qual sua esposa foi diretora, foi um dos lugares onde Célio construiu relações, assim como em suas participações na vida política e no voluntariado do lugar. “O bairro mudou muito, cresceu, assim como Venda Nova. No entanto, minhas relações de afeto são as mesmas, pois escolhi esse lugar para trabalhar e viver”.
Célio lembra-se da Festa Folclórica, criada pela sua esposa quando era diretora da Liberal Zandonadi, e de como gostava de participar dos preparativos. Ele também fez parte do grupo que fundou a Apae de Venda Nova. Era ele, Eudes Perim, João Delpupo e Daniel Caliman. “Numa roda de conversa estávamos falando da necessidade de Venda Nova ter uma Apae. Nossas primeiras reuniões foram em uma sala da praça Dom Bosco, que tinha uma estrutura que abrigou a Apae nos primeiros anos. Fiz parte do processo inicial, Eudes foi o primeiro presidente e Daniel, o segundo. Depois, a Apae saiu do bairro”.
Sua amizade com Máximo Feitosa o fez mais próximo da vida política e, por essa razão, viu mais de perto os acontecimentos que levaram Venda Nova a se emancipar de Conceição do Castelo. “Lembro-me quando Nicolau Falchetto, então prefeito de Conceição, refez a demarcação de Venda Nova, incluindo o Camargo, devolvendo ao distrito a condição de se tornar Município”.
Célio também era próximo de padre Cleto Caliman e acompanhou o surgimento da Festa da Polenta e trabalhou como voluntário nos primeiros anos. “Fazia parte de um grupo formado pelos também contadores como José Fardim e Venâncio Figueiredo e por funcionários dos bancos de Venda Nova. A gente tomava conta da parte financeira, pois tínhamos hábito de lidar com números”.
Para Célio, o processo de Emancipação foi um dos momentos mais marcantes de sua vida em Venda Nova. Já o que mais o marcou como morador de Vila Betânea foi a enchente de 1985, quando a água entrou no seu escritório, em vários comércios e em muitas casas. “A chuva começou pelas 16 horas. Ao perceber que estava intensa demais achei prudente suspender tudo que podia e assim deu tempo de levantar todo meu material de trabalho, só molhando os móveis. Tenho uma mesa dessa época ainda e a uso para colocar água e café”.
Atualmente o escritório de Célio está instalado no terceiro endereço, também na Avenida Lorenzo Zandonadi, só que mais no começo. Um profissional experiente, que trabalhou nos livros escriturados manual, que preenchia formulários à máquina de escrever e que fazia cálculos em máquinas manuais, uma modernidade na época. Sua formação também permitiu que desse curso de datilografia em seu escritório, iniciando outros profissionais. “As aulas eram para dois alunos no máximo por vez, tendo em vista que meu espaço era limitado e eu precisava atuar sem prejuízo às minhas responsabilidades profissionais”, conta Célio, que também deu aula de contabilidade no curso técnico oferecido na Escola Fioravante Caliman durante uma época.
Os primeiros computadores vieram mais ou menos no ano de 1997/1998, no entanto a tecnologia era usada somente para preparar
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documentos, que precisavam ser levados pessoalmente na Coletoria Estadual, em Afonso Cláudio, ou na Receita Federal, em Cachoeiro. Nessa época, seu filho Renan, já o auxiliava no escritório como ajudante geral. A convivência com o ambiente contábil o influenciou a estudar ciências contábeis em Cachoeiro.
Essa fase de informatização do escritório teve o jovem à frente. Ele trabalhava durante o dia e estudava a noite, vindo a ficar de frente do escritório assim que se formou, em 2011 “Hoje meu filho praticamente assumiu o escritório e eu estou ao lado dele para apoiá-lo com minha experiência. Também cuido do relacionamento com os clientes, tendo em vista que a atividade profissional mudou bastante e precisamos estar mais ao lado deles, assessorando no que for possível. A legislação e as normas trabalhistas mudam toda hora e precisamos estar a par para orientá-los melhor”.
Com mudanças frequentes na economia, Célio se recorda do tempo em que a inflação estava em 80% ao mês, como no ano de 1988, e também das mudanças da moeda, cujo período de transição mais contundente foi a de 1994, quando o então ministro da economia Fernando Henrique Cardoso institui a URV, culminando no Real. “Foi um período difícil de trabalhar, tanto para as empresas como para os contadores”.
Quando Deps assumiu o escritório em Venda Nova, a carta de clientes era formada por pouco mais que uma dezena, o suficiente na época para a sua manutenção. “As despesas eram poucas e os processos, apesar de trabalhosos, eram mais simples. Hoje sempre precisamos investir em bons programas de computador, ter uma equipe maior e atender muitas outras exigências, o que torna tudo mais dispendioso. É que a realidade mudou e traz novas exigências”.
Ele se recorda que existia um supermercado na praça Dom Bosco, em sociedade da família Glícia (de Conceição do Castelo) com Jair Fazolo. “Eram poucos comércios e serviços em Vila Betânea, que hoje conta com uma grande diversidade. Eu praticamente não preciso sair do bairro para resolver minhas demandas e de minha família. Temos de tudo, do setor de alimentação, vestuário, saúde... Somos realmente privilegiados em viver com muita qualidade”.
O período inicial da vida de Célio em Venda Nova, em 1978, teve o apoio das famílias de Laurindo Mauro e de Agenor Mauro, que se tornaram segundas famílias e ele é eternamente grato pelo carinho. Também nos primeiros anos, Célio contou com muito apoio de Elói Falqueto, seu vizinho no segundo endereço. “Vila Betânea me acolheu e é o lugar onde eu também escolhi para continuar a morar”.
Quando comprou o lote onde construiu sua casa, a rua ainda nem existia. Ele confiou na palavra do saudoso Caetano Zandonadi, que mostrou para Célio onde mais ou menos ficaria o lote, indicando a provável localização. E o recibo? Um pedaço de papel com as medidas do lote foi o documento na época. “Trazemos na história ótimas relações de amizade, construídas na confiança, no trabalho e na afetividade. Que os novos moradores e empreendedores do bairro queiram continuar trabalhando por um lugar bom de se viver, como sempre foi e é Vila Betânea”.